Apesar de virem mais cedo as vindimas trouxeram consigo mais e melhor produção

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Ter, 05/09/2023 - 12:24


Diz o provérbio popular que “para vindimar deixa o Setembro acabar”

No entanto, actualmente, os ditos populares tendem a ser alterados consoante as próprias alterações do clima. No concelho de Mirandela, muitos viticultores não deixaram que o mês de Agosto terminasse para começarem a trabalhar e a cortar os bagos que já se encontravam em bom estado para irem directamente para as adegas. É o caso de Vítor Lopes, agricultor natural da freguesia de Aguieiras. Como não reside na aldeia natal, aproveitou as férias, ainda no mês de Agosto para cortar as uvas, garantindo “já estarem em perfeitas condições”, considerando este “um excelente ano de produção”. “A colheita do ano anterior foi bastante inferior. Mesmo assim, foi muito difícil controlar a parte sanitária das uvas devido às temperaturas muito altas. Choveu bastante no mês de Junho, o que complicou um pouco o controlo, mas no geral estou satisfeito com os números”, explicou Vítor. Um dos principais desafios enfrentados pelos agricultores de Trás-os-Montes é a falta de mão-de-obra disponível para a vindima. Vítor destacou este problema, afirmando que a vindima “é um trabalho que exige muita mão-de-obra em simultâneo para se conseguir vindimar num curto espaço de tempo” “Cada vez nos debatemos mais com a questão da falta de pessoas na região e quando chega o trabalho isso ainda é mais visível”, lamentou. Outro ponto de preocupação levantado por Vítor é o cenário económico complexo em Trás-os-Montes em comparação com outras regiões vitivinícolas, nomeadamente o Douro. Para terminar, o jovem agricultor enfatizou a dificuldade de escoamento dos produtos da região, o que afecta a sustentabilidade dos agricultores. “O produto é muito difícil de escoar em Trás-os-Montes. Há aqui algumas ajudas, mas depois chegamos ao final do ano, fazemos as contas, as uvas muitas vezes são pagas pelas cooperativas com um ano de atraso, e por isso as pessoas não têm sustentabilidade e não se conseguem fixar.” Mais ao lado, na aldeia de Vale de Salgueiro, também no concelho de Mirandela, encontramos Leandro Garcia, detentor de uma marca própria de vinhos, que não escondeu o optimismo em relação à safra deste ano. O agricultor produz cerca de 40 toneladas de uvas anualmente e este ano viu um crescimento na produção na ordem dos 25%. “Já cortei cerca de 60% das minhas uvas e prevê-se que tenham muita qualidade. O calor que veio mais cedo não dificultou nem alterou em nada os planos da colheita. Faz hoje precisamente um ano que andava a apanhar os brancos, portanto mantém-se tudo como estava,” disse Leandro. Em relação à escassez de mão-de-obra, Leandro destacou que teve de contratar trabalhadores temporários, incluindo 12 pessoas de fora da região. No total, 38 pessoas estiveram envolvidas na vindima, e a maioria delas eram das aldeias vizinhas. Por fim, Francisco Pavão, presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Trás- -os-Montes, partilhou números promissores sobre a qualidade da uva neste ano, indicando um aumento de cerca de 20% na produção em toda a região, embora tenha observado que “ainda é cedo para avançar com números exactos”. “Estamos numa fase muito incipiente da campanha, mas daquilo que nos é dado a conhecer é que a qualidade da uva é extraordinária. Há mais produção, a rondar um aumento de 20%. As cooperativas ainda não estão todas abertas, por isso ainda é muito cedo para avançar números”, adiantou. Francisco Pavão também expressou preocupação com as alterações climáticas, particularmente o calor e o granizo que afectou no último fim-de-semana a região, destacando a necessidade de monitorizar de perto o impacto desses eventos na produção de vinho. As vindimas deste ano em Trás-os-Montes revelam uma complexa mistura de desafios e oportunidades para os viticultores da região. Enquanto alguns enfrentam dificuldades com mão-de-obra e questões económicas, outros celebram um aumento na produção e na qualidade das uvas. O clima imprevisível continua a ser uma preocupação central para todos os envolvidos na indústria vinícola de Trás-os-Montes, e as próximas semanas serão decisivos para determinar o sucesso da colheita de 2023.

Jornalista: 
Daniela Parente