Alunos de Bragança com receio de entrar na rotina caso muitos professores adiram à greve desta semana

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Ter, 19/09/2023 - 11:28


Ano lectivo arrancou na quintafeira para vários alunos e, na sexta, começou, em definitivo, para todos

O ano lectivo arrancou na semana passada, para alguns alunos na quinta- -feira, mas para todas as escolaridades na sexta- -feira. As escolas voltaram a estar cheias e os encarregados de educação voltaram a levar os filhos à escola. Foi o caso de Patrícia, com uma filha a frequentar o 7º ano, um ano especial, uma vez que mudou de escola. “Espero que ela se adapte bem, que se adapte aos colegas, à nova escola e vamos ver como corre”, disse. Com a greve dos professores anunciada para esta semana, tem algum receio de que isso tenha impacto nas aprendizagens da filha. “Vamos ver como é que corre este ano, mas é um bocado complicado para eles, para depois conseguirem apanhar a matéria, ainda por cima numa escola nova”, disse. A frequentar agora o 12º ano, Maria sabe bem das consequências que a greve pode ter nas aprendizagens. O ano lectivo anterior ficou marcado pela greve dos professores e a aluna admitiu que isso levou a que matéria ficasse por leccionar. “Não acabámos um livro de História, que era a terceira parte e agora como vai haver uma greve vai ser um bocado complicado”, disse, acrescentando que tem algum receio, uma vez que no final do ano vai ter exame a História, necessário para entrar na universidade. Ainda assim, a jovem estudante está com boas expectativas. “Gostava de ter uma média melhor, porque vou para a universidade para o ano e espero que corra boa”, referiu. O regresso às aulas é também o recomeçar de uma rotina, que para alguns é difícil. Mariana Afonso, do 9º ano, disse que este arranque lectivo está a ser “estranho”, porque já não estava habituada a acordar cedo e a “rotina e stress dos testes” é um “bocado difícil”. O STOP, Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, convocou uma greve para esta semana. O protesto arrancou segunda-feira e estende-se até sexta. No primeiro dia de greve, na Escola Secundária Abade de Baçal, os alunos não se mostraram muito preocupados com o protesto porque acreditam que não haverá muitos professores a aderir. É o caso de Patrícia Oliveira, aluna do 9º ano, que diz não temer que muitos professores faltem durante a semana nem pelo ano lectivo fora, mas receia que alguns conteúdos fiquem perdidos. “Este ano, por exemplo, a Português e Matemática, tenho medo que muita matéria fique por dar e, depois, corra mal”, referiu a aluna, vincando que no ano lectivo transato “não houve muitos professores a faltar” e, este ano, acredita que seja parecido. Ainda assim, “se houver professores a faltar, esta semana, vai ser complicado entrar na rotina”. Ana Martins, igualmente do 9º ano, também acredita que serão poucos os professores que vão faltar esta semana. “Eu acho que todos virão. Raramente faltam. Poucos aderem à greve aqui”, frisou a estudante, que assumiu que, caso haja professores a faltar, durante a semana “vai ser difícil entrar na rotina, dificultando-a”. Maria Leonor Pires, de 9º ano, assume que no ano passado “não houve muitos professores a faltar”, mas teme que este ano fique matéria por dar. “Acho que poderemos não ter algumas aulas, mas no ano passado houve muitos professores a faltar”, esclareceu a aluna, que disse que conseguiu dar toda a matéria que era suposto. Quanto a este ano, decisivo, no que toca a escolher a área de estudos, para os próximos três anos, a aluna teme que, caso haja muitas greves, pelo ano lectivo fora, as coisas se compliquem. “Vai ser mau”, rematou. O STOP anunciou no final de Agosto uma greve nacional que começa esta segunda-feira e termina na sexta-feira, com uma manifestação em Lisboa. O protesto engloba todos os profissionais da educação.

