Emigrantes regressam em força depois de um ano de ausência devido à Covid-19

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Ter, 17/08/2021 - 12:15


Aldeias transmontanas voltam a encher-se com os filhos da terra, que cumprem a tradição de passar as férias de Agosto em Portugal, após o ano passado a pandemia ter impedido muitos de se reencontrarem com a família

Depois de no ano passado muitos emigrantes não terem decidido não viajar até Portugal no Verão, este mês de Agosto voltou a ser sinónimo de enchente nas aldeias transmontanas com o regresso dos filhos da terra a morar o estrangeiro.

Em Coelhoso, no concelho de Bragança, a população de cerca de 280 habitantes triplica nesta altura. Leonel Lopes é um dos portugueses que há dias fez o caminho de regresso de França até Coelhoso, ao contrário de 2020. “O ano passado não viemos por causa da Covid, já desde 2019 que não vinha cá de férias, só vim uns três dias em Maio. Mas as saudades já eram muitas”, afirma.

Está a aproveitar as três semanas que passa na aldeia de origem e que lhe “fazem muito bem”. “É muito diferente não vir à aldeia, porque é o cantinho em que temos os nossos amigos, onde nos encontramos cá todos, durante o ano há pessoas que não vemos e temos aqui o ponto de encontro”, sublinha.

O ano passado a aldeia não tinha as ruas e cafés tão cheios, mas “este ano há muita população aqui, já há muitos anos que não se via tanta gente em Coelhoso”, garante.

Lourenço Nascimento, também emigrante em França, chegou há escassos dias à aldeia e é no café que reencontra os amigos, que já não vê há mais de um ano e meio. “O ano passado não vim no Verão, devido ao vírus. Tinha férias mas decidi não vir, achei mais prudente”, conta, referindo que apenas regressou no Inverno para ajudar na apanha da azeitona, uma altura com menos convívio e mais tempo para a família.

 Mas ainda assim o Verão, e em particular o mês de Agosto, continua a ser a altura preferencial para as férias em Portugal. “A gente já está acostumada a vir todos os anos, vemos os amigos que não vemos durante o resto do ano, é a oportunidade de estarmos aqui todos reunidos, conviver, fazermos umas patuscadas, beber uns copos juntos, contar aquilo que se passou durante o ano. A aldeia fica com outro movimento, mais ânimo, as casas cheias”, conta. Quem sai ou entra em França tem de fazer teste ou apresentar o certificado de vacinação.

Abílio Veiga admite que o ano anterior não regressou no Verão a Coelhoso, porque o vírus “meteu medo” e só veio no Natal. “Não sabia como se passava, não havia vacinas, não havia nada. Agora, fiquei mais descansado, porque já estou vacinado, com as duas doses”, refere. Custa-lhe quando não pode viajar até à aldeia. “Sou filho da terra, tenho de vir”, diz. Apesar de não haver festas religiosas diz que os convívios se mantêm. “Pequenos, mas não faltam”, conta. Fernando Maltez faz também questão de vir ver a família, o que fez mesmo em 2020, apesar da Covid. “Não tive problemas, vim tranquilamente e passou-se tudo bem. Eu gosto de cá estar, ver a minha mãe e ver esta rapaziada toda, saber que está tudo bem com eles para mim é uma alegria”, afirmou.

Argozelo, no concelho de Vimioso é outro caso típico na região em que a população aumenta praticamente três vezes no período de férias de Verão e este ano parece não estar a ser excepção. Andreia Machado, que reside em França, não quis deixar de vir com a família. “O ano passado com a Covid foi um bocadinho diferente”, mas também esteve na vila. “Mantínhamos as distâncias de afastamento das pessoas e fazíamos a nossa vida quase como sempre. Com alguns cuidados, menos saídas, não íamos tanto aos cafés, às piscinas, a festas”, refere. Recorda que no Verão do ano passado havia um pouco menos de movimento em Argozelo e nas outras aldeias do concelho. Agora, apesar de estar vacinada, bem como a maioria da família, mantém algumas medidas de prevenção. “Temos os mesmos cuidados, porque sou mãe de crianças, não quero ter eu Covid, nem que os meus filhos tenham. O meu pai tem uma certa idade, também não lhe quero transmitir, mantemos a segurança”, afirma. Delfim Fernandes está há 42 anos em França e há cerca de um ano e meio que não vinha. “Custou-me, foi o único ano que não vim, até chorei. É obrigatório vir a Argozelo no Verão, para matar as saudades, ver a família, senão o ano é muito grande, custa mais a passar”, afirmou. Conta que no ano anterior teve receio por ele e pela família. Agora que já tem as duas doses da vacina “está mais tranquilo”.

Óscar Rego proprietário de um do café de Argozelo diz que a maior movimentação não se traduz no aumento do negócio. Apesar de admitir que há mais pessoas em Agosto, diz que “não se vê grande diferença”. “Pode até haver mais pessoas, mas o negócio está fraco, as pessoas estarão mais nas próprias casas. Há mais pessoas em relação a meses normais, mas, mesmo assim, à proporção está muito fraco”, afirma.

 

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro