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Remakes, rappers e remoques eleitorais

Confesso que nunca tinha ouvido falar de Eva Cruzeiro, que o mesmo é dizer da cantora de rap, ou da rapper que se esconde por de atrás do nome artístico Eva Rapdiva, também conhecida por rainha Ginga do Rap e que, pelos vistos, são fantasias da mesma personalidade. Também nunca tinha escutado qualquer das suas canções que se enquadram, como é óbvio, no restrito género musical denominado rap, ritmo originalíssimo que mete rimas, insultos e batidas, cantadas e tocadas ao pára-arranca, aos soluços e solavancos. Penso até que uma larga maioria de portugueses de todos os credos políticos e religiosos, com destaque para os militantes, ou meros simpatizantes, cristãos e socialistas, a quem este assunto dirá mais directamente respeito, estarão na minha situação, isto é, nunca conheceram ou ouviram falar, tão pouco cantar, a rapper Eva Rapdiva, nome artístico da cidadã luso angolana, filha de pais angolanos, nascida na Arrentela, concelho do Seixal, há 37 anos. Foi com grande espanto, portanto, que assim tão de repente como acontecem, ou aconteciam, as trovoadas de Verão que, apesar de ainda estarmos a viver uma perturbante Primavera democrática, Portugal inteiro tomou conhecimento de que a rapper Eva Rapdiva, também conhecida por rainha Ginga do Rap, será candidata, em posição elegível, na lista do PS para as Legislativas. E logo por Lisboa! Espanto porque se trata de um escândalo do tamanho, ou maior ainda, que o palácio de São Bento, porquanto a rapper candidata a deputada socialista, numa sua canção proclama que se está a cagar, é o termo, para a guerra da Ucrânia, declaração que, como se sabe, contraria em absoluto a política oficial do PS sobre a desumana agressão de Vladimir Putin àquele país livre, independente e democrático. Para lá de se referir a Cristo como lixo, o que constitui para os cristãos, uma ofensa idêntica à que qualquer muçulmano sentiria, por certo, se a rapper candidata a deputada socialista analogamente se referisse ao profeta Maomé. Teria, seguramente, uma reação bem mais radical por parte dos crentes muçulmanos, do que a piedosa resposta dos cristãos, mesmo se tal ofensa fosse cantada no pacífico Portugal. Estou em crer que a mais que provável novíssima deputada socialista Eva Cruzeiro outra coisa não é que um infeliz remake da inefável Joacine Katar Moreira, que tantos e tão ruidosos remoques originou na Assembleia da República e tão grandes dissabores causou a Rui Tavares, o líder do partido Livre. Imagine-se, portanto, o ruído que a deputada Eva Cruzeiro, a rapper Eva Rapdiva, ou rainha Ginga do Rap, três personalidades numa só pessoa, irá certamente provocar na próxima Assembleia da República, ainda que nas anteriores já houvesse muitos parlamentares a discursar naquele conhecido ritmo que mete rimas, insultos e batidas, tocadas ao pára-arranca, aos soluços e solavancos. Auguro que sempre que em causa estiver a guerra da Ucrânia ou a liberdade religiosa, em especial a dignidade dos crentes cristãos, o rap parlamentar da rapper Eva Rapdiva irá deixar Pedro Nuno e os demais deputados socialistas a gaguejar. Por mais que Eva Cruzeiro se retrate ou venha a retratar. O mais grave, ainda assim, quanto a mim, é que a futura deputada socialista Eva Cruzeiro, que é, presentemente, a rapper Eva Rapdiva, também conhecida por rainha Ginga do Rap, tenha como avatar uma controversa figura da tão repudiada, injustamente em muitos casos, história colonial. Avatar que, quer se queira quer não queira, se converterá num sinistro ícone ideológico na próxima Assembleia da República, em confronto com o símbolo maior da república democrática portuguesa, que é a Bandeira das cinco quinas, que há muito tempo anda a ser pisada e repisada, de mil formas e feitios. Refiro-me a Nzinga Mbandi, rainha de Angola, quando Angola ainda o não era, presentemente mais conhecida por rainha Ginga, da qual se lê na Wikipédia, cito: “foi uma importante estrategista militar e política durante a presença portuguesa nas regiões correspondentes à atual Angola. Travou grandes batalhas e tratados de aliança e paz com os portugueses, na qual envolvia a vassalagem dos reinos nativos africanos e escravidão dos mesmos para a Europa e o Brasil”. E de quem o Padre Giovanni Antonio Cavazzi, (1621-1678), que com ela privou e a quem, note-se, deu a extrema unção, relata, para lá do mais, que praticou o canibalismo quando se aliou a uma tribo nómada de canibais conhecidos por Jagas. Enfim. Não seria preferível, mais louvável e construtivo, agora que o colonialismo português já não mexe, de outros tal se não dirá, fazer valer o lado bom da História comum, com tudo de positivo que se vinha afirmando em Angola, em matéria de progresso económico e social, igualdade e harmonia interétnica, do que acicatar ódios e injustiças onde eles não existem sequer? Todos só teríamos a ganhar, se assim fosse. Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico. 

Henrique Pedro