Ter, 13/06/2023 - 11:39
Os produtores já esperavam quebras significativas devido às oscilações das temperaturas e à seca, o que não esperavam era a chuva e o granizo que veio nos últimos dias e que destruiu grande parte da fruta. Paulo Pires tem cerca de 20 hectares de cerejeiras em Lamas, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Contou que a chuva tem sido “terrível” para produção de cereja que “não tolera” o excesso de chuva das últimas semanas e que tem provocado rachas no fruto. “Temos cereja a sair para o mercado e tem 50 a 60% de rejeição por estar aberta”, disse. Acrescentou ainda que as quebras este ano são significativas, de 90% nas polpas moles e de 50% nas polpas mais rijas. No que toca à cereja rachada, a maioria “não tem qualquer tipo de aproveitamento” porque passa isso precisava de estar seca, para poder ser transformada em doce ou compotas. “Temos que assumir como produtores os prejuízos, porque os apoios do Governo são muito poucos e sobretudo a zona Norte do país é sempre muito esquecida”, afirmou. Filipe Quintela tem a produção em Bornes, Macedo de Cavaleiros, e também não está contente com a chuva. “Por exemplo apanhamos um balde e só aproveitamos meio balde e isso é muito transtorno”, disse. O produtor teve quebras de 50% de quebras nesta segunda apanha da cereja. Com o mau tempo a apanha também fica suspensa e depois quando é feita o fruto já está danificado, o que traz mais despesas aos produtores, explicou Armando Morais, com produção em Sambade, concelho de Alfândega da Fé. “Em termos de custo de mão-de-obra este ano está complicado, tem custos maiores, porque quem está apanhar a cereja também tem que fazer uma solução da cereja, tem que tirar a que está sã e deixar a outra na árvore, já não há um aproveitamento do tempo como devia ser e os custos aumentam”. O produtor queixou-se ainda que vai ser difícil de conservar a cereja, porque “já está estragada na própria árvore”. A Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé também já faz contas aos prejuízos. “Estamos a falar, só nesta altura, num prejuízo de três ou quatro toneladas de cereja que não vamos poder vender. A cereja que tínhamos para ser colhida para este fim-de-semana, a grande maioria já está rachada e já não vamos poder fazer a apanha”, disse o presidente. A cooperativa tem cerca de 30 hectares de cerejal, agora a ser reconvertido em cereja biológica. Luís Jerónimo explicou que isso impede a utilização de alguns produtos que podiam ajudar a salvar o fruto. “Com a reconversão para biológico não podemos aplicar todo o tipo de produtos, têm que ser aplicados apenas os produtos autorizados pela Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural”. Os produtores marcaram presença na Festa da Cereja de Alfândega da Fé e o preço da caixa variava entre 7,5 aos 10 euros.
Festa da Cereja de Alfândega da Fé
A Festa da Cereja decorreu entre sexta-feira e domingo, com venda de produtos, actividades culturais, gastronómicas, desportivas e concertos. Além da venda da cereja, havia também comerciantes com produtos regionais. Joana Mónico está agora à frente de um negócio que era do pai e tem uma cozinha regional em Alfândega da Fé. Há 14 anos que participa na feira e é “sempre bom promover os produtos locais”. Vende fumeiro, folares e económicos e estava convicta de que iria ser um bom certame, já que a Festa da Cereja costuma trazer “muita gente”. Este ano participaram cerca de 50 expositores. Uma adesão que superou as expectativas. “A adesão foi muito superior à que oferecemos. Este ano, fruto da liberdade que temos das medidas da covid, decidimos abrir a outros expositores da região. Há expositores que já não vinham a Alfândega da Fé há três anos e este ano alargamos o leque de expositores, porque esta festa é de Alfândega da Fé, mas também da região”, frisou o presidente da Câmara Municipal, Eduardo Tavares. A animação ficou a cargo de Nuno Ribeiro, Tony Carreira e Cláudia Martins e Minhotos Marotos.