Ter, 20/09/2005 - 15:04
Jornal NORDESTE (JN) - Que motivos a levaram a candidatar-se à Câmara Municipal de Bragança?
Conceição Gomes (CG) - A juventude. O Sentimento da falta de uma proposta alternativa, de confiança e séria de esquerda. Os últimos resultados obtidos pelo Bloco de Esquerda nas Eleições Legislativas. Contribuir para um desenvolvimento mais racional e justo da cidade e do concelho. Denunciar todas as irregularidades a que temos assistido.
JN - O que considera um bom resultado nas Eleições de 9 de Outubro?
CG - Sabemos que não iremos ser a força política mais votada, contudo isso não quer dizer que não possamos ter um discurso de vitória. Estamos a trabalhar no sentido de levar até todos os Brigantinos o nosso projecto, as nossas ideias alternativas e as nossas críticas, por isso mesmo, consideramos que um bom resultado será conseguir fazer chegar a nossa mensagem a todo o concelho e, claro é que a votação será um reflexo disso mesmo…aumentar o “score” conseguido nas últimas legislativas e eleger os nossos candidatos em todas as disputas eleitorais nas quais nos envolvemos.
JN - Quais são as três prioridades do seu programa eleitoral?
CG - Participação, transparência e ambiente. Para tal definimos um conjunto de compromissos temáticos – Saúde Pública; Educação, formação, profissão; Património natural/património construído; A cidade e as suas gentes; Identidade, usos e costumes. Aspectos que consideramos fundamentais para o efectivo melhoramento da qualidade de vida das pessoas e, logo, consequentemente, um maior e melhor desenvolvimento do concelho.
JN - O candidato da CDU promete transferir a ETAR, enquanto o cabeça de lista do PS garante que fará regressar o Mercado Municipal à Praça Camões ou a outro local do Centro Histórico. Qual é a posição do BE nesta matéria?
CG - Ora aí está aquilo que jamais fizemos, fazemos ou faremos - PROMESSAS.
Não é só por não acreditarmos nelas… Cá estão dois excelentes exemplos do tipo de política, se é que a isso se pode chamar política, que o Bloco de Esquerda não faz, demagogia e laxismo com aquilo que é de todos e com os investimentos de vulto já preconizados.
Relativamente à ETAR, com certeza foi um erro, erro crasso, pelo qual o Eng.º Jorge Nunes deveria ser agora responsabilizado e penalizado, no entanto, isso não nos pode permitir, desde já afirmar o que quer que seja, relativamente à solução para este problema. Com certeza, gostaríamos que a ETAR não estivesse ali, mas será preciso estudar e procurar alternativas válidas e viáveis para esta grosseira agressão ambiental.
No que diz respeito ao regresso do mercado municipal para a Praça Camões, nem sequer a vamos comentar…para além do que está dito atrás acerca da postura dos partidos do círculo do poder relativamente aos investimentos públicos e à facilidade como deitam dinheiro ao lixo!... Consideramos, uma vez mais, uma péssima aposta, por parte do actual executivo, a construção desse elefante branco, para o qual não há uma ideia, uma perspectiva de revitalização. A nossa proposta é revitalizá-lo onde está e procurar novos atractivos para que as pessoas comecem a incluir nas suas redes vivenciais tal espaço.
Quanto à Praça Camões, e tal como é por nós assumido no programa, é um excelente espaço, central e com acessibilidades, por isso só há que dinamizá-lo: transformar esse “deserto” num espaço verde e espaço sombra, de lazer, de encontro e de sociabilidades. É esta a nossa proposta.
JN - O que mudaria na política cultural que tem vindo a ser adoptada pela CMB? Ou, na sua perspectiva, não existe qualquer política cultural?
