PUB.

Entrevista ao brigantino Hélder Afonso, protagonista da nova série da RTP 1: “Orgulho-me muito daquilo que ali está”

PUB.

Ter, 13/06/2023 - 11:47


O brigantino Hélder Afonso é o protagonista da série “Braga”, no papel de padre António, que estreou no dia 7 deste mês, na RTP 1. O jovem de 30 anos é manequim. Estava a estudar, no Porto, quando recebeu uma proposta, na área da moda, que lhe mudou a vida, tendo-se mudado, à época, para Barcelona. Tendo já vivido em quase todas as capitais da Europa, estava a residir em Nova Iorque quando, em 2020, recebeu uma outra proposta que o fez regressar a Portugal e que o permitiu entrar no mundo da televisão. Hélder Afonso falou-nos da sua participação em “Braga”, do percurso profissional que o fez aqui chegar e assume que, para o futuro, espera continuar a colecionar experiências que o enriqueçam como pessoa.
Integras, neste momento, a série “Braga”, que acaba de estrear na RTP 1. Como é que esta oportunidade surgiu?
A oportunidade surgiu através da minha agente de representação. Fiz casting com eles no final de Maio de 2021. Depois, tive mais encontros com a MGN Filmes, que foi quem produziu, aliás, o produtor é o Tino Navarro, transmontano, de Vila Flor, e, depois, soube que a ia fazer no final de Julho. Começámos, depois, a filmar em Agosto de 2021.
 
A série já começou a ser gravada há algum tempo… Agora vês-te, finalmente, na televisão. O que é que isso significa para ti?
Significa o final de um ciclo. Depois de todo o processo de casting’s, de rodagem, que foram oito semanas, depois a longa espera em pós-produção… isto significa o fim de um ciclo. É como se eu entregasse ao mundo aquilo que fiz há dois anos, com muito orgulho e felicidade por ver aquilo no ecrã.
 
E o que é que a série tem de especial, o que é que conta? O que nos podes dizer?
A série tem oito episódios. Vai dar todas as quartas-feiras, às 21h, na RTP 1. Tem antestreia marcada, sempre, todas as quartas, às 12h, na RTP Play.
A série é especial porque discute temas que estão na ordem do dia e são muito, muito, sensíveis. São temas importantes no sentido em que, através da ficção, porque a história é ficcional, podemos reflectir. Isto é uma das maiores magias que o cinema nos pode trazer, que é, através de uma história de ficção, podermos reflectir sobre temas que estão na ordem do dia, trazê-los para a nossa sociedade e, de uma forma construtiva, lançá-los e discuti-los, com o intuito de nos tornarmos melhores.
 
E que temas são esses que a série trata?
Trata a pedofilia, problemas da Igreja Católica, aliás, o meu padre, é um revolucionário, que luta contra o sistema, quer mudar muita coisa na Igreja Católica. Trata minorias, aborda a etnia cigana, e aborda também cibercrimes, de exposição de imagem, de vídeos íntimos.
 
Como é que construíste esta personagem? Que trabalho tiveste de fazer, em que te baseaste? Como surge este padre?
Em primeiro, tive de perceber o que havia no Hélder que poderia ser padre. Depois, ouvi muitos sermões, de alguns padres, recomendados pelo realizador, um deles é um padre de Priscos, em Braga. Vi também muitas coisas do nosso Tolentino de Mendonça, que trabalha no Vaticano, com o Papa, e vi também muitos sermões de padres evangelistas, do Brasil.
A minha construção do padre António partiu de eu perceber o que é o que é o mantinha tão próximo da Igreja e com tanta vontade de mudar coisas que ele achava que não estavam tão bem.
 
Portanto, esta personagem enriqueceu-te como pessoa…
Sim. Sem dúvida.
 
Contavas construir estas experiências de enriquecimento pessoal a partir do momento em que entrasses no mundo da representação?
Não, mas é exactamente este tipo de experiências que procuro, coisas que me possam acrescentar como ser humano, em primeiro lugar.
 
