Ter, 26/03/2024 - 10:35
Afinal as promessas feitas pela ministra da Agricultura, em Macedo de Cavaleiros, no mês de Fevereiro, em parte, não passaram de promessas. Depois de todos os protestos dos agricultores face ao atraso do pagamento dos subsídios e do suposto corte, de 35% na agricultura biológica e de 25% na agricultura integrada, Maria do Céu Antunes prometeu que em Fevereiro e Março as contas iriam ficar resolvidas. A ministra disse que 60% do valor dos subsídios seria pago logo em Fevereiro e que o restante seria pago em Março, ficando apenas a faltar 5%, que são pagos em Junho, como já é habitual. No entanto, segundo Armindo Lopes, um dos porta-vozes dos agricultores da região que reuniu e negociou com a ministra, as coisas não correram como previsto. Dos 35% de agricultura biológica ficou a faltar 20% e dos 25% da agricultura integrada ficaram a faltar pagar 15%. E para os agricultores conseguirem esses valores, terão que fazer mais uma candidatura. “Há cerca de duas semanas ficamos a saber que temos que fazer uma candidatura no Pedido único e que será pago em Junho ou Julho. Têm que se candidatar para receber as ajudas do ano passado”, explicou. Os agricultores dizem que foi quebrada a promessa de Maria do Céu Antunes e sentem que foi mais “uma mentira” da ministra. “Em vez de andarmos para a frente estamos a andar para trás, por duas vezes. Fomos informados pela ministra de que os pagamentos iam ser feitos, depois fomos informados pelo chefe de gabinete de que esses pagamentos até seriam pagos antes da aprovação do parlamento europeu. Afinal andamos aqui a dizer umas coisas e fazemos outras”, criticou. Outro dos agricultores que está na frente das negociações, Luís Reis, também sente que foram atraiçoados. “A ministra connosco não foi verdadeira, mentiu- -nos”, vincou, salientando que este Governo lhes mentiu “constantemente”. Numa das reuniões com o chefe de gabinete da ministra da Agricultura, tiveram a garantia de que iria ser reforçada a linha de crédito, em mais 50 milhões de euros. Mas Luís Reis disse que essa medida é mais uma para atirar areia para os olhos dos agricultores, até porque adiantou que na região não há quem recorra a este tipo de medida, uma vez que são pequenas explorações. “Em Trás-os-Montes não há um agricultor que faça essa candidatura. Eu até sei que a nível do país nenhum agricultor teve acesso a essa linha de crédito dos 50 milhões que já foram gastos. Agora vão aumentar mais outros 50 milhões. Esses 50 milhões de euros quase com toda a certeza não vão ser distribuídos a nenhum agricultor. Já falei com vários agricultores e nós achamos que estes 50 milhões são virtuais”, afirmou. O agricultor considera que se o Governo tem esses milhões de euros para linhas de créditos, então pode utilizá-los para pagar os subsídios em atraso. “Se realmente houvesse esses 50 milhões de euros para fazerem pagamentos, eles que paguem os 20% e os 15% que faltam, porque ainda lhes sobrava muito dinheiro. Não sei bem o valor, mas seria entre 15 a 20 milhões de euros”, disse.
Agricultores não receberam um tostão
Além do atraso no pagamento dos subsídios, Armindo Lopes alertou para uma situação que considera ainda mais grave. Há agricultores que estão sujeitos a controlos, que devido a não terem sido feitos no tempo certo e ainda não estarem concluídos, não receberam qualquer ajuda. “O ano passado a candidatura aos subsídios ao Pedido Único começou tarde. No ano normal, o subsídio único vai de Fevereiro até Maio e os controlos começam em Junho ou Julho, que é para estarem concluídos em Outubro ou Novembro. Este ano os controlos começaram a ser feitos em Outubro. Há muitos agricultores na nossa região que ainda não receberam o dinheiro”, sublinhou. É o caso da filha de Domingos Teiga, de Gralhós, Macedo de Cavaleiros. O agricultor tem produção biológica e a filha também. No entanto, a produção da filha foi sujeita a controlo a 29 de Dezembro, já muito tempo depois do previsto e só no final de Fevereiro é que foi validade. Até agora não recebeu o que era previsto. “A minha filha em Janeiro não recebeu nada, em Fevereiro nada recebeu e em Março também não recebeu nada”, contou. Domingos Teiga fala de uma situação “miserável” e “vergonhosa” e não se lembra de ter visto tal, até porque ele próprio já fez controlo de explorações. “. “Trabalhei 32 anos no controlo, na Direcção Regional de Agricultura, e nunca nesses 32 anos os controlos se fizeram fora do período que a amostra exigia. Isto é uma vergonha”, afirmou. Os agricultores querem agora reunir com o novo Governo, que tomará posse a 2 de Abril, com a convicção de que as coisas possam melhor. Caso contrário, prometem voltar aos protestos.