Emigrantes estão receosos com alteração constante de normas mas devem vir em grande número no Natal

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Ter, 14/12/2021 - 09:59


O número de casos de covid-19 tem vindo a aumentar, nos últimos meses, tanto em Portugal como no resto do mundo

Por cá, na época do Verão, perante uma taxa de vacinação tão grande, tida como exemplo pelo planeta fora, esperava-se que o cenário não fosse como é agora. A verdade é que as coisas mudaram. O número de pessoas que diariamente testam positivo para a doença voltou a crescer e, além disso, depois da Delta, o mundo voltou a tremer com o anúncio de uma nova variante, a Ómicron. A bem dizer, os cientistas, há escassos dias, já vieram avançar que os casos causados por esta variante podem não ser tão graves quanto inicialmente se temia. A conclusão é da Organização Mundial de Saúde, que tem estado a estudar a última variante do coronavírus. Seja ou não menos grave que os alertas iniciais, a estirpe já fez “estragos” pelo mundo fora e está a condicionar a vida de largos milhares de portugueses que escolheram fazer vida fora de Portugal. A Suíça, por exemplo, colocou Portugal na lista negra, obrigando quem chegasse de Portugal a fazer quarentena de dez dias, independentemente de certificado de vacinação e até mesmo de teste negativo. A “regra” já foi alterada e os portugueses que vivem na Suíça já estão mais descansados. Apesar disso e de as normas mudarem a cada dia que passa, neste Natal muitos emigrantes virão a Portugal. Ainda assim, como dizem os portugueses, é de “coração nas mãos” que o vão fazer, pois há bastante receio do que pode acontecer no entretanto.

Suíça recua. Emigrantes portugueses respiram de alívio

Tiago Pombo tem 31 anos. Está na Suíça, em Chur, capital do cantão de Graubünden, na parte alemã, há dois anos. Neste país, onde este ano não passa o Natal, já esteve, anteriormente, outros quatro anos. Natural de Mogadouro, Tiago Pombo é motorista, trabalha numa empresa de entregas, que dá emprego a mais de 60 pessoas, a maioria portugueses. Ficar na Suíça não é opção. “Não tinha por hábito ir nesta altura porque o trabalho não o permitia, mas este ano vou. No ano passado não fui, por causa das restrições, mas agora não vou ficar cá”, esclareceu o emigrante. Quando a Suíça colocou Portugal na lista negra, o emigrante, que já tinha decidido que não comia o bacalhau fora do país de origem, recuou e ponderou mesmo não ir a lado nenhum. “Depois voltaram a mudar de ideias, até porque aqui há muitos emigrantes portugueses, e então tive a certeza que iria”, vincou o mogadourense, que, normalmente, vem sempre por alturas da Páscoa e também no Verão, sobretudo, podendo, em Agosto.

Tradição de vir depois das festas, mas sabese lá...

