Ter, 17/08/2021 - 11:09
A Amêndoa Coberta de Torre de Moncorvo, que se obtém levando o açúcar a um ponto especial e lançando-o, lentamente, sobre as amêndoas, numa bacia de cobre, esteve, há alguns anos, em risco de se perder, mas o cenário parece estar a mudar.
O produto, que é o mais identitário daquele concelho do Nordeste Transmontano, contava, até há bem pouco tempo, com apenas três mulheres que o trabalhavam, mas a realidade é que o número duplicou, sendo que agora há seis cobrideiras de amêndoa em Torre de Moncorvo, deixando assim garantida, por mais uns tempos, a continuidade da tradição.
Às três mulheres que cobriam a amêndoa juntam-se agora outras três, todas elas provindas das formações promovidas pelo programa Contratos Locais de Desenvolvimento Social, o CLDS, que, até agora, proporcionou a aprendizagem da arte a mais de 50 pessoas. “Temos feito várias formações de capacitação com uma formadora, uma artesã, que é produtora de amêndoa coberta”, explicou a coordenadora deste projecto, sendo que o CLDS 3G, altura em que arrancaram as formações, se prolongou de 2016 a 2019, ano em que se partiu para o 4G, mas se deu continuidade à ideia.
Catarina Lopes acrescentou ainda que uma das três mulheres formadas acabou também por certificar o produto, sendo que, até ali, também apenas uma das três cobrideiras que já existiam o tinha feito. “Isto está em expansão porque continua a haver muito interesse das pessoas em aprender e reproduzir este produto regional”, sublinhou ainda.
A amêndoa coberta de Torre de Moncorvo é, desde Março de 2018, um produto IGP (Indicação Geográfica Protegida), possuindo certificação oficial regulamentada pela União Europeia, que identifica um produto originário de um determinado local ou região e que detém uma determinada qualidade, reputação ou outras características que podem ser essencialmente atribuídas à sua origem geográfica.
Um produto cuja importância é assim de peso para o concelho moncorvense, não fosse também ele considerado, em Setembro de 2019, uma das Sete Maravilhas Doces de Portugal. Perante tanto prestígio, Catarina Lopes, afirmou que as formações têm sido decisivas na hora de se pensar em manter viva a identidade de Moncorvo, já que, ainda que só três pessoas se tenham dedicado ao negócio, há muita gente que agora sabe e tem capacidade para produzir amêndoa coberta. “Também tivemos pessoas a participar que já faziam amêndoa coberta mas vieram capacitar-se e aprender a fazer melhor. São francos sinais que o produto está longe de morrer tão cedo”, vincou a responsável pelo projecto CDLS 4G.
Ao certo, não se sabe como e quando é que esta actividade artesanal começou, mas, segundo a autarquia, há registos de que já em 1886 a amêndoa coberta estava presente na Exposição Universal de Paris e, dez anos depois, na Feira Internacional da Filadélfia. Uma arte que se entende ser necessário mostrar ao mundo, mas, desta vez, não foi preciso ir tão longe como à França ou aos Estados Unidos da América. Assim, durante o último fim-de-semana, de dia 14 a 16, assinalando também as festas da vila, que ainda não podem acontecer nos moldes normais, as cobrideiras saíram à rua, no seguimento do “Moncorvo com Sabor”, iniciativa da autarquia, em parceria com o CLDS 4G. Esta iniciativa contou com um mercado de rua, para venda dos produtos regionais, vários workshops, provas de degustação de vinho, muita animação para os mais pequenos e, claro, a arte de cobrir a amêndoa, ao vivo e a cores para quem passou por Moncorvo.