Acreditas que esta experiência agora te pode abrir outras portas? Era isso que gostavas que acontecesse?
Sim. Existe sempre essa expectativa de, a partir de um trabalho que façamos, termos a oportunidade de viver novas experiências. É mais isso que me rege, poder ter oportunidade de, como actor, viver novas experiências, trabalhar com novos produtores, realizadores, com equipas diferentes.
 
Começaste no mundo da moda, mas a tua expectativa sempre foi chegar à televisão?
A moda apareceu um pouco por acaso na minha vida.
Quando era miúdo, lembro-me de ver filmes, o que se passava atrás das câmaras, e ficar fascinado com aquilo que era feito e ter sempre muita curiosidade sobre como é que aquele processo todo tinha sido feito.
Depois, a moda acabou por aparecer na minha vida um pouco ao acaso. Tive a oportunidade de me apaixonar pela moda enquanto expressão artística e, depois, veio a representação um pouco ao acaso também, mas não era esse o objectivo.
 
Mas se continuar a acontecer não dizes que não…
Eu não digo que não porque é algo que sempre adorei. Eu nunca disse que queria fazer isto, mas era mesmo apaixonado pelo mundo do cinema. Não tinha noção do mercado em si, mas era apaixonado por aquilo que estava ali.
Isto aparecer na minha vida, ao acaso, fez-me lembrar aquilo que sentia antes e vendo aquilo que sentia, como miúdo, faz-me acreditar que quero continuar com a minha carreira com actor.
 
A série acaba de estrear, mas que feedback tens recebido? O que é que a tua família, amigos e pessoas em geral te dizem?
A minha família é suspeita. Eles dizem sempre que adoraram. Os amigos também. Mas acho que há ali sinceridade naquilo que dizem. Tem sido muito bom o feedback tanto de pessoas anónimas como de famílias e amigos. Estou super contente. Orgulho-me muito daquilo que ali está.
 
Há um estigma associado ao ser-se um pouco protegido por se ter vindo do mundo da moda. Tens sofrido algo com isso? Vai ser difícil vingares neste novo mundo em que acabas de entrar?
Eu não acho que vá ser difícil porque sei quais são as minhas capacidades. Quando se abraça uma nova experiência existe sempre a conquista de um espaço e é isso que quero fazer, a partir das minhas capacidades, mostrar que tenho valências para ter mais oportunidades.
 
E neste momento, estás até mesmo a estudar representação...
Sim, estou, na ACT – Escola de Actores, em Lisboa. Estou no primeiro ano, que acaba agora, em Junho.
 
Era um percurso que já tinhas pensado antes de gravar a série ou decidiste já depois?
Mesmo antes da série, a minha preocupação foi sempre nutrir-me de conhecimento e experiência, que me permitisse dar o melhor de mim, enquanto ser humano, a esta arte. A minha preocupação em fazer workshop’s, ganhar novos conhecimentos, esteve sempre em primeiro lugar. 
Acredito que um actor, em paralelo, seja já consagrado ou não, deve sempre ganhar novos conhecimentos porque isto é algo que está sempre em evolução, também é como, talvez, uma ciência.
 
