Estações caem de podres

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Ter, 05/07/2005 - 14:26


Cinco estações da antiga linha do Sabor continuam ao abandono, apesar de terem sido incluídas no Programa de Revitalização de Antigas Estações Ferroviárias (PRAEF) lançado em 2001.

Em causa estão as estações de Duas Igrejas, Sendim, Urrós, Bruçó e Freixo de Espada à Cinta, cuja recuperação foi incluída no Plano Nacional de Turismo de Natureza, com vista à criação de cinco unidades de alojamento.
Passados quatro anos, as cinco estações permanecem entregues a si próprias, sem que se vislumbrem investimentos capazes de pôr cobro ao abandono.
O programa chegou, mesmo, a ser alvo de um protocolo entre a REFER, o Instituto de Conservação da Natureza, o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e as Câmaras Municipais de Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro e Mogadouro.
Tudo parecia resultar, até os autarcas se aperceberem que o acordo era altamente lesivo para os cofres municipais.
“Tínhamos de recuperar as estações com verbas dos municípios e, como se isso não bastasse, ainda éramos obrigados a pagar 250 euros/ano à REFER por cada quilómetro de linha ocupado pelo circuito turístico que íamos criar”, recorda o presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Manuel Rodrigo.
Contas feitas, as autarquias teriam de desembolsar 12.500 euros, anualmente, para utilizar o antigo canal ferroviário.

Era um péssimo negócio

No caso do município mirandês, estão em causa as estações de Sendim e Duas Igrejas, onde terminava a linha do Sabor. O autarca garante que o restauro dos dois edifícios não fica em menos de um milhão de euros, além das rendas exigidas pela REFER pelo aluguer da linha. “Era um péssimo negócio para a Câmara e foi por isso que não avançamos com o projecto”, recorda o edil.
O autarca, contudo, lamenta o estado de degradação das estações de Sendim e Duas Igrejas, que possuem painéis de azulejos únicos.
Em Freixo de Espada à Cinta, a Câmara Municipal nunca acreditou no projecto, atendendo ao valor do investimento em causa. “Quando se propôs às Câmaras pagar 250 euros por quilómetro de linha via-se logo que era difícil alguém aceitar. O contrário é que seria correcto, com as Câmaras a receber para limparem a linha e manterem as estações preservadas”, alega o presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta (CMFEC), Edgar Gata.
O presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, Morais Machado, tem uma opinião idêntica. “Tudo o que se refere à REFER nunca pode ir para a frente, porque quer obter mais valias extraordinárias a partir de cadáveres que são as estações abandonadas”, critica o autarca.
O edil acusa a empresa de “querer que as Câmaras aluguem a linha e recuperem as estações que a própria REFER deixou degradar de forma irresponsável”, acrescentando que o protocolo tinha um prazo de concessão. “Ao fim de 20 ou 25 anos de concessão, tínhamos de entregar as estações à REFER, depois investirmos na recuperação”, denuncia o edil.

Parque sinaliza percurso

Na área do município mogadourense situam-se as estações de Bruçó e Urrós, cuja recuperação ascende aos 500 mil euros. “Se a isto somarmos os custos do aluguer da linha e de funcionamento das estações vemos que é incomportável para autarquias como as nossas”, recorda Morais Machado.
A pensar na transformação das linhas em unidades de turismo de natureza, o PNDI elaborou um percurso pedestre ao longo do canal ferroviário. O trilho encontra-se devidamente sinalizado, mas o mato dificulta a vida aos caminheiros. “O percurso está definido, mas era preciso recuperar as estações para criar equipamentos de apoio e tornar os trilhos mais atractivos”, defende o director do PNDI, Victor Batista.
Na antiga linha do Sabor, a excepção é a estação de Lagoaça, que foi recuperada, em 2001, pela Junta de Freguesia, com o apoio da CMFEC, estando a funcionar como centro de acolhimento, equipado com restaurante-bar e quatro quartos.
Quanto à antiga gare de Freixo, “não está velha, está completamente arruinada e a cair”, lamenta o edil.
O Jornal NORDESTE tentou obter uma reacção da parte da REFER, através de ofício enviado no passado dia 23 de Junho para o Gabinete de Comunicação e Imagem da empresa. Até ao fecho desta edição, as questões continuavam sem resposta.