Comboio não regressa a Bragança tão cedo como as pessoas esperam

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Ter, 28/02/2023 - 10:38


O secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, disse, ontem, em Bragança, que a associação Vale d’Ouro mostrou que é possível voltar a trazer o comboio para Trás-os-Montes, de forma viável, mas “não há ilusões de que isto vai acontecer já amanhã”.

Ontem, em Bragança, na iniciativa “Agendas para o Território”, sob o tema “que futuro para a ferrovia em Trás-os-Montes?”, dinamizada pelos dois deputados socialistas de Bragança, Sobrinho Teixeira e Berta Nunes, o secretário de Estado, admitiu que “é compreensível de que as pessoas que foram abandonadas pelo caminho-de-ferro têm alguma impaciência de vê-lo regressar tão depressa quanto possível”. “Quando digo que não há ilusões não estou a dizer que nunca vai acontecer, estou a dizer que não vai acontecer tão cedo como as pessoas esperam”, assinalou, ainda assim. Esta associação, do distrito de Vila Real, a Vale d’Ouro, apresentou um estudo, apoiado por diversas entidades e pelos autarcas de Bragança, que representa uma solução alternativa ao que o Governo apresentou para a região, que pôs em cima da mesa a ligação Porto- -Bragança. A associação defende que Bragança não deve ser o fim da linha e que a ligação transfronteiriça deve ser feita pelo distrito. Ou seja, o Plano Nacional Ferroviário prevê ligar-nos a Espanha, a Salamanca mais concretamente, desde Aveiro, mas a associação considera ser mais viável que essa ligação inclua Bragança e, daqui, passe pelo Planalto Mirandês, em direcção a Zamora. Quanto a esta matéria, à proposta da associação, Frederico Francisco disse que, “pelo menos, do ponto de vista das mercadorias essa alternativa não existe. “Se queremos levar a sério os objectivos da Comissão Europeia, para a transferência modal e para o aumento do tráfego de mercadorias, provavelmente vamos precisar de ambas (as alternativas)”, rematou, dizendo que “os corredores de mercadorias que temos actualmente não vão ser suficientes”. Já do ponto de vista dos passageiros, “não é só o tráfego internacional que conta”. “Temos de juntar o tráfego nacional, regional, local e sub-urbano. Em todo este conjunto, uma linha não substitui a outra. Não é uma questão de fazer uma ou fazer outra, nem uma questão de fazer primeiro uma completa e depois a outra”, explicou, afiançando que se vão colocar as duas no plano e, depois, “os futuros governos decidirão, de acordo com a capacidade de investimento que o país tiver, com que ritmo se fazem, com base em estudos mais detalhados que aqueles que são possíveis fazer num plano para o país inteiro”. Frederico Francisco falou ainda da alta velocidade, no que toca a esta proposta, mas admite que estamos a “perder tempo” a discutir esta matéria. “A questão sobre se é de alta velocidade ou não também não se coloca neste momento. Aquilo que está no plano não exclui que esta linha possa vir a ser de alta velocidade, mas, neste momento, não temos elementos para dizer que ela tem que ser de alta velocidade e a diferença não é assim tão grande”, referiu, dizendo que “é um comboio moderno e os comboios modernos são rápidos”. Face a uma região que pede tantas vezes uma discriminação positiva, questionado sobre a possibilidade de se começar a executar o plano por aqui, o governante disse saber que “isto não é simpático para quem vive nos territórios,” mas “a geografia é o que é” e que o que faz sentido é começar por “estruturar a linha dorsal do território” para depois “servir o resto do território”. “Como o nosso território tem a população quase toda no eixo Braga- -Faro e todas as infraestruturas de transporte se ligam de uma forma ou de outra a esse eixo, a utilidade das outras infraestruturas fica muito prejudicada”, sublinhou ainda. Sobrinho Teixeira, deputado do PS pelo distrito de Bragança, tem outra perspectiva sobre este tema. “Temos de ser disruptivos. Se fazemos sempre tudo da mesma maneira, as coisas ficam sempre iguais e os primeiros ficam cada vez melhores e os últimos cada vez piores”, explicou. A consulta pública do Plano Nacional Ferroviário termina hoje, 28 de Fevereiro.

Plano de Mobilidade do Tua

Em Bragança, o secretário de Estado falou ainda das questões jurídicas que estão a emperrar o Plano de Mobilidade do Tua. Reconheceu que “há várias questões, ao longo dos anos, que se foram acumulando e que agora vão ter que ser desmontadas para verificar como é que é possível dar “cumprimento às expectativas da população” e colocar um serviço de transporte a funcionar. Dizendo não querer entar em detalhe sobre estas questões, que o queria fazer apenas quando tivesse alguma “solução concreta para apresentar”, disse que tão breve quanto seja possível algo será, de facto, apresentado como solução. Frederico Francisco disse ainda que o que pode dizer, por agora, é que se está a trabalhar “seriamente” no assunto. “Já fizemos todo um trabalho de recolha do historial e de avaliação. Já consegumos identificar os problemas que precisam de ser resolvidos. Já identificámos soluções para alguns e ainda não identificámos soluções para outros. Mas estamos a fazer progressos, não estamos parados”, terminou.

Jornalista: 
Carina Alves