Ter, 29/08/2023 - 10:30
Com o mês de Agosto, vêm os emigrantes e muitos assuntos para tratar nos serviços públicos. A afluência aumenta, mas a capacidade de resposta nem por isso. Durante este mês, passar perto da Conservatória do Registo Civil de Bragança é ver filas à porta. As pessoas desesperam por estarem horas à espera, outras porque têm de estar de pé e outras pelo calor se faz sentir. Carlos Miguel precisava de uma certidão de óbito. Já estava há uma hora à espera para ser atendido. A sua senha era o número seis, mas o atendimento ia apenas no número dois. Acreditava que ainda tinha que espera pelo menos mais outra hora. A viver há seis anos na cidade, disse que a experiência não está a ser muito boa no que toca aos serviços públicos. “Aqui em Bragança estou a notar uma diferença muito grande. Eu vim da zona do Alentejo, de uma cidade completamente diferente, Évora, muito mais ágil a tratar de qualquer situação e aqui Bragança falam tanto da qualidade de vida e eu não acho qualidade de vida nenhuma desde que cá estou”, afirmou, arriscando-se mesmo a dizer que em Bragança “os serviços são péssimos”. O utente considera que deveria haver um reforço do atendimento, visto que há mais pessoas a precisar do serviço. “Se têm a noção de que em Agosto Bragança duplica ou triplica a população por causa dos emigrantes, acho que deviam ter o bom senso de ter mais pessoal, funcionarem de outra forma e porque não abrir outro balcão. Este não é suficiente e além disso o espaço é reduzido e a localização também não ajuda muita”, criticou. O calor é também um problema para quem espera na rua, uma vez que a pequena sala de espera já estava cheia. “Se hoje aqui em Bragança estiverem 45 graus perto da hora do almoço, como esteve ontem, uma pessoa que esteja aqui fora, em pé, à espera um ou duas horas é incomportável”, reclamou. Alexandra Costa é emigrante, mas em breve deixará de ser. Vem da Suíça definitivamente para Portugal e começa a querer tratar de alguns assuntos. Há uma hora à espera para obter umas senhas para mudar o endereço do cartão de cidadão, admitiu que já começava a ficar “impaciente”. “É difícil vir ao registo civil nestas alturas e nas outras também. Estive cá no ano passado na Páscoa e também não consegui tratar de nada, não sei se é por falta de pessoal, ou por falta de organização”, referiu, salientando que devia haver outra loja de Registo Civil, porque “não é suficiente para tanta população que tem Bragança”. Maria Guerra não estava numa situação muito diferente. Era o seu primeiro dia de férias e foi para a porta do Registo Civil logo às nove da manhã, mal abriu. Foi levantar o passaporte de uns amigos, já que estes não o conseguiram fazer no dia anterior porque já não havia mais senhas para os atender. “Quando cheguei tirei a senha e depois perguntei ao segurança e ele disse-me que apesar de ser só para levantar os passaportes tinha que estar uma hora à espera. Não faz sentido, porque quando estão a fazer um cartão de cidadão ou um registo vão demorar mais tempo, portanto no intervalo, enquanto as pessoas estão a assinar ou o que quer que seja chamavam estes casos”, disse. A utente não compreende porque não há um reforço dos serviços no mês de Agosto, visto que há também mais gente na cidade. “É mês de férias, os funcionários têm que ter férias, mas deviam assegurar isso, pôr mais gente, há tanta gente desempregada”, vincou. Ao que conseguimos apurar, na manhã de quinta-feira havia cinco funcionários atender ao público no Registo Civil de Bragança. No entanto, a sala de espera estava cheia e à porta era visível o aglomerado de pessoas. O tempo de espera chegava a ser superior a uma hora. As senhas são atribuídas quando os utentes chegam, mas são limitadas, quer isto dizer que as senhas podem ser atribuídas todas no espaço de uma hora e qualquer pessoa que venha depois, mesmo que ainda esteja dentro do horário de atendimento, não é atendida. Na porta está até afixado um papel onde é possível ler “não há senhas toleráveis”. Contactámos a tutela, via e-mail, para perceber se foi tomada alguma medida ou feito reforço no mês de Agosto para tentar minimizar este tipo de situação. No entanto, até ao momento não conseguimos qualquer esclarecimento. Sabe-se apenas que o Ministério da Justiça, em Maio, renovou o Registo Civil online, permitindo que mais assuntos pudessem ser tratados através da internet, como “iniciar um processo de casamento, requerer o divórcio ou solicitar uma certidão de registo civil através da chave móvel digital, recorrendo à Plataforma Digital da Justiça”. Nas Finanças de Bragança a situação não está muito diferente. Os emigrantes também aproveitaram para tratar assuntos e a afluência foi notória durante Agosto. Além disso, o serviço de tesouraria continua com constrangimentos. Em Abril, o Jornal Nordeste avançou que a tesouraria estava a funcionar apenas uma vez por semana, com marcação prévia. Agora nem uma vez por semana. Ao que conseguimos apurar, há funcionários de baixa e de férias, estando o balcão encerrado. Tentámos fazer um agendamento online para fazer um pagamento e a data disponível é 8 de Setembro e com apenas três opções de horário, ou seja, apenas três pessoas podem ser atendidas nesse dia, não dando mais datas disponíveis. A afluência e a dificuldade de dar resposta dos serviços públicos de Bragança está a gerar indignação a quem os procura para resolver problemas.