Olivicultores sem expectativa de melhoria da campanha em relação ao ano anterior

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Qua, 26/04/2023 - 09:09


Seca e grandes oscilações de temperaturas provocaram quebras de 60%

A produção de azeite na última campanha teve quebras significativas, a ronda os 60%. As geradas em Abril do ano passado e as altas temperaturas aliadas à falta de água no Verão contribuíram para que a azeitona fosse pouca. No 9º Encontro de Cooperativas Olivícolas, que aconteceu na passada sexta-feira em Macedo de Cavaleiros, os produtores mostraram-se apreensivos com a nova campanha. Com as condições meteorológicas a continuarem assim, pouca esperança têm de que este ano a produção seja melhor do que o ano passado. Na Cooperativa Agrícola de Macedo de Cavaleiros, o ano passado foi o “a pior produção dos últimos 20 anos”. Tiveram apenas “40%” da produção dos anos anteriores, que por sinal foram “excelentes”, de acordo com o presidente. Luís Rodrigues receia que este ano o cenário não seja muito diferente. “Este ano vamos ver, porque isto está a ficar complicado, senão vier chuva brevemente. De certeza que uma óptima campanha não vamos ter”, afirmou. A Cooperativa Agrícola de Vila Flor também se queixa do mesmo. Por ano, em média, produzem 500 mil litros de azeite, o ano passado nem aos 200 mil chegaram. “O ano passado tivemos cerca de 37% de uma produção normal. Tivemos 190 mil litros de azeite. Foi um ano muito mau, houve muitos problemas no olival, tirando a produção de azeite. Tivemos uma floração muito má, tivemos um problema enorme de falta de água no solo e no fim da campanha a recolhermos a azeitona tivemos muita chuva”, referiu o presidente Hélder Teixeira, salientando que este ano, devido à falta de chuva, nos últimos meses, a floração vai ser também tardia, o que o deixa preocupado. Havendo pouca produção de azeite, já é de esperar que o preço suba, o que pode levar ao afastamento do consumidor.

Fazer charcas é “uma via-sacra”

O presidente da cooperativa de Vila Flor deixou bem claro de que o regadio ou a criação de charcas são essenciais para qualquer cultura agrícola, no entanto, é difícil que se tornem uma realidade. De acordo com Hélder Teixeira, “para se legalizar uma manutenção de água ou um sequestro de água é preciso fazer uma via-sacra muito grande, burocracia, pessoas que estão ligadas aos Ambiente, os labirintos da legislação”. “É muito complicado. Se eu quiser fazer uma charca tenho que fazer vários processos de licenciamento e atrasam sempre, por questões ambientais, por questões do passarinho”, reclamou. Também Luís Rodrigues defende a criação de “pequenas barragens” para olival, porque sem água “vai ser muito difícil manter as culturas”. “O Azibo é a nossa salvação, mas ainda pouco se rega de lá. O canal de regadio ainda não é muito abrangente ao nível do concelho”, acrescentou.

Mais apoios

“Viver-se só da agricultura numa região como a nossa, de minifúndio, com os custos de produção que triplicam, em relação aos amigos do Alentejo, é muito difícil. É preciso que se inverta alguma tendência, porque sem gente na terra vai ser complicado. Quando os teimosos deixarem de ser agricultores, não sei se depois temos paisagem para mostrar aos turistas”, afirmou o presidente da cooperativa de Macedo de Cavaleiros, salientando que nos dois mil sócios da cooperativa, a média de idade “ultrapassa os 60 anos”. Trás-os-Montes é a segunda região do país que mais azeite produz. Mas em comparação ao Alentejo, os ganhos são outros, porque os gastos também são superiores. Segundo o presidente da FENAZEITES, “enquanto um hectare de olival aqui tem um rendimento bruto de cinco mil euros, no Alentejo tem rendimentos brutos que ultrapassam os 10 mil euros e, às vezes, atingem até os 15 mil euros, com custos de produção muito inferiores aos de Trás-os- -Montes”, explicando que os gastos com a mão-de-obra na apanha da azeitona são bem mais significativos. Por isso, Aníbal Martins reclama mais apoios. “Os apoios que existem no sector podiam de alguma forma ser diferenciados no sentido de apoiar mais o olival tradicional, que é o olival predominante em Trás- -os-Montes”. A Xylella Fastidiosa é outra das preocupações dos produtores. No final do ano passado, foi registado o primeiro caso de xylella na região, em folhas de oliveira num viveiro em Mirandela. A DGAV, Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, aproveitou o evento para esclarecer os agricultores, adiantando que não foi detectado mais nenhum caso desta bactéria. A doença que afecta que mais de 300 espécies e é transmitida através de insectos que obstruem o sistema da planta, acabando por morrer, ainda não tem cura.

Jornalista: 
Ângela Pais