Melhor seria que todos os Estados, sem faltar um sequer, acordassem a proibição do fabrico de armas de todo o tipo, poder e feitio, com a requerida pompa e circunstância. Estou em crer, todavia, que nem mesmo assim acabariam as guerras, porquanto nações haveria que continuariam a constituir exércitos, ainda que desarmados, com o intuito atávico de impor a sua vontade, nem que fosse à pedrada, ao murro e ao pontapé, como terá sido na Idade da Pedra. É que, contrariamente ao que somos levados a pensar, não são as armas que causam as guerras, mas sim as guerras que forçam o fabrico de armas. Dito de outra forma: é a agressividade inerente à natureza humana que provoca os conflitos armados. As armas nada mais são que instrumentos. Guerras sempre as houve, lamentavelmente, desde que o homem é homem, o que levou Gaston Bouthoul, conhecido estudioso de polemologia, a sentenciar “foi a guerra que gerou a História”. De facto, não há página da História Universal em que não seja citado um qualquer conflito armado. Mais deplorável ainda é que o progresso tecnológico sempre se traduza na inovação, com o correlativo aperfeiçoamento e capacidade destrutiva das armas e dos meios que são postos ao serviço da guerra, quando deveria verificar-se o contrário, a reafirmação da paz e a cooperação entre nações. Pior um tanto: não é segredo para ninguém que, presentemente, nos arsenais das potências nucleares há armas capazes de erradicar a vida da Terra. Vem isto a propósito das medidas polémicas que o novo presidente americano vem anunciando relativamente à NATO que, indiscutivelmente, tem garantido a defesa e a paz na Europa, desde o fim da II Guerra Mundial. NATO que, até mais ver, tem suprido a necessidade de um Exército Europeu, que se tornará incontornável se o aprofundamento da integração política, económica e social da União se mantiver. Para já, e muito bem, Donald Trump estabeleceu o aumento das contribuições dos Estados membros para a referida organização, o que também implica maiores investimentos em matéria de defesa e segurança. Investimentos que se poderão traduzir, por via das indústrias afins, numa real dinamização económica, com impactos muito positivos na criação de postos de trabalho e mesmo no alargamento de certos benefícios sociais. Sem esquecer que da investigação e desenvolvimento de armas e equipamentos militares, sempre resultam importantes instrumentos com aplicação civil. Para lá do mais, o apuro e a prontidão militares não representam, por si sós, factores de guerra, porquanto continua válida e actual a consagrada divisa latina atribuída ao romano Flávio Vegécio: “Si vis pacem, para bellum” (“se queres a paz, prepara-te para a guerra”). Trata-se, como é óbvio, de um princípio eminentemente dissuasor que tem sido garantia de muita paz ao longo da História. O que nos leva a dizer que, nos tempos que correm, a paz se defende de arma na mão. A paz entre Estados, claro está. Ainda assim, contra esta ideia de reforçar os meios de defesa e segurança que ganha força no seio da NATO e da União Europeia se levantam as vozes de certos pacifistas em particular. Convém, contudo, distinguir o pacifismo de natureza filosófica, ética, ou mesmo religiosa, que condena toda e qualquer política militar e acções de guerra seja lá onde for, do faccioso pacifismo político que apenas verbera o esforço de segurança e defesa de uma das partes, a NATO/União Europeia neste caso, enquanto silencia as iniciativas bélicas dos seus inimigos declarados. Como é o caso dos partidos e associações que em Portugal são manifestamente contra a NATO e a União Europeia, mas sistematicamente se abstêm de condenar as gravosas iniciativas marciais do seu principal inimigo que é, comprovadamente, a Rússia do senhor Putin. Havemos de concluir, portanto, que este pacifismo político outra coisa não é que uma arma no quadro da guerra híbrida que Putin está a conduzir, sub-repticiamente, em todos os países europeus, designadamente em Portugal. Pacifismo pérfido este que, em última análise, poderá ser considerado uma verdadeira traição à pátria e aos mais genuínos princípios pacifistas, já que pretende o desarmamento e enfraquecimento militar de uma das partes, a Europa, neste caso, favorecendo os seus potenciais agressores. De resto, a situação nem é inédita sequer, porque se trata de uma reminiscência da União Soviética, a grande promotora do Conselho Mundial da Paz e não só, que propagandeava a paz no Ocidente, enquanto ela própria se armava até aos dentes e se envolvia em guerras da sua conveniência. Certo é que, enquanto a NATO existir, um Exército Europeu Único se não justifica, muito embora a inexistência na Comissão de um operativo Comando Militar Comum, já se faça notar. Tudo leva a crer, porém, que as circunstâncias presentes propiciarão bons contributos para esse fim.