Qua, 22/02/2023 - 11:06
O sol de inverno que marcou a tarde do último sábado chamou à rua milhares de visitantes, que consigo traziam a vontade e a folia de verem desfilar centenas dos mais tradicionais e autênticos Mascarados da Península Ibérica e, ainda, de alunos dos Agrupamentos de Escolas do concelho e de utentes de várias Instituições Particulares de Solidariedade Social. À medida que o desfile percorria as principais artérias da cidade, ouvia-se ao longe o libertar de energias dos caretos, tomando de assalto a cidade com chocalhos e trajes das mais diversas cores. As gaitas de foles e o rugir dos bombos davam o mote aos caretos para fazerem as suas brincadeiras, chocalhando as senhoras e assustando quem por eles passava, das mais diversas formas. Sendo esta uma tradição secular, muitos dos espectadores do desfile fizeram questão de escolher aquele fim-de-semana para regressarem às origens. É o caso da Joana Meco, que actualmente reside em Coimbra. Por imposição do dia-a-dia e das responsabilidades, não regressa a Bragança tantas vezes quantas desejava. No entanto, fez questão de vir naquele sábado, para participar numa tradição que sente autenticamente. “Faço questão de vir sempre a Bragança neste fim- -de-semana do Desfile dos Caretos, porque é bom respeitarmos as nossas tradições. Desta vez até trouxe alguns amigos, para ficarem a conhecer o verdadeiro Carnaval transmontano”, disse Joana Meco. De forma a não deixarem morrer as tradições, há também aqueles que, desde muito cedo, tentam incutir às crianças o gosto pela cultura da região. “Sempre gostei muito dos caretos e por esse motivo fiz questão de vestir o meu filho de careto. Não podemos deixar que isto acabe”, disse Ana Serafim, vendo orgulhosamente a felicidade do filho, que desde muito cedo aprendeu a chocalhar. Os caretos, nascidos das entranhas do mundo rural, libertam-se do seu meio natural nestes dias, trazendo consigo todo o património cultural e histórico, num momento único que valoriza as tradições, promovendo-as e permitindo a todos, habitantes e visitantes, um contacto directo com este mundo ancestral e autêntico. Aquando da apresentação do Festival do Butelo e das Casulas, no dia 17 de Fevereiro, Hernâni Dias, presidente da Câmara Municipal de Bragança, falou do Carnaval dos Caretos como um “evento com grande expressão e significado” do ponto de vista da identidade do território. “Contamos com mais de mil pessoas a desfilar, o que significa que quem vem ao Festival, também vem para ficar no nosso Carnaval”, adiantou o autarca. Hernâni Dias, relembrou que nenhum evento pode viver de forma isolada, mas sim “inserido num ecossistema”. “Muitos caminhos acabam por vir dar a Bragança nos últimos dias. É importante termos esta noção para termos a capacidade de continuar a desenvolver iniciativas, que tenham expressão em todo o território. Ninguém pode pensar que um evento vive isoladamente. Ele vive enquanto estiver inserido num ecossistema, que permita aos turistas e visitantes que venham e fiquem no nosso território”, disse o responsável sobre o Carnaval dos Caretos, inserindo-o nos mesmos dias do Festival do Butelo e das Casulas. Naquele sábado gordo, no final do desfile, aconteceu a tradicional Queima do Mascareto. Trata-se de uma figura com sete metros de altura que foi simbolicamente colocada em chamas. Este espetáculo cénico contou a participação dos Caretos, na Cidadela, no Castelo de Bragança.