Movimento Cultural da Terra de Miranda pede demissão da directora da AT

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Ter, 31/10/2023 - 11:53


O Movimento Cultural da Terra de Miranda pede a demissão da directora-geral da Autoridade Tributária, após o município de Miranda do Douro também já o ter feito

Esta posição vem no seguimento da directora ter admitido, no parlamento, que, em 2016, emitiu um despacho que dispensava a EDP e outras concessionárias do pagamento do IMI de 166 barragens. Com este despacho, cerca de 80 municípios não receberam o imposto devido, entre eles Miranda do Douro onde estão duas das seis barragens vendidas pela EDP à Engie. Desta forma, o movimento considera que está a ser violado o parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, de 2005, que obriga a Autoridade Tributária a cobrar os impostos. “A AT e a directora geral trabalham para o estado, para o Governo e para os municípios. Se os municípios não têm confiança, o que o movimento pede é uma demissão”, frisou Óscar Afonso, membro do movimento, salientando que “não se compreende” como a directora-geral continua sem sofrer as consequências. “A única coisa que se consegue compreender é que a população destes municípios é penalizada. Não sabemos o que está por trás, não queremos fazer conjecturas, o que dizemos é que a população foi prejudicada por acção de uma senhora que assumiu um erro, sem envolver tribunais, por livre e espontânea iniciativa e isto não pode ser assim, nós vivemos num estado de direito”, disse. Em Fevereiro deste ano, depois de toda a polémica gerada em torno da venda das seis barragens transmontanas, no valor de 2,2 mil milhões de euros, da qual não resultou qualquer cobrança de impostos, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais emitiu um despacho que exige a cobrança do IMI, relativo aos últimos quatro anos. Decorridos seis meses, voltou a emitir outro despacho, visto que a AT continuava sem fazer a cobrança. Só agora, em Outubro, a Autoridade Tributária mandou avaliar as albufeiras, uma vez que só desta forma é possível determinar qual o valor do imposto a cobrar. No entanto, este é um assunto que também já gerou contestação, porque a AT emitiu um manual com directrizes para os peritos “independentes” fazerem a avaliação só consoante o “betão” e não a maquinaria. O município de Miranda do Douro e o Movimento Cultural da Terra de Miranda manifestaram-se dizendo que é “ilegal”, visto que os peritos não são seus funcionários. Óscar Afonso, do movimento, considera assim que a avaliação não será correcta e o valor do imposto também não. E com os atrasos no processo de avaliação, a cobrança do imposto de 2019 pode não acontecer. “Eu não acredito nada disso, eu nem sequer acredito que vá cobrado o IMI muito rapidamente, tendo em conta todos os procedimentos”, afirmou Óscar Afonso. Se até ao final do ano as barragens não forem avaliadas, o que dificilmente acontecerá, será perdida a verba referente ao ano de 2019. Em causa estão milhões de euros que não entram nos cofres dos municípios onde estão as seis barragens transmontanas vendidas pela EDP à Engie.

Foto: Movhera

Jornalista: 
Ângela Pais