Bragança pode voltar a ter comboio mas realidade pode estar longe

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Ter, 22/11/2022 - 15:58


Ligação Porto-Bragança deve ser feita numa nova linha e em menos de duas horas

O comboio pode voltar a apitar em Bragança. O Plano Ferroviário Nacional foi apresentado, na passada quinta-feira, pelo Governo e está incluída uma ligação ferroviária Porto-Vila Real- -Bragança, com ligação a Zamora, em Espanha. Na sessão de apresentação, o coordenador do grupo de trabalho criado para o plano explicou que é necessário criar uma “nova linha”, uma vez que “não faria sentido” retomar a que existia anteriormente, porque “as viagens entre Vila Real e o Porto demorariam três horas” e as “viagens entre Bragança e o Porto demorariam cinco horas”. “A única forma que faz sentido é ligar as duas capitais de distrito com uma linha nova, com tempos de viagens competitivos com a ferrovia. Isso significa que a viagem Vila Real-Porto deve demorar menos de uma hora, a viagem Bragança-Porto deve demorar menos de duas horas”, disse Frederico Francisco. Bragança e Vila Real já não têm linha férrea desde 1992 e 2009, respectivamente. O presidente da Câmara Municipal de Bragança, Hernâni Dias, disse ter ficado “satisfeito” com a intenção da construção da linha, mas confessa ter ficado descontente com o facto de não se prever uma ligação de alta velocidade, mantendo o Governo a mesma “atitude” para com o nordeste transmontano, a do “esquecimento”. “Já não posso ficar tão satisfeito é pelo facto de verificar que sendo este o corredor mais curto entre Porto e Espanha não esteja prevista uma ligação de Alta Velocidade apostando o Governo, uma vez mais, em deixar de fora o território de Trás- -os-Montes, como se percebe pelos mapas que nos foram apresentados, a ligação a Espanha será na zona Centro, passará por Aveiro e depois Salamanca”, afirmou. O Plano Ferroviário Nacional já foi aprovado pelo Governo e as intenções serão concretizadas até 2050. O autarca de Bragança reconhece que “as coisas não acontecem de um dia para o outro” e que é necessário “tempo” para “trabalhar os projectos e todos os procedimentos necessários à construção destas infra- -estruturas”. Ainda assim, “gostaria que tudo ficasse concretizado até 2030”. O presidente da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes diz estar “optimista” quanto ao plano, ainda que esteja com “algum cepticismo”. Jorge Fidalgo defende que “sendo Bragança uma das cidades que não tem actualmente caminho-de-ferro que possa ser uma das primeiras intervenções”. “Já que fomos os últimos na rodovia, continuamos sem ferrovia, que agora possamos ter o mais rapidamente possível a ferrovia”, afirmou. Jorge Fidalgo defende ainda que a ligação ferroviária de Bragança a Zamora seja feita por Miranda do Douro, porque “passa a servir mais o território”, ou seja, “mais pessoas” e, por outro lado, “em termos de tempo, também em curta a distância”. “Numa questão de coesão territorial, que é disso que se trata, nós temos que aproximar o território da CIM Terras de Trás-os- -Montes dos outros territórios do país, designadamente do litoral”, referiu o presidente da CIM. A linha transmontana já vinha a ser reivindicada pela Associação Vale D’Ouro, nos últimos anos. A proposta da associação foi tida em conta no plano, no entanto, não foi considerada na “totalidade”. “O início da linha em Caíde, proposto no plano, não é tecnicamente viável e não acrescenta valor ao investimento uma vez que a Linha do Douro entre Porto e Caíde já tem muito tráfego urbano, ficará ainda mais solicitada com a Linha do Vale do Sousa e com o natural crescimento desse eixo suburbano, por isso, a solução natural, é a ligação ao aeroporto”, referiu o presidente da Associação, em comunicado. Luís Almeida considera ainda que “a Linha do Douro precisa de ser reaberta para Espanha e as mercadorias são fundamentais para o Porto de Leixões, para o minério de Moncorvo e para os “earliest consumers” do futuro corredor de Trás-os-Montes”. O Plano Ferroviário Nacional vai agora a consulta pública. A Associação Vale D’Ouro garante que vai participar na consulta pública, porque entende que “há ainda espaço para melhorias no plano”. Vai ainda ser feita uma avaliação ambiental e, mais tarde, o Plano Ferroviário Nacional será levado à Assembleia da República para ser transformado em lei.

Jornalista: 
Ângela Pais