Contratação de professores praticamente fechada

Por Bragança, o arranque do ano lectivo não podia ter corrido melhor. No agrupamento de escolas Emídio Garcia, com cerca de dois mil alunos, não há falta de docentes, segundo o director. Carlos Fernandes explicou que as três falhas de horários que tinham foram “colmatadas” com a bolsa de recrutamento, cujos resultados foram conhecidos na passada sexta-feira. Os funcionários também são os “necessários”, embora admita que estão “sempre a querer mais”. Quanto aos professores, o director reconhece que já têm uma idade avançada e são os docentes do pré-escolar e primeiro clico que aparentam mais “desgaste”. “Aí é onde noto mais desgaste, porque um docente que tenha uma turma com 64 ou 65 anos do pré-escolar ou do primeiro ciclo é sempre muito mais desgastante e são esses professores que acabam por meter baixa médica, ou por condições psicológica ou porque têm os ascendentes e alguns até os descendentes em situação debilitada”, disse. Ainda assim, diz que há professores com mais de 60 anos que querem continuar a leccionar e não apresentam qualquer dificuldade em dar aulas. “Tenho a experiência de ter vários docentes que têm 65 e 66 anos e que estão completamente identificados com o sistema e nem querem tão pouco sair e querem levar a profissão até aos 70”, referiu. No agrupamento de escolas Miguel Torga, também em Bragança, este ano foram matriculados cerca de 670 alunos, tendo-se verificado um aumento de cerca de 20 estudantes em relação ao ano lectivo anterior. De acordo com a directora, Fátima Fernandes, deve- -se “provavelmente a uma maior população estudantil e a uma escolha dos pais em relação ao nosso agrupamento”. Tem ainda 44 funcionários e 97 docentes. O arranque do ano lectivo, disse ter corrido “bem”, embora faltassem sete professores, de Filosofia, Português, Matemática, História, Educação Especial e dois do primeiro ciclo, “ou porque não foram preenchidos na altura da mobilidade interna ou por colegas nossas que estão de baixa médica”. No entanto, os horários foram preenchidos pela bolsa de recrutamento e, por isso, esperava que esta semana estejam a trabalhar em pleno a totalidade dos docentes. “Penso que na segunda- -feira arrancamos com todos os professores”, disse. Ainda assim, a directora reconhece que a classe docente está envelhecida, o que a preocupa. “Muitos de nós estamos em via de se aposentar, outros têm quatro ou cinco anos até à aposentação, preocupa- -nos, no fundo, o futuro da escola. O que será a escola daqui a três ou quatro anos se não houver a renovação de docentes e isso é preocupante”, frisou. Quanto ao Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, para já, é desconhecido o cenário. Tentámos chegar à fala com a directora, Teresa Sá Pires, mas, até ao fecho desta edição, apesar das tentativas de contacto, não foi possível. Em Vila Flor, quanto à contratação de professores, segundo esclareceu o director do agrupamento, Fernando Almeida, “nunca se pode garantir que esteja tudo fechado” porque “há horários temporários que irão surgindo, mediante as necessidades, nomeadamente ausências por motivo de doença, que possam dar, entretanto, entrada”. Por ser uma “situação” que acontece “com alguma regularidade”, o director diz que “em nada isto compromete o arranque do ano lectivo”. O Agrupamento de Escolas de Vila Flor tem cerca de 500 alunos. Por Miranda do Douro a contratação de professores também está “praticamente fechada”. “Temos apenas algumas necessidades de substituição, nomeadamente de docentes que meteram atestado médico. Já pedimos essas substituições. E temos ainda um horário ou outro que está a concurso mas a maioria dos docentes estão colocados”, referiu o director do agrupamento, António Santos, que disse que os horários a concurso têm a ver com os docentes para 1º ciclo, pré-escolar, Espanhol e Educação Moral e Religiosa Católica. Sobre esta matéria disse que “há docentes, com alguma idade ou em situação de doença, que têm que ser substitutos e as substituições já foram pedidas”. O director do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro esclareceu ainda que, no que diz respeito aos docentes, o ano lectivo “arranca em pleno”, prevendo-se um “ano normal”. Em Miranda do Douro há cerca de 580 alunos matriculados. Já por Vimioso, onde só é possível frequentar a escola até ao 9º ano, só falta um professor: o de Educação Moral e Religiosa Católica. “Estão todos colocados, fora este”, esclareceu a directora do Agrupamento de Escolas de Vimioso, Ana Falcão, que disse que esta questão aconteceu este ano “excepcionalmente”. Por Vimioso a questão de colocação de professores não tem sido uma dor de cabeça mas a directora contou que já houve um ano em que houve falta de um professor de Inglês, durante os segundo e terceiro período. Por Macedo de Cavaleiros também não há problemas. “Para já não temos nenhuma situação de falta de professores. Há baixas médicas, como costumam acontecer todos os anos, mas o processo de substituição está a decorrer com toda a normalidade”, referiu o director do agrupamento de escolas, Paulo Dias. O número de alunos matriculados ronda o mesmo do ano letivo transato, à volta dos 1300, e volta a haver apenas três turmas do ensino secundário regular. No ensino profissional mantêm-se dois cursos: Restauração e Técnico de Saúde. No Agrupamento de Escolas de Mirandela há 2050 alunos, 224 professores e cerca de 140 auxiliares de acção educativa. Por aqui há ainda que proceder a algumas substituições, que devem ser suprimidas com a abertura das bolsas de recrutamento. “Temos todos os professores de quadro, o que poderemos é ter que substituí-los durante o percurso. O panorama é que estamos a aguardar pela reserva que vai sair na sexta-feira para algumas substituições”, esclareceu o director do agrupamento, Carlos Alberto Lopes. Em Mirandela há um aumento de meia centena de alunos, comparando com o ano lectivo passado. Contudo, este aumento não obriga a que haja maior número de turmas. “Neste ano lectivo há um menor número de turmas, com alunos de necessidades especiais, o que leva a que as turmas fiquem maiores”, explicou o director do agrupamento.

