Ter, 25/07/2023 - 11:11
“Miséria”, é assim que a Associação de Agricultores de Trás-os-Montes designa o apoio anunciado pelo Governo para minimizar os prejuízos causados pelo mau tempo de Maio e Junho aos agricultores do Norte e Centro do país. “Este apoio, até ao montante máximo de 55 euros por hectare de área abrangida, destina-se a compensar as despesas com a aquisição de produtos para os necessários tratamentos fitossanitários e de fertilização foliar, que tenham ocorrido no primeiro semestre do corrente ano de 2023, enquanto componente de medida de emergência adequada a este tipo de situações”, lê-se no site do Governo. Para o vice-presidente da Associação de Agricultores de Trás-os-Montes, João Barros, este apoio serve só para “iludir o povo e o pequeno agricultor”. “Se formos a falar de adubos fitofarmacêuticos, Ângela Pais subiram três vezes mais do que custavam há dois anos, quer dizer que isto nem dá para a ajuda do gasóleo do tractor”, criticou. O também agricultor explicou que “a rentabilidade de um hectare de uma vinha para vinho de consumo de três mil quilos a 60 cêntimos” representa 1800 euros, no entanto, o apoio é apenas de 55 euros. “Acho que é lamentável. Não percebem nada do que estão a fazer e é por isso que estão a dar estas ajudas”, apontou. João Barros não acredita que se trata de falta de conhecimento da região, mas de “falta de vontade em ajudar o agricultor”. “Estão a fazer esta fantochada só para dizer que ajudam o agricultor, quando isso não representa nada para o agricultor”, afirmou. Por isso, considera que o ideal seria o apoio rondar os “mil euros por hectare”, no que toda aos produtores de vinho. Já no que diz respeito à maçã, deveria ser na ordem dos “dois mil euros por hectare”. Além da vinha, a produção de maçã em Carrazeda de Ansiães foi das mais afectadas. De acordo com Duarte Borges, técnico da Associação de Fruticultores e Viticultores do Planalto de Ansiães, cerca de 450 hectares de macieiras ficaram sem qualquer produção, o que deve significar prejuízos “acima dos 4 ou 5 milhões de euros”. Por isso, considera que este apoio não é suficiente. “Fica um bocadinho aquém do que estava à espera. É uma medida que minimiza um bocado e compensa os agricultores, mas os prejuízos que se sentiram nas explorações foram bastante acentuados. Houve perda de produção e nalgumas situações também houve bastantes prejuízos de infra-estruturas fundiárias”, salientou. O Governo anunciou ainda abertura da medida 6.2.2, que apoia a reposição do potencial produtivo ao abrigo do Programa de Desenvolvimento Rural 2020. Ou seja, pode apoiar os agricultores que tiveram estragos em infra-estruturas devido às intempéries. No entanto, Duarte Borges considera que o acesso à medida é “limitado”, uma vez que só se pode candidatar quem tiver prejuízos “acima dos 30%. “Para ser 30% já é um prejuízo muito elevado. Deveria ser corrigido o limite de acesso para mais baixo, porque senão há ajuda disponível, mas vão ser poucas as candidaturas”, referiu. Para aceder aos apoios, os agricultores podem candidatar-se ao apoio do Governo através da Direcção Regional de Agricultura. O Governo disse ainda que está “analisar e a desenvolver novas medidas de apoio com vista à prevenção e protecção de produções agrícolas que possam ser afectadas por intempéries, no futuro”. No distrito, vários concelhos foram afectados pelo mau tempo. A vinha e as macieiras foram as culturas que tiveram mais prejuízos.