“A arte e todas as ocupações artísticas são algo que vêm dar mais valor à minha vida”

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Ter, 13/04/2021 - 11:03


Adelia Clavien nasceu em Mirandela, em 1962. É pintora, fotógrafa e um sem fim de outras coisas. A viver na Suíça desde os 18 anos, a mirandelense assume-se uma verdadeira curiosa e é a vontade de aprender que a têm ajudado a seguir caminhos, talvez, nunca planeados

Considera-se uma artista multifacetada?

Todos nós somos artistas. Todos temos dons. O que faço é apreciado como arte mas não me considero artista. Vivo a minha paixão, que é a pintura, a fotografia, a dança, a música e mais um monte de outras coisas. Tudo isso então é arte. É uma maneira de viver.

Mas como é que a fotografia e a pintura, por exemplo, entraram na sua vida?

Acho que as pessoas já nascem com uma certa curiosidade, querer saber e aprender. Quando tive a primeira máquina fotográfica, vi logo que aquilo era uma paixão. Há mais de 25 anos que não paro de fotografar. Gostei do que fazia e do resultado. O querer fazer mais e descobrir foi o que fez crescer as coisas e aprofundá-las.

E a pintura?

A pintura veio mais tarde, já com cerca de 40 anos. Estive casada com um pintor suiço e talvez também me tenha surgido daí a vontade, mesmo que inconscientemente. Tínhamos um quadro muito grande na sala, que eu não gostava, e pensei em fazer alguma coisa para o substituir. Não houve estudo nem planeamento, foi muito espontâneo.

Em que estilo se enquadra a sua arte no que toca à pintura?

No começo pintava muito quadros abstratos e pintura naif, mas rapidamente parei. Também fazia muito figuras africanas, tenho quadros muito bonitos, que se vendiam bem. Depois comecei a fazer retratos: o chamado pop art ou novo realismo. Tudo isto começou tendo por base a fotografia. Comecei a fazer montagens com as fotografias que tinha. Peguei em retratos e comecei a sobrepô-los, no computador, onde se compõe tudo. Depois a obra é impressa sobre tela, pintada com vários suportes (acrílico, areia, etc) e, por fim, é passada uma camada de resina. Essa técnica está a ter muito sucesso e tem-me dado muito prazer.

Já expôs na região que a viu nascer?

Não. Eu sou uma iniciante nesta área. Em nenhum momento, desde que comecei, em 2013, pensei em expor na região até porque nunca ninguém me contactou para isso. Para já, tenho estado a compor e a criar o meu estilo, assim como a minha posição no mundo da arte. 

Mas já expôs em vários países....

As minhas obras já estiveram na Alemanha, na Itália, na América, em diferentes sítios, em Barcelona, na França, na Suécia, entre muitos outros lugares. Elas viajam e têm sucesso. Em Portugal já expus por duas vezes, em Lisboa. Agora, tenho em preparação uma grande exposição para o Porto. O que tem estado a decorrer é mais sobre pintura. Mas há certas exposições de fotografia e até foi assim que eu comecei.

O que é que a arte representa na sua vida?

É uma componente enorme. Trata-se de prazer. A vida não é só para trabalhar. Essa parte é para vivermos bem e felizes. Sem trabalho não há dinheiro e sem ele não há conforto. A arte e todas as ocupações artísticas são algo que vêm dar mais valor à minha vida. A arte também me dá prazer porque dou prazer aos outros através do que lhes apresento e vendo.

Tem outro trabalho e não depende da arte para viver, mas como é que é ser artista em tempos de pandemia?

Até agora estou muito contente porque tenho sabido sair bem desta situação. O confinamento tem ajudado a desenvolver outros projectos, até mesmo virtuais, já que os media ajudam a popularizar a arte. Os artistas estão cada vez mais independentes já que têm que fazer por si, uma vez que tudo está fechado. Isto ajudou-me a desenvolver várias outras facetas. Apesar de tudo, tenho que confessar que é difícil não ter a parte física, as exposições, a parte social, o contacto com as pessoas. Posso dizer que, estou em casa desde Março do ano passado, e tenho vendido muito bem, as pessoas contactam-me e podem vir ver as obras. Está a funcionar tudo tão bem que abri um galeria minha em Lausanne, onde exponho as minhas obras.

É difícil escolher entre o que faz? O que mais a apaixona?

O que faço hoje em dia, em termos de pintura, não posso dissociá-lo da fotografia porque as minhas obras são ligadas a isto, são composições de fotografia. Isto é um conjunto. Podemos separar estilos de pintura e quanto a isso posso dizer que me dá mais prazer o abstracto e o pop art.

Jornalista: 
Carina Alves