A putativa nova líder do Bloco de Esquerda deve parte da sua notoriedade à sua atuação nas Comissões de Inquérito à resolução do BES onde, efetivamente se evidenciou destapando os pés de barro das figuras relevantes da Sociedade portuguesa de então, mas que, em boa verdade, daí não resultou nenhum acréscimo visível para o bem estar ou melhoria das condições de vida dos portugueses por muito que tal tenha sido reivindicado pelo seu partido como alvíssaras pelo seu papel na chamada geringonça. Ficou ainda conhecida, não por qualquer subsídio ou benefício fiscal, para a classe média ou para os menos desfavorecidos, mas pelo imposto Mortágua. Igualmente célebre foi a seu “sound bite”: “Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro”. É bem provável que a anunciada salvadora da espiral eleitoral decrescente em que o Bloco entrou, tenha, relativamente à sua antecessora, a “qualidade” de dizer o que pensa, mesmo quando não pensa no que diz. Disso não haveria de vir mal ao mundo não fosse dar-se o caso de António Costa, que pediu e obteve uma maioria absoluta para se livrar da “chantagem” inaceitável dos partidos à sua esquerda, pretenda, quando em apuros nas sondagens e na popularidade, repescar princípios e políticas aprendidas no seu primeiro mandato com a força política que lhe abriu a porta de S. Bento com o beneplácito do outro parceiro de coligação. Decretar o arrendamento compulsivo, assenhorar- -se do direito de propriedade de “fogos devolutos” seja isso o que for só pode ter chegado ao Largo do Rato por “inspiração” serôdia e requentada, do partido de Ricardo Robles. Não passa pela cabeça de ninguém com moderado discernimento e justo entendimento, perder a vergonha de ir buscar imóveis devolutos a quem os tem, seja por que razão for, na maior parte deles, porque o mercado de “arrendamento controlado” retirou a muitos aforradores o rendimento cada vez mais magro e que a inflação não pára de delir sem que a lei das rendas permita minimamente compensar. Ou mesmo de quem, com sacrifício (ou sem ele) optou por comprar uma nova casa (seja porque se deslocou por razões de trabalho, porque emigrou ou qualquer outra razão de for pessoal) sem se desfazer da anterior e, em vez de a alugar, mantê-la como para lhe servir de retaguarda de conforto de um posterior reforma ou qualquer outro uso próprio que lhe quiser dar. É bom não esquecer que quem alugou casa para compor os magros rendimentos mensais, arrependeu-se, na maioria dos casos pois a lei das rendas não lhe garante retorno actualizado e a mais valia do imobiliário só é devidamente aproveitada se a casa estiver devoluta. Eu sei que dos lados da extrema esquerda hão de vir juras de amor para com os pequenos proprietários (desde que dos seus magros rendimentos retirem o suficiente para a manutenção dos fogos dos arrendatários, não sendo inédito que alguns destes tenham modos de vida mais abastados que aqueles) virando toda a sua fúria para os fundos de investimento imorais e desumanos que, esses sim, exploram e desalojam, desapiedadamente famílias carenciadas e todas as que lhe apareçam na rede em nome do “malfadado” lucro injusto e imoral. Os fundos não sendo ninguém em concreto podem ser muita gente, alguns com poucas alternativas para rentabilizar algumas economias, mas nem quero ir por aí. Basta-me a constatação de que tais atores de mercado não existiam no ramo habitacional há algumas dezenas de anos e o seu aparecimento, bem como o seu florescimento, muito devem à canibalização de centenas de pequenos proprietários fragilizados e empobrecidos pelas regras hiperprotetoras do mercado de habitação enunciadas, promovidas e defendidas pela mesma franja ideológica que vitupera e invetiva quem veio recolher e valorizar os despojos da terra-queimada praticada há meia centena de anos.