Ter, 16/05/2023 - 15:29
. As pessoas tinham de limpar os terrenos à volta das casas num raio de 50 metros e num raio de 100 metros no caso dos aglomerados populacionais. A GNR de Bragança visitou as aldeias e sensibilizou as pessoas para a sensibilização da gestão de combustível, no entanto, a partir de 1 de Maio começou a fiscalização com direito a coima. De acordo com o Major Vítor Romualdo, até 30 de Abril foram identificados mais de “400” possíveis incumprimentos, mais do dobro em relação ao ano passado, uma grande percentagem no concelho de Carrazeda de Ansiães, onde no Verão passado um incêndio consumiu mais de 1500 hectares de mato. No concelho de Bragança também foram registados alguns possíveis incumprimentos, um deles na aldeia de Carragosa. Depois de a proprietária ter sido avisada de que tinha que fazer a limpeza, agora a GNR voltou ao terreno para verificar se realmente o trabalho foi feito. O Jornal Nordeste acompanhou a acção e como a GNR já suspeitava, o terreno foi limpo. A sobrinha da proprietária, Graça Polido ficou responsável pela gestão do combustível, já que a tia é idosa e não tem possibilidade de o fazer. Na abordagem dos Guardas explicou que já estava tudo limpo e reconheceu que com o tempo “tão quente qualquer mato que esteja muito junto pode originar um incêndio”. Também já com alguma idade, Graça Polido viu-se obrigada a fazer ela própria a limpeza do terreno. “Não há muito quem chamar, parece que as pessoas não querem trabalhar e então temos de ir fazendo conforme podemos. Quando não se puder, não sei como será”, contou. Além de não encontrar quem lhe fizesse o trabalho, admitiu que poderia ser caro para a sua carteira, já que tem pago jeiras a “80 euros”. Portanto, não lhe restou alternativa. “Aos bocadinhos fui para lá com uma inchada, uma roçadora e fui limpando e entrando, hoje um bocadinho, amanhã outro, até que consegui limpar tudo”, disse. Da casa da Graça Polido ouvia-se uma motorroçadora. Era o som de quem andava a fazer uma limpeza de terrenos. Lá andava Sérgio Sá com a máquina na mão a cortar erva. Andava a limpar um terreno com palheiros do padrinho que está em França. Admitiu que dá “bastante trabalho” e que se “perde tempo”, mas que é necessário. “Há muitas pessoas nas aldeias que já têm idade e não têm quem lho faça, os filhos estão emigrados ou estão noutra cidade e não têm quem lho faça. Eu ainda vou fazendo que sou novo, mas há muita gente, que mesmo a querer pagar, não têm quem lhe faça o serviço”, disse, acrescentando que também têm pouco dinheiro e, por isso, não conseguem pagar a uma empresa para lhe fazerem a gestão do combustível. Uma das empresas que faz esse trabalho em Bragança é a Mata-Verde. Segundo o sócio-gerente Ramiro Rodrigues há muito trabalho, porque há muita erva. Só trabalham na cidade, porque não conseguem dar resposta, devido ao volume de trabalho e também à falta de mão-de- -obra. Tem 30 funcionários mas, nesta altura do ano, são poucos. Ainda vai conseguindo arranjar “alguns” trabalhadores, mas é “muito complicado”, visto que é um trabalho “duro” e poucos aguentam. “Há muita gente que chega cá e depois se vai embora. Anda oito ou dez dias e vão se embora”, disse. Alguns dos clientes são idosos e reconhece a dificuldade que têm em pagar. “Quando chegamos a um idoso que não tem dinheiro, que tem uma reformazinha, não quer dizer que façamos de graça, mas ficamos sempre sensibilizados e nota-se a dificuldade das pessoas para realizarem esse trabalho, porque eles queixam-se”, contou, sublinhando que “para quem ganha 200 euros de reforma ter que pagar 100 euros para pagar um lote, um terrenozito, não é fácil”. O empresário disse que só agora estão a começar a fazer a limpeza dos terrenos. Considera que o prazo devia ser alargado, uma vez que a região tem um “clima completamente diferente do de Lisboa e do Alentejo”. “Cá para cima, quem já limpou, tem que tornar a limpar, porque as ervas ainda estão em pleno vigor vegetativo, como ainda não frutificaram tornam a rebentar em oito dias”, explicou Ramiro Rodrigues. No distrito de Bragança há 136 freguesias prioritárias, ou seja, localidades sinalizadas no âmbito da defesa da floresta contra incêndios. O Major do Comando Territorial da GNR de Bragança, Vítor Romualdo, alerta para a importância da limpeza dos terrenos, já que cerca de 60% dos incêndios rurais que aconteceram o ano passado estiveram relacionados com o uso indevido do fogo, como por exemplo queimas e queimadas. Relembra que as coimas podem ir dos 140 aos 5 mil euros no que toca à falta de limpeza. No distrito a GNR activou, para já, três postos de vigia, “geralmente ocupados por vigilantes especializados em detectar sinais de fumo e outras evidências de fogo, que podem alertar as autoridades e orientar os esforços de combate ao incêndio”.
Reconversão de terrenos
Com o objectivo de melhorar a gestão e o ordenamento do território foi criado o Programa “Condomínio da Aldeia”, no âmbito do Fundo Ambiental, que visa a reconversão de terrenos de floresta em terrenos agrícolas. Desta forma prevê-se que haja uma “diminuição da severidade dos incêndios rurais, da área ardida média anual e do aumento da capacidade de resposta dos territórios a eventos climáticos cada vez mais adversos e intensos, garantindo a segurança de pessoas, animais e bens, a valorização dos recursos locais e a promoção activa da biodiversidade”, além de “travar o processo de abandono” dos terrenos. O programa é aplicável a aldeias mais vulneráveis ou críticas. No distrito, a maior parte são dos concelhos de Bragança e Vinhais. As candidaturas terminaram em Abril. Podiam ter-se candidatado as autarquias locais, as entidades intermunicipais, as entidades gestores de áreas integradas de gestão de paisagem, as organizações de produtores florestais ou agrícolas, as entidades gestores de zonas de intervenção florestal, as entidades gestores de baldios, as organizações não-governamentais de ambiente e as associações de desenvolvimento local. As propostas eram financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência a 100%. A Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os- -Montes não se candidatou, porque “não há grandes condições para executar o projecto, visto que nas aldeias as pessoas já são proprietárias de quintais”