Greve não causa alarme

transacto ter sido marcado por uma forte contestação dos professores, este ano lectivo começou com mais protestos. O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) convocou mais uma greve, que começou esta segunda-feira e se prolonga até sexta. Perante o cenário, o arranque de um ano lectivo marcado por protestos, questionado sobre possíveis constrangimentos e a imagem que se passa da escola, nomeadamente para quem está a começar o percurso, o director do Agrupamento de Escolas de Vila Flor considera que não se transmite “má imagem”. “Obviamente que não é desejável em nenhum sector e na educação muito menos mas, enfim, tanto são situações prejudiciais no fim do ano, como no início como no meio”, rematou, dizendo que “são situações que se deveriam resolver” e que se espera que se resolvam com a maior brevidade possível. Em Vila Flor, conforme disse Fernando Almeida, no ano passado sentiu-se o efeito de alguns protestos, sendo que, em alguns, não houve muitos docentes a aderir. “Aqui sentiu- -se o efeito, como se sentiu no todo nacional”, esclareceu, acrescentando que, este ano, caso as manifestações continuem, se o cenário for semelhante ao do ano passado, “as aprendizagens não estão comprometidas”. O director do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, António Santos, tem, praticamente, a mesma ideia, de que a greve não irá perturbar o começo das aulas. “Os docentes têm as suas razões, alguns aderem às greves, mas não é por um dia ou dois de greve que vamos comprometer um lectivo. Não estou muito preocupado com a questão”, vincou, dizendo ainda que, “mesmo que haja adesão, são formas de luta instituídas”, sendo que o que se gostava era que não houvesse razões para estes protestos. Por Miranda do Douro, segundo contou ainda o director do agrupamento, as greves podem sempre afectar as aprendizagens mas “afectar é diferente de comprometer” e, no ano lectivo passado, “as aprendizagens não foram comprometidas” e este ano pensa-se que o mesmo aconteça, que não haja transtornos de maior. Ana Falcão também considera que, no que toca à greve, é uma situação “muito constrangedora”. Naquele agrupamento de escolas que dirigi, Vimioso, a adesão aos protestos, no ano passado, não foi significativa, sendo que “houve apenas um dia em que a escola encerrou”. Por isso, espera- -se que este ano também não haja grandes transtornos. “É esperado que o arranque e o resto ano decorram normalmente”, vincou Ana Falcão. Com base no que já aconteceu no ano lectivo passado, o diretor do Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros, Paulo Dias, não acredita que as greves vão prejudicar a aprendizagem dos alunos. Assinalou que, no ano passado, “houve seis dias de paragem” e que, dependendo dos dias em que isso ocorreu, “pode ter incidido mais em umas disciplinas ou em outras, mas não é nada que os professores não consigam recuperar”. A directora do agrupamento de escolas Miguel Torga partilha da mesma opinião. “Eu acho que as escolas conseguiram até este momento dar resposta aos nossos alunos mesmo com todos os tumultos que têm havido, porque conhecendo a classe docente como conhece, põe sempre em primeiro o bem-estar dos nossos alunos e o futuro deles em termos de sucesso escolar”, disse Fátima Fernandes. Já Carlos Fernandes, do agrupamento de escolas Emídio Garcia, disse que as greves não tiveram muita adesão neste agrupamento, uma vez que “grande parte da população docente está já nos escalões de topo”, o que significa que está “à beira de reforma” e que “provavelmente as reivindicações gerais não afectam esses docentes”.

