Emigrantes que vêm para o “querido mês de Agosto” já são mais mas ainda nada se compara a outros tempos

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Ter, 31/08/2021 - 11:10


Está terminado mais um “querido mês de Agosto”, pelo qual, como diz a canção de Dino Meira, os emigrantes levam o ano inteiro a “sonhar”

A letra é simples, os filhos da terra vêm de “sorriso no rosto”, porque sabem que estão de volta, mas o mês de eleição para os emigrantes regressarem ao abraço dos seus chegou ao fim. A passagem, para quem vem, é sempre curta, ainda mais agora, que muitos dos que vieram já não estavam por cá há bastante tempo, por causa da pandemia.

Emigrantes com vontade de gastar dinheiro

O último fim-de-semana foi de despedidas para muitas pessoas que tiveram que deixar o concelho em busca de uma vida melhor, longe do país de origem, ou para os que já lá nasceram, por imposição das circunstâncias. É o caso de Frederico Ferreira. O jovem, de 28 anos, que rumou novamente a França, no domingo, nasceu fora de Portugal porque os pais já vivam por Paris. Com origens em Coelhoso, no concelho de Bragança, veio, este ano, de férias no Verão, porque “nem se punha outra hipótese que não vir”. “Não tive receio nenhum, nem este ano nem no que passou. Venho sempre, preciso ver a minha família”, rematou. A trabalhar e viver em Versalhes, Frederico Ferreira também por cá esteve no Verão passado e, comparando este com o de 2020, “nota-se que houve muita mais gente”. Ainda que tenham vindo mais, há uma questão que se impõe: vieram ou não os emigrantes com vontade de gastar dinheiro? “A mim parece-me que os que não tinham vindo no ano passado e agora puderam regressar contribuíram bastante para a economia do concelho. Os restaurantes da cidade estavam sempre cheios. Os cafés e bares também tinham bastante gente, mas parece-me que, este ano, a preferência foi ficar pelas aldeias, a conviver”, esclareceu. André Caleja Lopes, natural de Alimonde, também já nasceu em França, mais precisamente em Paris, porque o destino que os pais procuraram o impôs. As malas já as tem feitas, mas diz que anda no vai não vai. A vontade de deixar o país é pouca ou nenhuma, mas lá terá que ir. Apesar da pandemia veio sempre, tanto este ano como no outro. Não se lembra de um Verão que não o passasse cá. E comparando com o ano passado.... “gente não faltou” e “quem veio quis gastar algum dinheiro que poupou não tendo vindo em 2020”.

Filhos da terra preferiram as aldeias à cidade

Ludgero Afonso cresceu em Castrelos. A pacatez da aldeia teve que a trocar, há 12 anos, pela agitação da Suíça, onde o ordenado mínimo, pelo menos em alguns cantões, é dos mais altos do mundo. Por cá, as ofertas de trabalho eram poucas e lá foi, em busca de estabilidade. Ir, Ludgero Afonso, de 34 anos, até vai, mas a verdade é que admite não passar grande tempo sem voltar. Em Bragança esteve, e ainda está, este verão, assim como não deixou de visitar a terra, no mês de Agosto de 2020. “Independentemente do que aconteceu, tenho vindo na mesma, sempre três ou quatro vezes por ano. As saudades do meu país, sobretudo da minha aldeia e cidade são muitas, não consigo estar muito tempo longe”, justificou, salientando parecer-lhe também que “houve muito mais emigrantes este Verão”. Ainda que os restaurantes tenham estado “bem compostos”, os bares e cafés, ou seja, o pouco que continua a haver em termos de diversão nocturna, “estiveram sempre com pouca gente”. “Acho que as pessoas preferiram ficar nos cafés das aldeias, assim como nas associações que há, em muitas delas. Eu também o prefiro e foi o que acabei por fazer”, referiu, dizendo que “a pandemia mudou alguns destes hábitos” e que agora “parece que preferimos estar no nosso canto com os nossos” e não tanto em cafés ou bares rodeados de gente desconhecida.

Férias fora roubaram gente à região

Susana Afonso é natural de Bragança mas está há cinco anos em Paris. Apesar de ter regressado tanto neste Verão como no último, 2021 é o segundo ano consecutivo que não cumpre os planos. “Habitualmente vinha também no Natal e na Páscoa. No outro ano não consegui e este, para já, só mesmo Verão”, esclareceu. Emigrada na França, tendo ido porque o namorado lá vivia e porque aqui havia poucas propostas laborais, Susana Afonso admite que “este ano havia mais gente”, aliás, “notou-se pelos restaurantes, em que é preciso marcar lugar”, mas no resto não foi bem a mesma coisa. “Ao se olhar apenas para os cafés parecia que não tinha vindo quase ninguém. Quem mais os frequenta, os jovens, dá a ideia que passaram grande parte das férias fora daqui, nomeadamente no Algarve. Como os mais velhos se ficam pelas aldeias, não se via grande gente”, assinalou a emigrante, que considerou ainda que os emigrantes, este ano, ainda que em maior número, pouco ajudaram a mexer com os negócios de Bragança.

Jornalista: 
Carina Alves