Ter, 24/09/2024 - 10:33
“Quando, às vezes, sentimos alguma estranheza por em Lisboa se dar pouca importância ao Mirandês, ou não darem importância nenhuma, na mesma linha de raciocínio, às vezes, ficamos espantados, como é que uma instituição de ensino superior do território, muitas vezes, parece não haver grande interesse na língua mirandesa. Esperamos que este protocolo possa ser o virar de página dessa situação. A situação óptima seria onde houver alguém com desejo de querer aprender mirandês, esse desejo poder ser satisfeito”. Foram os reparos feitos por Alfredo Cameirão, presidente da Associação de Cultura e Língua Mirandesa, no âmbito das celebrações do vigésimo sexto aniversários que aconteceram na passada terça-feira, em Miranda. Alfredo Cameirão, lamenta a pouca importância que é dada ao mirandês pelas instituições de ensino da região e espera que este protocolo marque um novo capítulo. Por outro lado, o presidente do IPB, Orlando Rodrigues, garante que o protocolo já devia ter sido assinado e olha para esta colaboração com bons olhos. “Este protocolo materializa uma cooperação que já vinha existindo entre o Instituto Politécnico de Bragança e a Associação da Língua Mirandesa. É um tema que nos interessa particularmente. Temos várias pessoas a trabalhar neste tema no âmbito do nosso centro de investigação transdisciplinar em educação básica. Curiosamente, há cada vez mais investigadores interessados em trabalhar este tema. Para além da investigação, claramente também a formação e o ensino da língua são importantes. Faltam professores qualificados no ensino de mirandês. Esperamos também poder contribuir nesse âmbito, de alguma forma, e este protocolo materializa exatamente essa cooperação. O protocolo já deveria ter sido assinado há muito mais tempo”, rematou. Relativamente às ajudas governamentais, Alfredo Cameirão não poupou críticas. O presidente referiu que há dois aspectos fundamentais para a continuidade do mirandês, “a ratificação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, que não acarreta custos financeiros para Portugal, porque todas as medidas preconizadas estão previstas, a maior parte delas já no terreno”, mas também “a criação da entidade orgânica e instituto, que possa ser a cara, que possa responsabilizar-se por delinear as estratégias que permitirão a língua mirandesa continuar a ser falada ao longo do século XXI”. Mas no ponto de vista de Alfredo Cameirão, as promessas do governo são muitas e a ação pouca e por isso é da opinião que “quando se fala em ajudas do Governo ao mirandês, está-se a utilizar uma força de expressão, porque, na verdade, estamos a mentir”. E justifica, afirmando que as ajudas “são muito poucas, para não dizer que são nenhumas”. Para o presidente, os dois aspectos já referidos, “custariam muito pouco ao Governo da Nação” e afirma que “são forfalhas, migalhas”, mas que para a “sobrevivência” e para o “desenvolvimento e resguardo” da língua mirandesa, “são fundamentais”. Para o presidente da associação o mirandês ainda que “não se veja” ainda que não seja algo “palpável” é “o monumento mais importante” de Miranda e por isso, na sua opinião é importante que o Governo actue em prol da continuidade da língua Mirandesa. Nas celebrações esteve presente a vice-presidente da Assembleia da República, Teresa Morais, que destacou o trabalho da associação, afirmando que esta é “muito activa”, mas diz ser importante ajudá-la através de apoios provenientes “da comunidade, do meio empresarial e que também têm de vir, naturalmente, dos órgãos de soberania”. Quanto ao processo da ratificação da carta Europeia a vice-presidente parlamentar acredita na evolução do processo da ratificação e contou que lhe foi dito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, através da Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, que “o assunto está a andar e que, neste momento, está identificada a grande maioria das medidas que o Estado português tem de se comprometer a cumprir no processo de ratificação. Portanto, a minha expectativa é que, nos tempos mais próximos, este processo possa evoluir”, explicou. No que toca à criação do Instituto da Língua Mirandesa a vice-presidente parlamentar reconhece não estar por dentro do assunto, mas admitiu saber que “é um tema que é considerado permanente em Miranda e que é um processo a que o país já se comprometeu quando aprovou uma dotação orçamental nesse sentido”. “Trocando impressões com a senhora Presidente da Câmara, foi precisamente dito que fazia todo o sentido que houvesse uma continuidade desse processo e haverá, muito em breve, uma reunião do grupo de trabalho que está precisamente a tentar desbloquear esse objetivo de criação do Instituto. Portanto, diz, quem sabe melhor do que eu, como é que esse processo tem decorrido, que é para continuar e que é para concluir”, rematou. A presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Helena Barril, acredita que a união faz a força e para que o instituto da língua mirandesa se torne uma realida- de, é importante que a comunidade esteja unida. “Há uma dotação orçamental que está prevista nos orçamentos de Estado e penso que este ano também irá a votação com essa dotação orçamental, para dar corpo a uma instituição que terá a sua sede em Miranda do Douro e tem havido, digamos, esse carinho, para acarinhar e chamar a língua mirandesa. Se há muito mais para fazer, naturalmente que sim, mas se criarmos um corpo unido em Miranda, em que não haja dissidências, vai haver uma força e essa força vai ter a capacidade de cha- mar para o território esses apoios que tanto precisamos”, rematou. Entretanto o Grupo de Trabalho para a Promoção da Língua Mirandesa já anunciou, sexta-feira passada, na divulgação do relatório final a sua estratégia de proteção e promoção, que vai ser criada uma Estrutura de Missão até ao final deste mês. Em declarações à agência Lusa, a autarca local, Helena Barril, explicou que esta nova unidade orgânica anunciada vai ter sede em Miranda do Douro e vai operar até 2028. No seu seguimento vai surgir de uma fundação dedicada à Lhéngua. A celebração dos 26 anos do mirandês como segunda língua oficial contaram com várias actividades, nomeadamente a apresentação do audiolivro “Mensagem”, de Fernando Pessoa traduzido para mirandês, a sessão solene com a presença da vice-presidente da Assembleia da República e a assinatura do protocolo entre o IPB e a Associação de Cultura e Língua Mirandesa.