Macedenses contra o pagamento da mudança do contador da água

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Ter, 28/03/2023 - 11:26


O município de Macedo de Cavaleiros anunciou, por carta, que quem tivesse o contador da água dentro de casa teria que o colocar no exterior e que os gastos teriam que ser suportados pelos proprietários

A medida surgiu como forma de combater os desperdícios de água, uma vez que Macedo de Cavaleiros já chegou a ser o concelho do país com mais perdas de água. No entanto, as pessoas não viram com bons olhos mais uma despesa. Embora entendam a medida do município, visto que têm conhecimento de pessoas que consomem água e não a declaram e pagam, mas não concordam que sejam os proprietários a suportar os custos. Paulo Santos está há cerca de 20 anos numa casa que tem o contador no interior. Concorda que os contadores se mudem para a rua, até porque “não é preciso andarem a bater às portas” para tirar a leitura, mas as obras deviam ser pagas pela câmara. “Pôr os contadores na rua devia ser a câmara, não somos nós proprietários que devíamos pagar“, afirmou. Também Mabilda Salgado tem o contador dentro de casa. Entende que há muitos desperdícios de água no concelho e que há quem se aproveite, mas defende que não devia ser ela a pagar a mudança do contador. “Da maneira que está tudo, como vamos aguentar? É para a água, é para a luz, é para a renda. Acho que fica difícil para nós e as reformas e os ordenados são baixos”, disse. Segundo o presidente da Câmara Municipal, ter o contador fora de casa e num local acessível é uma exigência de lei que querem fazer cumprir. Benjamim Rodrigues disse que “há muitas situações, que não acontecem tanto no espaço urbano, mas no espaço rural há alguma dificuldade em gerir esta não acessibilidade aos contadores e, por vezes, as pessoas têm fugas que não detectam e os serviços também não têm acesso para os detectar”. O autarca esclareceu ainda que os gastos “muitos pequenos” que podem rondar entre “os 30 e os 40 euros”. No caso de famílias carenciadas, o município suporta a despesa. “Temos que ver que há muitas pessoas que têm capacidade financeira e com gestão do seu próprio orçamento familiar que é elevadíssimo não quer dizer que têm que onerar o município com mais encargos quando o município tem grandes dificuldades em assistir a todas as pessoas”, afirmou. A concelhia do PSD de Macedo de Cavaleiros já veio criticar a actuação do município. Apesar de dizerem estar ao lado da câmara em medidas de combate ao desperdício de água, o presidente da concelhia, José Madalena, disse que “deverá ser a câmara municipal a suportar na íntegra as alterações exigidas, pois foi da sua responsabilidade ter permitido ao longo dos anos que as construções se fizessem sem cumprir o que estava estipulado no decreto- -lei 23/95 e no próprio regulamento de abastecimento de água de Macedo de Cavaleiros que data de 2007”. “Aliás já na vigência do actual executivo, portanto nos anos mais recentes, se fizeram construções que não cumprem com estas normas”, acrescentou. Confrontado com as declarações, o presidente da câmara respondeu que é “uma falsa argumentação”. “O PSD esteve a gerir o município durante 16 anos, com perdas que chegaram aos 84%, isso é que é grave. Deviam ter esse cuidado e não estar a criticar o que estamos a fazer agora correctamente”, referiu. O PCP de Macedo de Cavaleiros já se tinha manifestado sobre esta medida do executivo, acusando-o de intimidação aos munícipes por dizer que havia consequências para quem não mudasse o contador. Fátima Bento explicou que não faz sentido que o município venha pedir a alteração dos contadores para o exterior, quando até estão a ser instalados contadores inteligentes, que não precisam de tirar a contagem, no concelho. Além disso, notam que depois das declarações do PCP, o executivo “recuou” na decisão, porque inicialmente obrigava os munícipes a pagar as obras na totalidade e agora não. “O Partido Comunista denunciou a situação e sensibilizou a população a tempo de eles ainda recuarem, contudo já houve situações de pessoas que pagar essas alterações e ninguém lhes disse que era a câmara municipal que fazia os restos das obras”, disse Fátima Bento. Na semana passada, o município de Macedo de Cavaleiros adiantou que, em cinco anos, “conseguiu reduzir em 24,6 pontos percentuais as perdas de água na rede, o que representa uma poupança anual na ordem dos 200 mil euros”. Em 2017, as perdas de água rondavam os 81% e este ano andará na ordem dos 57%, “que se reflectiram nos valores que vão ser tornados públicos para o ano”.

Jornalista: 
Ângela Pais