Voltando à moda… a série entrou na tua vida em 2021, mas até aqui tinha sido sempre a moda.
Sim. A moda entrou na minha vida muito cedo, devia ter uns 16 anos. Houve uma agência do Porto que fez aqui, em Bragança, um desfile e contactaram-me, depois, para integrar o board deles.
Entretanto, terminei o 12º ano e, percebendo o que ia fazer da vida, decidi estudar, na altura, mudando-me para o Porto, Animação e Modelação 3D.
Depois, ainda a estudar, surgiu a oportunidade de ir para Barcelona, trabalhar, em moda, e ficar lá seis meses. Deixei de estudar e abracei a moda.
Apaixonei-me e nunca mais parei. Vivi em quase todas as capitais da Europa. Depois, fui para os Estados Unidos, vivi em Los Angels e em Nova Iorque.
Na altura da pandemia, vivia em Nova Iorque, já tinham passado sete anos desde que começara a trabalhar como manequim, e sentia-me criativamente insuficiente, embora não tivesse noção na altura. Pensava ‘É mesmo isto que quero fazer toda a vida? Quero criar mais. Tenho de ir mais fundo, de alguma forma’. Enquanto manequim sentia sempre que era muito moldado àquilo que eles queriam. Não havia uma construção e eu precisava de alguma coisa que não sabia bem o que era.
Isto foi antes da covid-19. Entretanto, saí de Nova Iorque para vir passar o Natal em Bragança e a ideia era voltar para lá, mas eu sabia que uma agente de representação tinha interesse em falar comigo, com a pretensão de eu ficar com ela. Foi o director da minha agência de modelos que me disse que havia esta pretensão e eu até lhe disse que não estava muito para aí virado, que queria voltar para Nova Iorque, estava lá a fazer um bom dinheiro… e ele aconselhou-me a ir falar com ela e eu fui e adorei. Fiquei de pensar e, entretanto, a pandemia estourou e eu vi que não ia mais para lado nenhum e pensei ‘sempre amei este mundo, sinto-me assado, grelhado, em relação à moda e então… bora lá, vou experimentar’.
Descobri um novo mundo, do qual já sabia que gostava, mas ainda me apaixonei mais. Durante a pandemia tive aulas e workshop’s através do Zoom e, depois, apareceu a série.
 
Deixaste Nova Iorque e agora vives em Lisboa. Para quem andou pela Europa toda, agora estares no teu país é mais fácil, até mesmo para veres a tua família?
Quando vivia no Porto, onde estive até final do ano passado, era mais fácil. Lisboa é longe. Sinto também uma certa distância como sentia quando estava fora. Não é tão próximo como estava à espera.
Dói não conseguir vir cá sempre que quero porque sou muito ligado a Bragança e à minha aldeia, Coelhoso, onde cresci com os meus avós. É difícil não poder estar mais presente.
Tento sempre vir uma vez por mês. Tento vir à azeitona, castanhas, vindima. Sou um apaixonado pela agricultura.
 
Como é que é para um jovem de Bragança partir rumo à aventura, falando de um mundo em que não deve ser fácil vingar nele? Sentiste que ser do Interior te penalizou?
Não senti nada que me penalizou. Pelo contrário, até me ajudou. Brinco, muitas vezes, dizendo que sou labrego, com muito orgulho. Na série, no nosso elenco, havia pessoas que me chamavam labrego, com muito amor e isso é visto com muito carinho.
Nós temos uma qualidade, enquanto transmontanos, que acho que é notável, que é ter muito sangue na guelra e não deixamos nada por dizer. Acho que isso é muito bom e ajudou-me muito eu trazer isso na minha bagagem.
 
Que trabalho estás a fazer neste momento? Continuas no mundo da moda?
Sim, sempre que existe essa oportunidade, faço trabalhos no mundo da moda. Em primeiro lugar está a minha escola, a minha aprendizagem como actor, mas tem sido isso.
 
Já fizeste uma campanha para a Armani. Que trabalhos já fizeste que te marcaram?
É verdade que o trabalho da Armani é especial e fica para sempre guardado, assim como poder ter tido oportunidade de privar com o Cristiano Ronaldo, em Turim, na altura que ele estava na Juventus, porque fotografei a campanha da marca de sapatos que ele tem. Mas aquilo que procurei sempre na moda foram as coisas simples que aconteciam. Lembro-me de estar em Paris, no rio Sena, a fotografar com um fotógrafo, de Madrid, o Ruan Martinez, e aquilo que se estava a viver ali, na minha dança com ele, a fotografar, com o rio, toda a envolvência de Paris, aquilo foi mágico, artisticamente falando, que está sempre guardado no meu coração.
 
Como gostavas que o teu percurso profissional se desenrolasse nestes próximos anos?
Gostava de, como actor, ter muitas mais oportunidades de trabalho. Gostava de experienciar novas coisas, como ser humano, de poder ir para novos campos emocionais, que não conheço e descobri-los, a partir do meu trabalho. Gostava de experienciar um projecto em que pudesse lutar com armas, filmes medievais ou algo desse género, como no SyFy em que a produção é absurda.
Jornalista: 
Carina Alves