Furtos de castanhas obrigam GNR a fiscalizar soutos e produtores ficam mais descansados

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Ter, 07/11/2023 - 11:23


Nesta campanha já foram detidas cinco pessoas por furto de castanhas em Mogadouro

Na semana passada, a GNR deteve cinco pessoas, três homens e duas mulheres, com idades entre os 19 e os 60 anos, por furtarem castanhas, no concelho de Mogadouro. Foi o resultado de uma denúncia a dar conta de que um grupo de indivíduos se encontrava a furtar castanhas. Os militares conseguiram apreender “200 quilos” de castanhas que os suspeitos transportavam. Ficaram com termo de identidade e residência e os factos comunicados ao Tribunal Judicial de Mogadouro. Numa região, onde a produção de castanha é predominante, nomeadamente nos concelhos de Bragança e Vinhais, e que é o ganha-pão de muitas famílias, a GNR está no terreno para tentar impedir que mais furtos aconteçam. A campanha já começou há algumas semanas e agora é altura de apanhar a castanha de qualidade tardia. Os soutos são assim ocupados por proprietários e trabalhadores que andam a colher o fruto, para depois o vender.

GNR visita soutos e alerta proprietários

Luís Carlos Teixeira andava com o soprador na mão quando os militares da GNR de Bragança se aproximaram. Ouviu o guarda explicar-lhe os cuidados a ter, mas alguns já os conhecia bem, até porque os aprendeu da pior maneira. “Eu nunca as deixo, levo-as sempre, porque já sabemos que é perigoso. Há muitos anos, deixámos um saco no outro lado da aldeia e quando lá fomos já não o encontrámos”, contou. O agricultor já chegou também a chamar a GNR, porque apanhou pessoas a roubar castanhas. Por isso, concorda que as autoridades andem mais no terreno nesta altura. “É bom é, porque eu apanho muita castanha e penso acabar de as apanhar no fim de Novembro, mas depois vêm os búlgaros e não respeitam nada, mesmo que não estejam apanhadas, chegam aqui e botam por aqui a baixo, onde as encontram”, reclamou. E o produtor admite que tem medo que lhe levem as castanhas, até porque é o seu sustento. “Tenho medo, porque é disto que vivo, da castanha, e claro que venho para as apanhar e já as apanharam, pois… O meu rendimento é da castanha, este ano dá pouco dinheiro, mas é do que vivo”, disse. Este ano, o calor e o fungo da septoriose trouxeram quebras significativas na produção da castanha. E diz a lei do mercado, que quando há pouco, o preço sobe, mas parece não ser bem assim. Já que o preço desta castanha que cai agora anda muito abaixo do que os agricultores desejam. “Este ano andam a pagar a castanha a 1 euro ou 1,20 euros. E esta castanha tinham que dar 2 euros ou 2 euros e tal o quilo, porque é boa, porque não está podre, está sã e uma pessoa não pode fazer nada”, afirmou. Um preço que traz poucos lucros para os agricultores. No caso de Luís Carlos Teixeira ainda apanha a castanha à mão, mas vale-lhe a família, caso contrário, diz que não compensaria. “Dá um bocado de trabalho, porque tem que se andar a chover, com frio, e este ano dão pouco dinheiro e esta castanha é boa e não a querem pagar bem, querem-na muito barata, não dá quase para a despesa. No meu caso são família, porque se tivesse que andar a meter gente, não dava”, frisou.

Fiscalização da GNR deixa pessoas “mais descansadas”

Carlos Vale foi outro produtor do concelho de Bragança abordado pela GNR. Tinha andado apanhar castanha e estava no seu armazém a fazer a limpeza do fruto, quando os militares chegaram. Depois de alguns minutos de conversa, admitiu que faz parte do grupo de agricultores que já ficou sem castanhas, porque alguém lhas levou. “Houve um ano que fomos a um a souto até encontrámos lá os fios de ligarem umas luzes para andar lá apanhá-las. Quando chegámos não estavam lá nenhumas. Aquele souto devia ter umas 15 sacas, fomos lá e não havia lá nenhumas e depois nos outros vão apanhando as maiores e quem é que sabe quantas é que apanham?”, contou. Este ano, considera que não haverá muitos furtos de castanha, porque a qualidade e a quantidade foi afectada pelo fungo, mas reconhece que não se pode baixar a guarda. “Não se vêem castanhas, estão todas dentro dos ouriços, e as pessoas quando roubam é quando as castanhas estão todas juntinhas, boas de apanhar. Mas também depende do pessoal que não tem máquinas e que apanha à mão. Se trouxer muita gente de fora, búlgaros, ucranianos, esse é que é um problema, porque há pessoas que acabam de apanhar castanha e que os mandam ao rebusco e depois não vão apenas para aqueles onde andam apanhar castanhas, vão rebuscar em todos e há muita gente que ainda não as apanhou e eles vão para lá”, disse. Carlos Vale tem 14 hectares de castanheiros a produzir, 25 plantados. Num bom ano produz cerca de 40 toneladas. Por isso, considera que a fiscalização da GNR ajuda a impedir que haja assaltos aos soutos. “Ajuda, porque só que vejam passar o carro da GNR durante já não ando e há noite também não hão-de de ter muita hipótese. Devia haver mais acções destas, porque as pessoas sempre andam mais tranquilas”, frisou.

“Menos Furtos do que no ano passado”

De acordo com o comandante do Posto Territorial de Bragança, esta acção de fiscalização decorre de 26 de Setembro até 7 de Dezembro. Divide-se em três fases. Inicialmente foi feito uma “sensibilização junto dos produtores de castanha e de quem vai apanhar, nomeadamente na prevenção de furtos de castanhas”. Seguidamente, os militares irão fazer “acções de fiscalização”, nomeadamente no “transporte da castanha”. Depois serão consolidados os dados da operação. “Vamos aos locais, falamos junto dos proprietários de terrenos, de quem anda a recolher castanha no terreno e sensibilizamo-los para terem alguns cuidados ao nível da prevenção de furtos”, disse António Patrício. O comandante referiu ainda que a fiscalização está a surtir o efeito desejado. “As pessoas que possivelmente venham a tentar algum furto, vêem- -nos no terreno e isso dissuade-os de tentarem esse tipo de furtos”, disse, adiantando que “comparativamente ao ano passado e até ao momento registam-se muito menos furtos”. Quanto aos agricultores se queixarem de furtos por pessoas estrangeiras, o comandante admitiu que tem “conhecimento desse tipo de situações”.

Conselhos da GNR:

- Se conduzir, não ingerir bebidas alcoólicas

- Usar sempre o arco de Santo António no tractor

- Respeitar os limites das cargas e o acondicionamento das mesmas

- Não transportar trabalhadores nos tractores

- Evitar armazenar castanhas em sítios isolados. Armazenar sempre próximo das habitações

- Evitar acumular grandes quantidades de castanha. Após acumular algumas, vender

- Negociar de preferência com pessoas da sua confiança e desconfiar de preços elevados atractivos

- Tirar fotografias ao equipamento para referenciar em caso de furto e fazer inventário de todo o material

- Fazer marca na costura dos sacos para poderem ser identificados

Jornalista: 
Ângela Pais