Festas de Natal em Parada são uma tradição viva no coração de Bragança

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Ter, 31/12/2024 - 11:11


De dia 26 a 28 de dezembro, realizou-se a feira de Artesanato e produtos da Terra, deu-se a volta à aldeia no Carro de Santo Estevão e recordaram-se velhos tempos com os jogos tradicionais

De dia 26 a 28 de Dezembro, realizou-se a feira de Artesanato e produtos da Terra, deu-se a volta à aldeia no Carro de Santo Estevão e começam os jogos tradicionais. No último do fim-de-semana do ano, actividades não faltaram para juntar os que vivem e os que regressam à aldeia, e tanto a Galhofa como a corrida da Rosca são tradições às quais não se pode faltar. Quem o diz é Manuel Rodrigues, autor do Curral da Luta e do Carro de Santo Estevão. “Se começarmos pela primeira tradição, fazemos, por exemplo, a missa do galo, onde cantam quatro jovens. Depois, no dia seguinte, temos esta corrida da rosca, que já é tradição, todas as pessoas das aldeias que queiram vir correr. Depois à noite a galhofa, que são as lutas tradicionais, que acontecem no curral. Tenho 83 anos, e desde miúdo sempre fiz parte das tradições, sempre, sempre. Para mim é importante continuarem a existir. Eu nunca falharei nisto, porque toda a vida andei nisto. Eu gosto destas tradições”, disse. A galhofa deu-se pelas 20h30, no curral, como mencionou Manuel Rodrigues. Lá “as pessoas despem-se e jogam em tronco nu”, explicou. O objectivo é deitar o adversário ao chão e “de costas”. “Se não, não é válido”, afirmou Manuel Rodrigues. Depois, a luta dura “consoante” a força dos lutadores. “Mas se forem dois rapazes de pulso, pode demorar, nos chegávamos a andar às meias horas”, recordou. Pedro Teixeira é de Parada, mas vive em Braga. Desafiado pelo filho, Tomás Teixeira a correr, voltou a recordar os velhos tempos. “Quando tinha doze, treze anos, talvez corresse, mas depois não. Ganhamos aquela vergonhazinha. Mas hoje decidi, fazer aqui à vontade do Tomás, e corri com ele”, Festas de Natal em Parada são uma tradição viva no coração de Bragança Cindy Tomé referiu. Afirmou sentir um “grande orgulho” ver o filho a participar nas actividades tradicionais da sua aldeia. Acrescentou que é “uma forma de manter a tradição” que faz parte das suas raízes. É também para ele motivo de orgulho ver que o filho “tem um gosto enorme por Trás-os-Montes, nomeadamente Bragança”, rematou. Já o filho, Tomás Teixeira, garantiu que foi “muito bom”, vencer ao pai na corrida e que “gosta muito de vir até Trás-os-Montes” para “ver e passar tempo com os avós”, disse. A tradição é antiga e tem de se manter. Apesar existirem cada vez menos participantes, para o presidente da união de Freguesias de Parada e Failde, Hervé Gonçalo, o mais importante é manter o convívio que esta festa proporciona. “Isto é a cultura de um povo. O que está enraizado é sempre o convívio entre toda a população, todos os migrantes e imigrantes, nesta altura, regressam a Parada só para conviver. Tem existido cada vez menos participantes. Relativamente à luta, existia geralmente um desafio entre os de Grijó de Parada e os de Parada, para saber quem tinha o lutador mais forte. Neste momento, cada vez menos, a cultura também das pessoas não permite e vai-se perdendo, mas em Parada ainda têm aberto todos os anos o Curral de Santo Estevão, para assim procederem à luta e não deixar perder esta tradição”, contou. A organização das actividades é da responsabilidade dos mordomos de Santo Estevão, que são encontrados durante o almoço comunitário. A Galhofa, que nada mais é que uma luta, é ganha pelo lutador que conseguir imobilizar, no chão e de costas, o adversário. Na corrida da Rosca, vence o corredor com duas vitórias, como explica o presidente. “Os organizadores das lutas e da corrida da rosca são os mordomos de Santo Estevão do próximo ano. Eles são encontrados no almoço comunitário que procede à missa do dia 26, em honra de Santo Estevão. Nesse almoço, como o próprio nome indica, almoça toda a população, polvo, bacalhau e sardinhas assadas. Mas existe uma mesa destinada às pessoas mais importantes da aldeia, alegadamente. Isto é o pároco, os gaiteiros, o presidente da junta e também os quatro mordomos do próximo ano. Essa mesa está e fica vazia até se sentarem os quatro mordomos do próximo ano. Depois de se sentarem, é que se sentam os outros. E então, esses já ficam responsáveis por organizar as festas do dia 28. Isto é, no ano que se sentam, são servidos e servem os outros a partir dessa data”, explicou. Rui Silva, foi um dos que tomou a iniciativa de se sentar na mesa vazia, como manda a tradição. Quando questionado sobre o que o motivou a fazer parte da mordomia, afirma que “é uma tradição bonita” e que “não pode acabar”. Impulsionou o filho a participar na corrida da rosca e garante que “não há palavras” para descrever o que esta festa significa para as pessoas de Parada. Actualmente, a Junta de Freguesia está a acrescentar novas actividades à festa de Santo Estevão, como a décima quinta Feira de Artesanato e Produtos da Terra e a batida de caça, realizada em colaboração com a Associação de Caçadores. O objectivo é atrair mais visitantes e manter o espírito de convivência, reunindo todas as gerações em torno das tradições.

Jornalista: 
Cindy Tomé