Qua, 23/08/2023 - 09:54
Este ano a festa ficou marcada pelos torneios, em que bravos guerreiros se enfrentam na Liça, em frente à torre de menagem, disputando a mão da Princesa Ana, sobrinha do alcaide do castelo de Bragança. Órfã dos seus pais, a princesa apaixonou-se por um nobre cavaleiro que pertencia a uma família pobre, o qual sabia que, nessas condições, não podia aspirar a casar com a princesa. A jovem jurou esperar pelo seu verdadeiro amor e resguardou-se numa das torres do castelo, enquanto o cavaleiro partiu em busca de fortuna noutras paragens, a fim de a poder pedir em casamento, tendo já outras condições. Ao longo daqueles anos de espera, o alcaide quis encontrar o melhor partido para a sobrinha e convidou duas das mais importantes famílias a disputarem um grande torneio, tendo como prémio a promessa de um casamento com a princesa. Além dos vários espectáculos, este evento conta, anualmente, com diversas áreas temáticas, nomeadamente o posto de controlo, onde se inspecionam e revistam aqueles que desejam entrar no castelo, a rua do restolho, onde o mercado fervilha durante todo o dia, a rua dos larápios, um espaço de recriação do quotidiano das classes sociais mais desfavorecidas, a praça das armas, onde vão treinando aqueles sobre os quais recai a responsabilidade de manter a ordem no território, o acampamento dos petizes, um espaço pedagógico para os mais pequenos experimentarem as vivências medievais, bem como a praça do sustento, para matar a fome e a sede, entre muitos outros.
Uma festa que também se faz de voluntariado
A festa faz-se, está claro, com gente. Com visitantes, sim, mas para os haver têm que existir atrações, às quais dão vida outras pessoas. Há, para isso, actores, que pertencem a companhias contratadas, mas há também voluntários, da terra, que oferecem, anualmente, o seu tempo e talento a troco de enriquecimento pessoal. Leonor Santos, de 17 anos, foi uma das voluntárias desta Festa da História. É de Bragança e participou no evento, pela primeira vez. “Ao longo dos anos, quando vinha cá, achava interessante as pessoas participarem. Por isso decidi fazer o mesmo”, esclareceu, dizendo que gostou da “experiência” porque pôde “mostrar” um pouco do que é a História. A brigantina esteve na área dos jogos, por onde “passou muita gente”. Um espaço no qual a própria escolheu ficar porque era “óptimo para interagir”.À semelhança de Leonor Santos, Diogo Rego também é de Bragança. Tem 15 anos e participou pela segunda vez na Festa da História. A Rua dos Larápios é o seu palco há dois anos consecutivos. “Decidi inscrever-me e pedi para ficar nesta rua porque sempre tive medo dela. Então era uma forma de o perder e de me desafiar”, esclareceu o jovem que também se diz “muito agradado” com o que tem sido esta experiência. “Se puder continuar, vou vir para aqui sempre”, vincou ainda. Nesta mesma rua, a dos larápios, está também Ana Vasconcelos. Apesar de ser de Penafiel, sempre conheceu a festa porque aqui passa férias, já que os avós e os pais são de Bragança. Este ano decidiu juntar-se ao evento, não como visitante mas como actriz. “É uma experiência incrível. Conhecem-se novas pessoas. É óptimo”, explicou a jovem, que disse ter decido ficar naquele espaço por ser o local onde as pessoas “mais passam”. “Acho que me ia trazer mais desafios”, esclareceu ainda, explicando que o personagem que “vestiu”, uma espécie de alma penada, foi “construído com base numa história” na qual é preciso “entrar” e, depois, tudo o resto, não é mais que tinta. Pela primeira vez participou também Joelma Tavares, de 23 anos. É de Alfândega da Fé e, no Verão, costuma estar por Bragança. Assim sendo, claro que conhece a festa. E, sendo licenciada em História e descobrindo que podia fazer parte do evento, não quis esperar mais. Candidatou-se. “Era algo que queria fazer há muitos anos, fazer parte de uma feira medieval”, referiu. “Submeti a minha candidatura e fui aceite. É a minha paixão”, esclareceu, afirmando que o público foi “incrível” e o ambiente foi “fantástico”.
Comerciantes não perdem a festa
Leonardo Maia, de Bragança, participou, pela segunda vez consecutiva, na Festa da História. Vende máscaras “pouco tradicionais”, que espelham a sua “personalidade”. Começou a produzi-las há cerca de cinco anos, depois de ter dedicado os estudos académicos às artes e ter integrado alguns workshop’s que lhe abriram este mundo. “Tenho várias pessoas interessadas. A procura tem sido mais ou menos aqui na festa, que é um bom evento, onde passa muita gente”, vincou. De Bragança é também Maria de Lurdes Barros. Participa “há muitos anos” porque é da terra e porque entende ter trabalho que se enquadra ali. “O meu trabalho, artesanal, é alusivo aos caretos, cantarinhas, às máscaras… é tudo feito por mim”, esclareceu. “Vende-se bem e há muita gente. Às vezes nem dá para circular com tantas pessoas que por aqui passam”, explicou ainda. Os produtos “são muito apreciados”, sobretudo pelos espanhóis mas, é claro que, “os portugueses também gostam”. O que há é “falta de dinheiro”. “As pessoas até querem comprar mas não há tanto poder de compra”, disse. De outras paragens veio André Nary. Directamente do Porto para Bragança, este comerciante, há já uns anos, não falha à Festa da História porque “vende-se muito bem”. O artesão, que vende jóias celtas, que o próprio produz, desde anéis, a brincos, pulseiras e colares, diz que “a festa é incrível”. “A organização é excelente. Estas pessoas não brincam no que toca a organizar isto. É verdade que é um espaço pequeno, com, possivelmente, poucos comerciantes, mas, comparando com feiras grandes, esta tem uma dinâmica brutal”, assumiu. Santiago Castro é espanhol. Veio da Puebla da Sanabria e há mais de 15 anos que não perde este evento, que é já um marco para Bragança, no mês de Agosto. “Vendo sabonetes, shampoos, bálsamos, desodorizantes e cremes. É tudo natural e ecológico. Dá para vender bem aqui, temos muitos clientes de há muitos anos. É por isso que volto sempre, porque as vendas funcionam bem”, referiu.