Ter, 23/01/2024 - 12:11
Apesar do aumento generalizado, em Trás-os-Montes, com um pouco mais de esforço, os clientes continuam a procurar o pão e recorrem às padarias locais, onde a massa ainda é feita da forma mais artesanal possível. Em Mirandela, na padaria Seramota, uma das principais da cidade, Inês Araújo, a proprietária, recorda que “quando se aplicou a isenção do IVA ao pão ficou mais barato, mas agora voltou ao mesmo”, já que a medida não foi renovada”. “Agora em janeiro já aumentamos. O pão grande estava a 2,26€ e agora está a 2,40€. O preço das farinhas subiu muito e não tivemos volta a dar”, adiantou a proprietária. Tendo em conta que a principal matéria-prima do pão está sempre a subiu, “um cêntimo ou dois, depois desce e volta a subir”, o pão também se mantém constantemente com preços mais elevados, ano após ano. “Mas não é só a farinha que faz com que o preço aumente. É também o gás, é a água, é o azeite para as bolas”, disse. Inês Araújo conta que, já há pessoas com dificuldade para conseguirem comprar o pão, mas, no geral, continuam a comprar para o dia-a-dia e ainda mais agora na época das alheiras. “Conheço gente que já não pode comprar o pão. Mas, a esses, eu própria faço questão de lhes oferecer para terem alguma coisa para comer”, rematou. À medida que os mirandelenses circulavam pela rua na parte da manhã, à hora habitual de comprarem o pão para o resto do dia, muitos falavam em “preços impossíveis no geral”. Mas, para outros, há bens essenciais que não podem faltar na mesa. “Quer queiramos, que não, as pessoas precisam de comer. Não temos por onde fugir”. “Vai ser um ano atípico. As pessoas têm poucos recursos e as coisas estão muitos disparatas”, adiantou Rafael Esteves.
Produção de alheiras é afectada pela subida dos preços do pão
Ainda no concelho de Mirandela, na freguesia de Aguieiras, Dora Andrade, faz alheiras para venda, ainda de forma caseira e tradicional. Em conjunto com a mãe, a produtora partilha as dificuldades crescentes que enfrenta na produção deste tradicional enchido. Dora Andrade destaca não apenas o aumento nos preços do pão, mas também os desafios relacionados à carne de porco e ao azeite, fatores que estão a pressionar o seu negócio familiar. “A situação está a ficar muito difícil para nós. Porque não é só o preço do pão a aumentar. É a própria carne do porco, já para não falar do azeite que está ao preço do ouro”, desabafa Dora Andrade, cuja produção média anual envolve o abate de seis porcos caseiros. No ano passado, Dora vendia as alheiras a 12 euros e meio o quilo, mas este ano já teve de aumentar os preços para fazer face às crescentes despesas. A questão torna-se ainda mais complexa quando se considera a tradição da produção caseira de alheiras na sua família. “Antigamente a minha mãe e a minha avó coziam o pão em casa para fazerem as alheiras. Além de ficarem melhores também acabava por ficar um bocado mais barato. Eu já comecei a pensar em fazer a mesma coisa. Dá mais trabalho, mas pode ser uma solução para isto ficar mais fácil”, revela Dora. A produção artesanal de alheiras é uma tradição passada de geração em geração na família de Dora. Contudo, os crescentes custos dos ingredientes essenciais estão a obrigar a uma reavaliação dos métodos de produção. O aumento dos preços do pão, componente fundamental na elaboração das alheiras, tornou-se um dos principais impulsionadores deste dilema.