CG - Se considera que ter uma política cultural para o concelho é queimar milhares de contos em espectáculos piro-musicais; se considera que ter um projecto cultural diversificado e variado, é contratar um “punhado” de bandas musicais, que durante dez dias debitam sons e ruídos num dos extremos da cidade; se considera, ainda, que ter um projecto cultural é construir um teatro municipal e, depois, tê-lo às moscas, sem audiência, porque quase ninguém tem capacidade financeira para usufruir desse espaço – o teatro municipal tem que ser um espaço de encontro e de reunião, não um espaço de exclusão e de separação como tem sido até agora; se considera que o estado degradante onde se encontra um espólio extremamente valioso e que da pelo nome de arquivo municipal; se considera que ter um espaço ou promover um qualquer evento isolado é ter uma política cultural, então nós dizemos que não!
Defendemos que uma Câmara Municipal deve ter em conta as características da sua população e, então, dirigir todos os seus esforços para satisfazer o maior número de pessoas. Neste caso em particular, pensamos que o que tem sido feito é satisfazer uma ou outra minoria da elite urbana.
JN - Considera que os avultados investimentos da CMB no PROCOM e no POLIS contribuíram para melhorar a qualidade de vida e para revitalizar o centro histórico?
CG - Apesar de considerarmos que estes dois programas são excelentes instrumentos para revitalizar e reabilitar os espaços urbanos, no caso de Bragança o efeito foi o contrário, pois o que assistimos foi a um constante e progressivo abandono do centro da cidade e do centro histórico. Que ninguém venha agora dizer, só porque captaram as avultadas verbas destes programas, que foi um enorme sucesso em termos sociais e da requalificação urbana, pois se não vemos lá pessoas, algo correu mal.
Não adianta ter dinheiro e vontade de fazer obra, se não temos uma ideia daquilo que se pretende, daquilo que as pessoas precisam. Defendemos a noção de cidade enquanto projecto em construção, pensada não só para o dia das inaugurações, mas a médio e longo prazo, pois todos os projectos devem ser pensados e sempre realizados para o bem da comunidade.
JN - Que medidas pretende tomar para dinamizar o Mundo Rural, em particular a vila de Izeda?
CG - Izeda!? Porquê em particular!?... Então e Pombares, Deilão, Carrazedo, Parâmio e todas as outras freguesias!? Não pertencem a Bragança!? Pois aqui está um sinal bem evidente da discriminação que o actual executivo tem preconizado e, até, incentivado… Brigantinos de primeira, segunda e terceira categoria! Isso é lixo. Para nós é inconcebível, nos dias de hoje, que haja populações do concelho que não usufruam de todas as condições básicas de “sobrevivência”. E estes senhores ainda têm o descaramento de lá irem mendigar o voto, prometendo que agora é que vai ser…
JN – Pensa que os jovens de Bragança têm condições para se fixarem na sua terra natal?
CG - Todos têm o direito a ambicionar o melhor que a vida lhes puder proporcionar, por isso não será de estranhar que muitos procurem uma melhor situação de vida, noutras paragens. Quem não compreende isto, não conhece a realidade da maioria das aldeias do nosso concelho. Que alternativas, que soluções foram já apresentadas por este executivo para contrariar esta tendência demográfica. São estas as políticas erráticas da direita, que nós combatemos acerrimamente, e estaremos na primeira linha para as denunciar e, também pedir satisfações a quem de direito.
JN - Em algumas ruas da cidade assiste-se a pavimentações de última hora. Pensa que a CMB adoptou a “política do alcatrão” com vista às eleições?
CG - Política!?... No nosso ponto de vista, o dramático é que não vislumbramos qualquer política séria, nem no passado, nem agora para o futuro. Só políticas para o voto!...Para além de não percebermos de quanto tempo mais precisa o actual presidente para fazer obra…oito anos não foram suficientes!? Numa análise ao que vivemos hoje, realçamos o vazio e a superficialidade com que os assuntos são tratados e o à vontade com que se assumem compromissos com a população.
O nosso caminho não é esse e sabemos que estamos a conseguir mudar o actual estado da situação… pedagogicamente e sem pressas vamos construindo uma participação crítica e uma lógica de intervenção cidadã.
Entrevista de João Campos
“Há Brigantinos de primeira, segunda e terceira categoria! É inconcebível que haja populações do concelho que não usufruam de todas as condições básicas de “sobrevivência”. E estes senhores ainda têm o descaramento de lá irem mendigar o voto, prometendo que agora é que vai ser…”