Ano lectivo não arrancou para todos

No Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros o ano lectivo não arrancou para todas as turmas por causa do atraso na realização das obras que decorrem no Polo 2. Assim, os alunos do 3º ao 6º anos só poderão começar a frequentar as aulas, provavelmente, na próxima semana mas tudo está dependente da conclusão de alguns trabalhos. Segundo esclareceu o director do agrupamento, “ainda não é certo, mas entre os dias 22 e 25 as aulas devem começar para os alunos do 3º, 4º, 5º e 6º anos”. “Mesmo assim é uma previsão ainda falível porque há muitas obras que ainda estão a acontecer”, rematou Paulo Dias. As obras permitem dotar aquele polo escolar de melhores condições, sendo que “foi feita uma cozinha nova e o refeitório também está a ser todo refeito”. Também há obras de beneficiação no que toca ao pavimento e à pintura das salas, aquecimento e arranjo de todos os pavimentos exteriores. “Vai passar a ter climatização, para Verão e Inverno, e vai ter pavimentos e mobiliários novos”, esclareceu ainda o director. Neste caso, “os atrasos não são muito grandes mas há sempre dificuldades, falta de materiais ou mão-de-obra”. Ainda assim, o director esclareceu que, de forma a estar tudo pronto, o mais breve possível, os trabalhadores têm feito os esforços que podem, nomeadamente trabalhar ao fim- -de-semana. Em Mirandela também houve obras. A requalificação da escola básica Luciano Cordeiro, frequentada por cerca de 500 alunos, garantiu um arranque de ano lectivo sem grandes constrangimentos. Por Mirandela não houve atrasos. O volume total do investimento, por parte da Câmara Municipal de Mi- randela, do Fundo Euro- peu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e da Direcção-Geral dos Es- tabelecimentos Escola- res (DGEstE), englobou a reabilitação integral de quatro blocos desta es- cola, a requalificação do Pavilhão Desportivo, a substituição dos telhados de fibrocimento, a aquisição de novo mobiliário e, entre outros arranjos exteriores, a instalação de cobertura do percurso pedonal entre a portaria e os blocos de aulas. Em curso agora está o projecto de reabilitação da EB de Torre de Dona Chama.

Jornalista: 
Carina Alves/Ângela Pais