Doentes esperam horas nas urgências de Bragança para serem atendidos

PUB.

Ter, 13/12/2022 - 11:11


Pico de doenças respiratórias só deve ser atingido em Janeiro

As urgências do hospital de Bragança têm estado lotadas nos últimos dias, acompanhando a tendência nacional.

Há pessoas que chegam a ir de madrugada para o hospital e, ainda assim, esperam algumas horas para serem atendidas e outras horas para fazerem exames.

Houve até quem tenha estado seis horas à espera para ser atendido por um médico e teve que voltar no dia seguinte.

A sala de espera para as crianças também não tem estado muito diferente. E houve pais que tiveram que esperar quase sete horas para que os filhos fossem atendidos.

O desespero de quem já está há horas para ser atendido é notório na cara das pessoas que vão saindo da sala de espera para apanhar algum ar, sabendo que não serão chamadas tão cedo.

O Jornal Nordeste contactou diversas vezes a Unidade Local de Saúde do Nordeste para perceber o porquê de as pessoas estarem tanto tempo à espera para serem atendidas, mas não obteve qualquer esclarecimento.

Com o Inverno próximo e as temperaturas baixas a fazerem-se sentir, sendo que muitas das casas do nordeste transmontano nem aquecimento têm, o aparecimento de doenças respiratórias já não é novidade. No entanto, este ano, o problema é mais grave, uma vez que o uso de máscaras devido à pandemia da covid-19 deixou as pessoas mais frágeis e susceptíveis aos novos vírus.

Segundo o médico Fernando Andrade, “as pessoas estiveram três anos com maior protecção, defenderam-se de diferentes doenças”, o que levou a que as pessoas “não tenham tido a oportunidade de contactar com alguns vírus e criar algumas defesas”, significando isso o aparecimento de doenças que “acabam por se disseminar com muita facilidade”.

E este está a ser o início de um pico de afluência às urgências. O médico considera que ainda estamos a “subir” no número de infecções e “só no mês de Janeiro talvez comecem a estabilizar e a diminuir um pouco”.

Ainda assim, Fernando Andrade alertou para a deslocação recorrente das pessoas aos serviços de urgência sem sintomas aparentes para tal. “É um problema do nosso país que tem muito a ver com a dificuldade que as pessoas têm em ter assistência noutros locais”, afirmou, realçando que “cerca de 50% das pessoas que vão às urgências não têm justificação”.

“O serviço de urgência tem características específicas, que deve ser quando as pessoas têm necessidade de serem atendidas mais rapidamente com problemas mais agudos, devendo ser evitados problemas que possam esperar, ou que possam ser tratados de outra forma, ou noutro local”, disse.

O médico explicou que as “vulgares constipações” ou até “muitas gripes” podem ser tratadas em casa, através de “mezinhas caseiras”, com tratamento de febre e recorrendo a chás.

No caso das crianças, com sinais de febre ou tosse, também deve começar por ser tratada em casa, mas “se ao fim de três ou quatro dias as coisas melhoram ou se até houve um agravamento”, pode recorrer à urgência, mas o centro de saúde devia ser o primeiro local a ir.

Há um mês o ministro da Saúde anunciou um plano de contingência para o Outono-Inverno e apelou à vacinação contra a gripe e contra a covid-19. De entre as 20 medidas, algumas já utilizadas em anos anteriores, a novidade está na criação de uma equipa de monitorização para acompanhar a implementação das medidas e na criação de equipas nos Agrupamentos dos Centros de Saúde para apoiarem unidades que acolhem idosos. A linha do SNS 24 tem horários mais alargados e atendimentos complementares e deve ser o primeiro contacto a ser feito antes de recorrer às unidades hospitalares.

Jornalista: 
Ângela Pais