Na Suíça há 32 anos, Carlos Pires não costuma vir por esta altura de Natal. O português, natural de Alimonde, no concelho de Bragança, reside em Taverne, muito perto de Lugano, a maior cidade do Tessino, o cantão italiano a que pertence. Aos 62 anos, Carlos Pires, com duas filhas, veio a Portugal passar o Natal em escassas ocasiões, enquanto os pais eram vivos. Depois preferiu celebrar a festa pela Suíça. O brigantino, a quem não faltava por aqui trabalho, mas que viu a Suíça como uma boa oportunidade em termos financeiros, diz que costuma visitar a terra de origem depois das festas, ou seja, em Janeiro. Este ano tem ainda mais motivos para vir, até porque uma das filhas está a trabalhar temporariamente em Sintra. Contudo, para já as coisas são muito incertas. “Não vou no Natal, mas também já não tinha ideias de o fazer. Tinha sim intenção de ir depois das festas, mas vista a situação também não sei se não terei que esperar por melhores tempos. Eu pretendo ir se a situação permitir e se não houver dificuldades de maior. Nem que tenha de ir de carro”, contou o emigrante, que, caso opte pela viagem por terra, tem pela frente quase dois mil quilómetros. Carlos Pires, que neste momento faz trabalhos relacionados com a construção civil, canalização e jardinagem, costuma vir a Portugal noutras alturas, sobretudo em Setembro. Quanto a esta época não sente uma tristeza assim tão profunda em estar longe do país de origem. Apesar de Portugal ser a casa que o viu nascer, já viveu mais anos na Suíça do que aqui. Ainda assim, é claro que a forma como os transmontanos vivem a celebração lhe diz muito. Porém, a Suíça dá-lhe a oportunidade de festejar o Natal de forma semelhante ao que aqui é tido como tradição. “Sempre festejei o Natal com a minha família e, às vezes, entre alguns portugueses amigos que aqui vivem, portanto consideramos muito as tradições da nossa zona. O bacalhau não pode faltar”, começou por contar, sendo que na Suíça se há coisa que há mesa tem que estar, por exemplo, as lentilhas. Quanto ao resto... ainda que em termos de culinária seja diferente, no cantão onde vive “as pessoas são maioritariamente católicas”, assim, “em termos de espírito e sentimento, é tudo muito parecido com a celebração portuguesa”. Pelo Tessino, os emigrantes podem fazer um Natal farto, em termos do que é a tradição gastronómica transmontana, já que lojas de produtos portugueses não faltam. Se preferirem, podem comer ao estilo dos ricos de há mais de meio século, que não dispensavam as castanhas e a polenta (farinha de milho). Ao lado da Itália, o Tessino não é dos cantões que mais portugueses acolhe, mas por ali também não faltam. Carlos Pires conhece bastantes, sobretudo da nossa zona e de Chaves, e diz que há muitos que estão com algum receio, sobretudo por causa da constante mudança de normas, mas que há vários que manifestam interesse em vir trocar prendas com os seus.

Tuga que é tuga não se assusta. Nem sempre, vá

Gabriel Jesus, natural de Viseu, criou a Casa do Benfica, em Londres. De Norte a Sul de Portugal, por ali param muitos emigrantes, também da nossa terra. Ainda que os lusos sejam de pulso forte, a pandemia continua a assustá-los. “Até há três semanas estava tudo muito bem e algumas pessoas já tinham passagens marcadas. Agora, como vão surgindo restrições, as pessoas sentem medo e estão a recuar. Em principio, daquilo que por aqui oiço, há muitas pessoas que ficarão por cá”, esclareceu o empresário, que diz que os emigrantes “não falam em mais nada que não seja o ir ou não ir a casa”. Jacinta Fonseca também não é do distrito de Bragança, mas lida com transmontanos quase todos os dias. Está em Frankfurt, na Alemanha, onde criou A Tasquinha da Jacinta. Pelo restaurante passam vários emigrantes, sobretudo do Norte de Portugal, muitos deles de Mirandela e de Torre de Moncorvo. “Acho que as pessoas que estão vacinadas vão fazer o teste e vão à vida delas. No ano passado estavam com mais medo. Este ano não vejo os emigrantes muito receosos e os que param por aqui dizem que vão a Portugal”, contou a portuense, que todos os dias não deixa faltar as iguarias portuguesas nas mesas da tasquinha. João Verdades, natural de Portimão, está no Luxemburgo desde 2008. É o conselheiro das comunidades naquele país. O cargo consultivo, previsto em decreto lei, na legislação portuguesa, permite-o estar perto dos emigrantes e conhecer os seus anseios. “Sei que há várias pessoas que não vão a Portugal por questão de segurança e receio de ficarem retidas, com um eventual fecho de fronteiras. Eu não acredito que as fronteiras encerrem”, esclareceu, assumindo que “quem tem família no Luxemburgo tem tendência a ficar”, mas “os que não têm vão, na sua maioria”. A preocupação, para o conselheiro, está na possível demora da viagem, caso seja feita de carro, como será o próprio caso. “Não me preocupa que peçam os testes mas preocupa- -me que alguém saia daqui com teste antigénio, válido 48 horas, e que pare pelo caminho e que, por motivos de mau tempo, ou outros, a validade seja ultrapassada”, terminou.

Jornalista: 
Carina Alves