Livin’ la vida...de adulta

Ultimamente, estou viciada num aparelho a pilhas com cerca de vinte centímetros. Sim, é isso mesmo que estão a pensar. Comprei um batedor de leite e estou fascinada. Há um ano, ou coisa que o valha, a minha afilhada mais velha disse-me que a partir dos 35 anos é-se adulto. Eu, jovem por um fio à altura destes factos, perguntei de onde vinha aquela certeza. Acho que ainda nem havia o IRS Jovem. Pelos vistos, dá-se na escola, no quarto ano. Portanto, pela lógica dos manuais atualizados da instrução primária, se neste momento me esbardalhasse à séria e me finasse, nas notícias iria aparecer “mulher morre - inserir motivo do óbito a gosto” e não “jovem morre”. Triste. Bom, agora sou adulta. Agora, como quem diz. Há uns bons dois meses. Passado o devido período de adaptação, posso afirmar que sou adulta. Os adultos têm particularidades estranhas, como esta, de ficarem maravilhados com batedores de leite. Afirmo. Sem vergonhas. Damos por nós nas lojas a acariciar panos da loiça, a testar o quão fofinhos são e a imaginá-los a absorver a água dos nossos tachos com eficácia. Passa a ser um consolo ver trens de cozinha em promoção. No meu caso, mais, até, do que homens musculados e desnudos, porque vejo mais utilidade a longo prazo numa boa frigideira anti-aderente. E se forem eletrodomésticos em promoção? Até me arrepiei, caramba. Não é para me gabar, mas uma vez fizeram-me um desconto de dois euros e meio num jogo de lençóis e numa colcha. Foi um dia i-n-c-r-í-v-e-l. Voltei para casa com a sensação de que tinha vencido uma qualquer guerra, a exibir as cobertas, só para ostentar. Até liguei a amigos, para contar o sucedido e ficar a saborear a inveja deles. Há pior. Dei por mim um dia destes a suspirar com um suporte de papel higiénico, com peças em bambu, que tem um segundo apoio, no topo, para o telemóvel, mesmo à medida. Um Santo Graal da casa de banho, em vez de pousar o telefone na pia, como um comum mortal. Simples descascadores de batatas e utensílios que deixam os legumes e fruta em espiral ou em forma de estrelinhas passam a ser ‘must-haves’. Até porque damos por nós a contar quantas vezes já ingerimos hortícolas naquela semana, com medo de apanhar escorbuto ou radicais livres que nos causem rugas. Não que os adultos sejam velhos, calma! Ainda há duas semanas, num hipermercado, me pediram o cartão do cidadão para verificar se a minha idade permitia comprar uma garrafa de vinho e outra de sidra. É a segunda vez que me sucede no espaço de dois anos, mas agora, como adulta declarada que sou, claro que tive um ataque de riso, a roçar o histerismo, e disse para mim mesma “ainda estás aí para as curvas, miúda!”. Devo acrescentar, contudo, que quando ouvi a palavra ‘cartão’, de imediato abri a aplicação (adulta e moderna!) dos descontos. Porque adulto que é adulto faz contas às promoções. Quando era jovem (saudades!) dizia muitas vezes à minha mãe que eu não precisava de aprender as lides domésticas porque iria ter alguém a quem pagaria para mas fazer. Até ao momento, tal não se traduziu na vida real. A vós me confesso, depois do trabalho quase obsessivo-compulsivo, não há nada mais satisfatório e do que o cheirinho a lavado, com a cama feita e tudo (ganhaste esta, Mãe!). Dou por mim a sentir um certo asco, misturado com pena, de pessoas que não sabem fazer uma máquina de roupa decentemente. Ou que têm a lata de abrir a boca para dizer que não sabem cozinhar nadinha. Mas, aquilo que eu mais gosto de ser adulta é mesmo a calma que trouxe. Passamos a olhar para a vida de forma mais racional, com a certeza de que é melhor levar tempo do que agir por impulso. Amanhã, se Deus quiser, vamos estar aqui, com toda a serenidade de um crescido. E a única coisa que não pode passar da data é a promoção das panelas e o prazo para pagar porcarias às Finanças.

Tânia Rei