Empresas transmontanas revoltadas por terem sido excluídas da majoração para a Transição Digital

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Qua, 03/05/2023 - 10:40


As empresas transmontanas não entendem porque a região não recebeu uma majoração no âmbito dos apoios à Transição Digital, como aconteceu com as regiões das Beiras e Serra da Estrela e Alto Alentejo

Estas duas regiões têm uma taxa base com mais 10 pontos percentuais que o resto do país, porque terão perdido mais de 10% da população nos últimos anos, estando assim incluídas no mapa de auxílios de finalidade regional, recomendado à Comissão Europeia pelo Governo português. Na última edição do Jornal Nordeste, a secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, explicou que Trás-os-Montes não foi incluído porque não teve uma perda de população tão significativa. Segundo os censos de 2021, toda a região transmontana, ou seja, os distritos de Bragança e Vila real, perderam na última década mais de 12% da população. Mas, o Governo teve apenas em consideração a Comunidade Intermunicipal da Terras de Trás-os-Montes, que inclui apenas nove municípios do distrito de Bragança. Nesta CIM a perda populacional foi inferior a 10%. Embora tenha ficado lá perto, ficou de fora da majoração. As entidades representativas das empresas transmontanas não entendem porque não foram incluídas, uma vez que também fazem parte do interior e também têm baixa densidade populacional. “O que está a falhar são as políticas nacionais, que deviam atender à especificidade do Interior e não estamos a conseguir que eles entendam que nós temos empresas fragilizadas, temos baixos recursos, temos baixa densidade e temos dificuldade em concorrer com as grandes cidades”, afirmou o presidente do NERBA, Associação Empresarial do distrito de Bragança, que representa cerca de 400 empresas. Hélder Teixeira espera que os avisos para se candidatarem “tenham em conta todo o território de baixa densidade com as mesmas garantias e mesmos financiamentos, porque neste momento é o mais importante, que consigamos ter acesso aos fundos com a mesma proporção que as outras regiões”. O empresário defende ainda a criação de um “conselho associativo regional do Interior Norte”, com as várias associações empresariais transmontanas, acreditando que assim teriam mais “voz reivindicativa” e “uma força reivindicativa maior” para “influenciar as políticas que fossem para o Interior”. Para o presidente da NERVIR, Associação Empresarial do distrito de Vila Real, “não faz sentido nenhum” que a região não tenha sido incluída no mapa de auxílios. Emanuel Camilo só encontra uma justificação para isso: “a capacidade de lobby”. “Trás-os-Montes também teve uma perda significativa, mas sendo um território de baixa densidade, ainda lutamos por investimento industrial, as Beiras já têm algumas grandes empresas e provavelmente conseguiram uma situação de lobby superior ao que conseguimos”, disse. O dirigente considera ainda que esta exclusão não vai ajudar a região transmontana na “na captação de investimento industrial”. “Obviamente que não posso estar de acordo com essa diferença de majoração”, sublinhou. Quer ainda acreditar que haja uma “dotação específica para as micro e pequenas empresas”, uma vez que compõe grande parte do tecido empresarial. Já o presidente da ACISAT, Associação Empresarial do Alto Tâmega, considera que só se podem “ter enganado nas contas”. “Não faz nenhum sentido numa região como a nossa, onde tanto se apregoa a coesão territorial e um país igual e com as mesmas oportunidades, que Trás-os-Montes tenha ficado de fora desta majoração, em detrimento de outras regiões do Interior, que naturalmente merecem, mas sentimos uma indignidade enorme, porque as nossas empresas lutam diariamente contra a interioridade”, afirmou Vítor Pimentel. A ACISAT representa 600 empresas do Alto Tâmega e há pequenas e médias empresas que não conseguem aceder a “imensos apoios”, porque “não chegam a tempo” ou é preciso “demasiada burocracia”. “Somos limitados pela quantidade de fundos e de verbas que podem vir para o território porque não temos gente, agora somos prejudicados porque supostamente tempos gente a mais”, criticou. Vítor Pimentel diz que há “um desconhecimento profundo do território”, o que só contribui para o aumento das “assimetrias”. “Parece-se efectivamente que muitas vezes somos governados por uns binóculos vindos de Lisboa e que as pessoas não conhecem propriamente o território”, afirmou. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega e Barroso, Alberto Machado, mostrou-se indignado por esta CIM, compos - ta por seis municípios, não ter sido incluída no mapa de auxílios, já que perdeu mais de 10% da população, na última década, tal como as regiões das Beiras e Serra da Estrela e Alto Alentejo. “Todo o interior do país está a perder população de uma forma significativa. Estou a favor da bonificação para os territórios que têm essa bonificação, o que não achamos correcto é que não seja alargada a todo o interior do país, porque todo interior que está com uma perda populacional muito significativa”, salientou, acrescentando que, desta forma, estabeleceram “barreiras”. O presidente da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes, Jorge Fidalgo, disse que não quer, para já, tecer comentários sobre esta majoração. O Jornal Nordeste também contactou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, mas nunca atendeu o telefone.

Jornalista: 
Ângela Pais