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Um país que se quer com futuro não se pode esquecer de Trás-os-Montes

Ter, 22/04/2025 - 10:40


Finalmente registou-se a inclusão da ligação ferroviária Porto-Vila Real-Bragança no Plano Ferroviário Nacional. Mais do que uma promessa, trata-se de um reconhecimento oficial de uma das mais justas e antigas reivindicações de Trás-os-Montes. Depois de décadas e de sucessivos cortes que deixaram a região isolada, vislumbra-se assim um futuro em que Bragança e Vila Real voltam a estar ligadas ao país, e à Europa, por caminhos de ferro.

A ferrovia é sinónimo de mobilidade, coesão e desenvolvimento sustentável. Representa a possibilidade real de fixar população, atrair investimento e integrar economicamente uma região que tem sido vítima de um centralismo cego e de políticas públicas que acentuaram os desequilíbrios entre o litoral e o interior. Com tempos de viagem competitivos e a criação de um novo corredor logístico, a Linha de Trás-os-Montes pode ser o catalisador de uma nova Era para este território.

E digo isto porquê? Porque esta concretização poderá ser decisiva para atrair empresas, não só pela melhoria da logística e do acesso aos mercados, mas também porque coloca finalmente em evidência uma qualidade de vida que já cá existe: tranquilidade, segurança, proximidade à natureza, comunidades coesas e custos de vida acessíveis. São fatores cada vez mais valorizados por trabalhadores e empreendedores, sobretudo numa altura em que o trabalho à distância e os novos modelos de negócio permitem descentralizar a atividade económica. Com a infraestrutura certa, Trás-os-Montes tem tudo para se tornar num destino atrativo para investimento, inovação e talento.

Mas enquanto se dá este passo em frente, assiste-se com revolta a um passo atrás, protagonizado por quem deveria dar o exemplo. Em Cova de Lua, no concelho de Bragança, a gestão de combustível levada a cabo pela E-REDES transformou-se num atentado ambiental. Árvores protegidas foram abatidas sem critério, sem licença, sem comunicação prévia aos proprietários e em pleno Parque Natural de Montesinho, numa zona onde, ironicamente, os cidadãos são severamente limitados no uso das suas próprias terras em nome da conservação.

É inadmissível que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, zeloso com os particulares, tenha permitido ou tolerado este atropelo da parte de uma entidade com responsabilidades acrescidas. Esta dualidade de critérios mina a confiança dos cidadãos nas instituições e transmite a ideia de que há leis para uns e para outros não. Não se pode aceitar que, em nome da prevenção de incêndios, se rasgue o equilíbrio ecológico de uma área protegida sem a mínima salvaguarda.

Mais preocupante ainda é o facto de esta ação ter ocorrido numa altura sensível do calendário natural, ignorando a proibição expressa de abates a partir de 31 de março devido à nidificação das aves. A destruição de habitats e o desrespeito pelas normas ambientais colocam em causa anos de esforço na preservação da biodiversidade. A lenha que fica no chão e pode ser recolhida pela empresa é apenas mais um sinal de que o lucro se sobrepôs à responsabilidade. Poderemos aceitar isto sem uma punição à altura para este tipo de ações?

Cátia Barreira, Diretora de Informação