Bragança é a segunda casa dos espanhóis no Natal

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Ter, 17/12/2024 - 12:24


Época natalícia faz dinamizar hotelaria, restauração e comércio em Bragança. A Terra Natal e de Sonhos é uma das grandes atracções

Em plena quadra natalícia, o evento Terra Natal e de Sonhos, em Bragança, é uma atracção para os visitantes. Desde 30 de Novembro e até 6 de Janeiro, as pessoas vão poder patinar na pista de gelo, as crianças andar nos carrosséis ou no comboio, visitar a casa do Pai Natal ou até beber um chocolate quente. Ao longo do mês há ainda diversas iniciativas, como concertos, trail solidário, workshops, oficinas, entre muitos outros. Segundo o município de Bragança, o evento gera “3 milhões de euros” no concelho.

A segunda casa dos espanhóis

Nesta altura do ano, parece difícil perceber se é o português ou o espanhol que mais se ouve nas ruas de Bragança, ao fim-de-semana. Grande parte dos visitantes são da zona de Zamora e muitos são repetentes. Ester Álvares, de Zamora, é a segunda vez que visita a Terra Natal e de Sonhos. Veio pela primeira vez o ano passado e quis repetir. “Gostamos do ambiente, é muito bonito e para as crianças é espectacular”, afirmou. Ficaram hospedados em Bragança durante o fim-de- -semana e o que mais os atraiu foi a pista de gelo, embora também tenham passeado pela cidade. “Estivemos na pista de manhã e voltámos à tarde. Fazemos as atracções várias vezes durante o dia”, contou. Jaissa Sevilha já conhece bem Bragança. Embora viva em Zamora, visita bastante a cidade, porque tem cá família. Ir à Terra Natal e de Sonhos é uma tradição desde que abriu no primeiro ano. “Cada ano está mais bonito”, vincou, salientando que o que gosta mais é da pista de gelo. “Toda a gente de Zamora vem pela pista de gelo”, rematou. Por outro lado, Verónica visitou, este sábado, a Terra Natal e de Sonhos pela primeira vez. “Está muito bem, tem muito entretenimento. É muito económico e podes vir várias vezes”, destacou.

Hotelaria e restauração ficam a ganhar

Mesmo junto à Praça da Sé, perto da Terra Natal e de Sonhos está o restaurante Solar Bragançano. Embora não tenha falta de clientes ao longo do ano, nesta altura, há “muita muita gente” e “já está tudo reservado”. Segundo a proprietária, Ana Maria Rodrigues, vêm pessoas de todo o país, mas são os espanhóis que reinam. “Agora aos fins-de-semana só se fala espanhol aqui”, contou entre risos. Admite que o trabalho neste mês é “muito concentrado” e até “demasiado”, mas é “muito bom”. “Traz muita gente, as empresas também fazem as ceias de Natal, de forma a que à noite são ceias de Natal e durante o dia há muito espanhol, sobretudo, muitas crianças”, disse. A pista de gelo é uma grande atracção para os mais pequenos e as pessoas aproveitam para vir em família. “Vêm mais em família, do que em casal”, referiu, acrescentando que a servir oito pessoas por mesa. Quanto às preferências gastronómicas, este restaurante é conhecido pelos seus pratos de caça, que são também uma opção para os visitantes. “Normalmente não escolhem o bacalhau, nem o polvo, porque isso vão comer em casa na noite de consoada. Escolhem mais a vitela, cordeiro e pratos de caça. Há uns anos os espanhóis vinham e era sempre bacalhau, agora já variam muito, escolhem mais os pratos de caça”, explicou. O Solar Bragançano também organiza, todos os anos, um jantar de Passagem de Ano. Ana Maria Rodrigues disse já ter “tudo” reservado para essa noite. Perto da Praça da Sé, alguns metros acima, está uns dos hotéis mais antigos de Bragança, o Tulipa. A proprietária não tem dúvidas de que este tipo de iniciativas fazem a “diferença” para o comércio. “Falo por mim, é uma coisa incrível. Muito espanhol, muitos filhos, as nossas camas extra e berços esgotam”, contou Elizabete Raimundo. No início de Dezembro começou a ter “muita afluência de outro tipo de clientes” no hotel, que ficam, em média, dois ou três dias. “Completamente diferente. Logo no feriado de 1 de Dezembro, que julgo que em Espanha é um feriado longo, porque prolongam, parecia que estávamos em Espanha. Só se falava espanhol em todo o lado”, disse. Há também quem venha a Bragança por outros motivos, mas depois acabam por ficar devido às actividades natalícias. “Também já temos outras pessoas que não vinham directamente para ir à pista de gelo, mas que depois ficam influenciadas e ficam mais um dia”, acrescentou. Segundo Elizabete Raimundo, alguns clientes chegam a reservar “de um ano para o outro”, porque já é tradição virem à Terra Natal e de Sonhos. Este ano, o hotel está ainda a dar um mimo especial aos clientes. Uma vez que o município decidiu organizar a Passagem de Ano, na Praça da Sé, os clientes que estejam hospedados no Tulipa vão ter direito a uma garrafa de champanhe e copos para poderem ir comemorar com a restante cidade.

