Ter, 30/05/2023 - 10:56
A apicultura atravessa o pior ano de sempre. As oscilações das temperaturas, os custos de produção, as quebras e a falta de apoios estão a fazer com que o sector já não seja rentável. Nos últimos quatro anos as produções de mel têm vindo a cair drasticamente. De acordo com o presidente da Associação Apicultores Parque Natural de Montesinho, que engloba cerca de 250 apicultores dos concelhos de Bragança e Vinhais, as produções têm “descido a zero” nos últimos anos e este ano “caminha pelo mesmo”. “Deve-se essencialmente à oscilação das temperaturas, às amplitudes térmicas. Temos um dia quente, dois dias frios, temos temperatura bastante alta durante o dia, temos temperaturas baixíssimas durante a noite, não há uma regularidade como havia”, explicou Manuel Gonçalves. Nos concelhos da Terra Quente o cenário não é diferente. O presidente da Cooperativa dos Produtores de Mel da Terra Quente, numa tertúlia sobre o ciclo da biodiversidade e a sustentabilidade da apicultura, que aconteceu a semana passada em Mirandela, frisou que os apicultores estão “a pagar para trabalhar”. “Em anos normais, na Terra Quente, a produção de mel andava nos 20 ou 30 quilos por colmeia, há três anos houve uma média de 7 ou 8 quilos, este ano que passou a média foi de 3 quilos por colmeia. Para que seja rentável tem que criar no mínimo 10 quilos, para o gasóleo, para os tratamentos, para a alimentação, para o material que é preciso repor”, explicou José Domingos Carneiro, adiantando que “não há ninguém que continue actividades com prejuízos”.
Abandonar actividade começa a ser solução
Carlos Alves é o maior apicultor do Parque Natural de Montesinho. Tem 1200 colmeias, em Passos de Lomba, concelho de Vinhais. A apicultura começou por ser um passatempo, mas há cerca de sete anos decidiu profissionalizar-se, quando a actividade ainda era “rentável”. Agora, os prejuízos são grandes. “O ano passado, na minha exploração, que se dedica exclusivamente à produção de mel, tive prejuízos entre os 12 a 15 mil euros”, afirmou. O apicultor não tem dúvidas de que a actividade “está em decadência” em Portugal. As produções são “muito baixas”, os custos de produção “elevadíssimos”, o alimento para as colmeias “duplicou” e, desta forma, começa a ficar “intolerável”. Se este ano as quebras continuarem significativas como nos últimos anos, ameaça deixar a apicultura. “Tenho que pensar seriamente se posso continuar, porque a actividade está a deixar de ser rentável”, sublinhou. Vende mel a granel para Portugal e até para Espanha e recentemente criou a marca “Apilomba”, com a expectativa de conseguir vender ao consumidor final. No entanto, há três anos que tem produções de mel “muito baixas”, sendo que o ano passado teve uma quebra de 50% em relação ao ano anterior e o ano anterior “já foi fraco”. Para já ainda é cedo para dizer como será a produção de mel este ano, mas da maneira como estão as colmeias prevê que seja igualmente fraco. Carlos Alves não compreende a falta de apoios do Ministério da Agricultura. “Temos de seguir as normas europeias a nível da produção de bens derivados da apicultura, como também a forma como tratamos as colmeias, no entanto quando se trata a direitos não temos os mesmos que os apicultores europeus”, afirmou, destacando que a tutela “não reconhece” a apicultura pelos serviços que prestam “à agricultura, aos ecossistemas e também como actividade económica”. Considera que o Governo deveria criar um subsídio para os apicultores, para que, em anos “maus” fosse garantida a sobrevivência das colmeias e também os tratamentos.
Apicultores sem apoios do Governo
“Não há qualquer apoio para os apicultores neste momento”, sublinhou Manuel Gonçalves, também presidente da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP). As únicas ajudas que o Governo dá são indirectas e pouco impacto têm para o apicultor. “Há um programa europeu, que está integrado no PEPAC, que é o apoio para as associações, são apoios para dotação de meios técnicos nas associações. Há apoios indirectos também na polonização, que são dados aos agricultores que depois contratam os apicultores, o que vai pôr os agricultores a discutir com os apicultores, porque a ajuda é para o Neste momento a apicultura está a passar pela pior fase que nos lembramos. Eu, que tenho cerca de 40 anos de apicultura, nunca me lembro de passar por uma fase destas”. Manuel Gonçalves agricultor proprietário da parcela que tem polonização, enquanto no nosso entender devia ser o inverso. Não há um apoio director para o apicultor”, referiu. Por isso, considera que, perante os prejuízos dos últimos quatro anos, está na altura de ser criada uma medida Agro-Ambiental para a apicultura e reclama ainda os apoios que todas as outras actividades económicas agrícolas têm. O presidente da Associação Apicultores Parque Natural de Montesinho e também da FNAP, Manuel Gonçalves, alerta ainda para os “problemas sanitários” que podem vir a ser “gravíssimos”, com a quebra da apicultura.
Município de Vinhais cria apoio
A Câmara Municipal de Vinhais quer ajudar os apicultores do concelho. Por isso, o executivo municipal criou um apoio, que virá a ser aprovado na Assembleia Municipal, que consiste na ajuda monetária de 2 euros, por cada colmeia, até 30 colmeias, e de 1,5 euros, por colmeia, a partir de 30 colmeias. “Nos outros sectores já damos apoios. A apicultura cada vez tem uma importância maior no concelho, portanto entendemos que também era justo este apoio para esta área fundamental”, disse o presidente da câmara, Luís Fernandes. O município de Vinhais a tentar mitigar os problemas dos apicultores, que não têm ajudas directas do Ministério da Agricultura.