Problema de abate no matadouro de Bragança pode demorar meses a ser resolvido

PUB.

Ter, 11/04/2023 - 10:16


Mais de meio ano depois de os produtores de gado da região se terem queixado do matadouro de Bragança estar com problemas no abate, a situação continua

Nelson Preto é um dos empresários que está a sofrer com as consequências de o matadouro não estar a trabalhar a 100%. Cria porcos de raça bísaro e teve de recorrer ao matadouro de Vinhais para conseguir abater os animais. “O matadouro de Bragança não tem pessoas para fazerem o trabalho e tive que me deslocar a Vinhais. A acrescer a esta situação de subida do preço dos produtos, há ainda a questão do transporte daqui a Vinhais, que não é o mesmo que daqui a Bragança”, contou. O produtor entende que este é “um convite à não produção”, visto que “em vez de ajudarem ainda prejudicam”, salientando que “era conveniente haver mais apoios”. Nelson Preto é só um dos vários empresários com quem falámos e se queixam do mesmo. Tivemos conhecimento de um produtor que, por semana, abate 100 porcos, mas devido ao matadouro de Bragança não conseguir dar resposta, foi obrigado a usar “outros matadouros” da região. Além de se queixar de não conseguir abater os animais no tempo desejado, diz ainda que “não há qualidade no abate” e que esta situação estará relacionada com “falta de organização”. António Rodrigues também já esteve perto de passar pelo mesmo, mas conseguiu resolver o problema. Como? Ajudando no abate. O empresário de Bragança cria, mas também compra cordeiros, e leva-os ao matadouro para abater e depois vende-os aos talhos e restaurantes da cidade. Queria abater 100 cordeiros na segunda-feira, mas o matadouro sugeriu que fossem abatidos apenas alguns na sexta-feira. António Rodrigues não queria, uma vez que os talhos estão fechados ao fim-de-semana e a carne já não é “fresca” para vender na segunda- -feira. Ainda assim não teve alternativa. Abateu 50 na sexta-feira e outros 50 na segunda-feira seguinte. Sim, abateu, porque para conseguir ter os animais mortos teve que ajudar a matá-los. Felizmente que já o sabe fazer há anos, mas nem todos os produtores têm a mesma sorte e são obrigados a recorrer a outros matadouros. O problema já se vem a arrastar, pelo menos, desde Outubro do ano passado e em Dezembro desse ano ouvimos as queixas dos produtores e conseguimos falar com o presidente da Câmara Municipal de Bragança que admitiu que havia falta de funcionários, o que estava a impedir que o matadouro abatesse com a frequência que era habitual. Nesse mesmo mês, o município “afectou mais dois trabalhadores de outros serviços”, mas, ainda assim, o problema não ficou resolvido. Era preciso abrir concurso público para contratar mais pessoas. Ao que conseguimos apurar, a câmara abriu concurso público em Março deste ano, quatro meses depois, que decorreu até ao dia 29 desse mês. Foram precisos vários meses para conseguir abrir concurso e vão ser ainda precisos, pelo menos, mais três para que esses trabalhadores entrem mesmo ao serviço. Além disso, as pessoas seleccionadas, se não tiverem formação no abate, terão ainda que ser ensinadas, o que ainda leva pelo menos algumas semanas. Sabemos ainda que na semana passada entraram mais duas pessoas para trabalhar no matadouro, mas não sabemos se ficam apenas nesta altura da Páscoa, visto que há muito abate de cordeiros. Mais uma vez tentámos chegar à fala com o presidente da câmara de Bragança, Hernâni Dias, mas não prestou qualquer esclarecimento sobre o assunto.

Matadouro de Vinhais a ganhar

Com o matadouro de Bragança com problemas, os produtores são obrigados a recorrer a outras unidades, nomeadamente a de Vinhais. O vice-presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Martinho Martins, confirmou que “houve um acréscimo da afluência nos últimos meses” e que a facturação aumentou “cerca de 70%” o ano passado em relação a 2021. Em 2021 abateram 4963 carcaças, o que se traduziu em cerca de 75,5 mil euros, enquanto em 2022 abateram 5728 carcaças, o que representou cerca de 126 mil euros. O matadouro de Vinhais está ligado à produção do fumeiro com a certificação IGP, o que “exige que os porcos sejam tratados através da técnica do chamusco e não da técnica do escaldão”, e, por isso, “o município de Vinhais tem todo o interesse de continuar assegurar o funcionamento da unidade”. “Todo o acréscimo que haja em termos de actividade melhora a situação financeira do nosso matadouro”, disse Martinho Martins. No entanto, não deixou de tocar na ferida. “Mesmo com este acréscimo, o matadouro continua a ter problemas financeiros, tanto este como os outros da região. Era necessário que houvesse mais animais para abater, mas infelizmente é o que é”, referiu. Com a diminuição de criadores de gado e também do efectivo, nos últimos anos, a quantidade de matadouros na região começa a ser excessiva para o número de animais que são abatidos.

Jornalista: 
Ângela Pais