Peças personalizadas em madeira atraem espanhóis

Na Cut Out esta época é risonha, em termos de vendas. Na loja, relativamente perto da Praça Camões, onde estão instaladas as diversões, vendem-se vários trabalhos em madeira, como sendo pendentes personalizados para a árvore de Natal, presépios, peças ligadas à decoração, nomeadamente velas e floreiras, produtos relacionados com a cozinha e a mesa, ou seja, marcadores de lugar, argolas para guardanapos, bases para copos, tábuas, e ainda bijuteria sustentável e peças ligadas ao território, como animais e folhas 3D, por exemplo. Mário Ortega, arquitecto e proprietário da loja, assinala que, como negócio “está muito ligado à região e há bastantes produtos relacionados com o turismo”, sente-se uma “diferença bastante significativa, sobretudo ao fim-de-semana”. “Eu diria que o impacto da Terra Natal e de Sonhos é bastante grande, sobretudo no que toca a espanhóis. É algo que nós sentimos há alguns anos e este ano permanece”, rematou. A loja está aberta desde 2022, sendo que, inicialmente, existiu, noutro espaço, como pop-up store. Mário Ortega diz que, por ali, também deverá passar, certamente, muita gente do concelho e até de concelhos vizinhos mas, obviamente, “é muito mais fácil identificar os espanhóis” e, esses sim, têm sido vários. “Sentimos que os clientes, o público, aumenta muito nestes dias”, frisou, assegurando que “se não fosse a Terra Natal e de Sonhos os clientes seriam menos”. Os visitantes da Cut Out “procuram, essencialmente, os best-sellers, os presépios”. “Aquilo que uma pessoa da comunidade local compra e o que um turista compra é mais ou menos o mesmo. Vendemos muitos presépios ligados à castanha e à amêndoa e também pendentes personalizados para colocar na árvore”, explicou, dizendo que, a par desta época, também se “vende bem” no mês de Agosto, quando os emigrantes regressam à terra, na Feira das Cantarinhas, já que a Cut Out apresenta uma novidade no mundo das cantarinhas, em vez de serem de barro são de madeira, no Festival do Butelo e das Casulas e no Carnaval. 

Espanhóis são os melhores clientes

Eduardo Trigo é proprietário do café Beira Rio, no Pólis. Estar mesmo ao lado da Praça Camões traz bastantes vantagens para o negócio. “Nem todos os dias há gente, mas aos fins-de-semana, claramente, há mais gente do que em período normal”, esclareceu, dizendo que, também aqui, o que se percebe bastante é a visita de espanhóis. “No primeiro fim-de-semana do mês tive muitos espanhóis a passar por aqui mas também recebi gente de Mirandela, de Alfândega da Fé, de outros pontos do distrito, pessoas que vêm visitar Bragança nesta época do ano, sobretudo por causa da Terra Natal e de Sonhos”, clarificou. Sobre as vendas, Eduardo Trigo diz que quem gasta mais são os nossos vizinhos de Espanha e que, no geral, entre portugueses e espanhóis, “nesta época, vende- -se bastante vinho do Porto e chocolate quente”. “Os espanhóis são melhorzinhos, mas os nossos também são bons. As pessoas, quando saem de casa, estão sempre dispostas a gastar mais um bocadinho. É uma época boa para facturar”, rematou. Segundo o empresário, a iniciativa, a Terra Natal, ajuda bastante os comerciantes mas “era preciso que as coisas estivessem mais dispersas”. “Acho que o sítio já está muito apertado para tanta coisa e está tudo no mesmo lugar. Era bem mais engraçado se houvesse animação por outras partes da cidade, como na Praça da Sé, no Polis ou mesmo no jardim, aqui à frente, junto ao Fervença. As pessoas poderiam andar de um sítio para outro e entrar noutros espaços comerciais e cafés. Poderia também haver artesãos a vender produtos relacionados com o Natal”, terminou.

Muita afluência, mas pouca venda

Cândida Gonçalves é proprietária da loja de roupas “Mareva”, localizada na rua Alexandre Herculano, em Bragança. Ela afirma que, nesta época do ano, os espanhóis são os visitantes mais frequentes na cidade, pois já conhecem ou têm curiosidade em explorar a Terra Natal e de Sonho. Na sua opinião, o impacto é principalmente para os turistas, que “adoram” e acham que “está lindo”. Para os brigantinos, é positivo porque “vemos mais visitantes nas ruas”. Em relação às vendas na sua loja, Cândida observa que a pequena loja no centro de Bragança permite realizar “algumas vendas”, como gorros, cachecóis e, principalmente, luvas, mas admite que não é nesta época do ano que as vendas são mais expressivas. "Tenho os meus clientes habituais, claro, e é óbvio que, nesta altura, vendemos mais presentes de Natal. Mas quem vem à Terra Natal e de Sonho compra, principalmente, cachecóis, gorros e luvas, são esses os itens que mais procuram", destaca. Cândida Gonçalves também faz questão de ressaltar que tem amigos em concelhos vizinhos, que fazem questão de visitar a Terra Natal e de Sonho. Ela mesma admite que gosta de dar sempre um "pulinho" à sua pequena cidade Natal com as filhas. Da roupa aos livros, também fomos conhecer Fernanda Silva, dona da papelaria Popular. A vendedora partilha a mesma opinião que Cândida e menciona que a Terra Natal e de Sonho tem maior impacto “no centro da cidade, onde estão a pista de patinagem e as barraquinhas”. As lojas ao redor aproveitam parte da afluência, mas não de maneira excessiva. Segundo Fernanda, os visitantes passam pela papelaria, mas nem sempre compram, quando o fazem geralmente compram “recordações, presentes de Natal, livros, ímãs para o frigorífico, especialmente ímanes dos caretos, em especial itens relacionados aos caretos”, disse.

 

Jornalista: 
Ângela Pais/Carina Alves/Cindy Tomé