O meu pai, que Deus tenha, falou-me, várias vezes de um rapaz do seu tempo, um afamado cantador de fado, que brilhava nas desgarradas que, antigamente, se organizavam em festividades e romarias. Vinha de uma das aldeias do sul da Vilariça, não sabia ao certo se da Foz, ou das Cabanas, fossem as de Cima ou as de Baixo. Diziam-lhe que can- tava bem como o diabo ao que o próprio respondia que cantava melhor e se o mafarrico tinha dúvidas que aparecesse pois ele não tinha receio de pedir meças ao príncipe das trevas. E tal era a fanfarronice que, uma noite de lua cheia, dirigiu-se, sozinho (não encontrou quem o acompanhasse) a uma encruzilhada onde, por tradição, aconteciam coisas estranhas e sobrenaturais, próprias de bruxas, lobisomens e outras forças maléficas. Nunca ninguém soube ao certo o que se passou. O que ficou para a história foi a perda completa dos dotes vocais do fadista e uma recusa terminante em abordar o assunto.
Como este há muitos outros relatos que atestam que, quando é desafiado, o diabo, normalmente, não falha. Pode demorar, mas aparece. E quem confundir a demora com uma pretensa desistência, normalmente arrepende-se!
António Costa devia estar avisado desta tradição milenar!
Quando Pedro Passos Coelho vaticinou que as dificuldades do PS começariam quando viesse o Diabo, os socialistas galho- faram com as “previsões” do ex-primeiro-ministro e não havia debate parla- mentar, discurso público ou comício eleitoral onde faltasse a graçola sobre a “falhada previsão” passista... até que o diabo se fez anunciar!
Pois não é que o Diabo veio mesmo? E, como é seu timbre, no melhor da festa, para ser mais notado e destruidor.
Primeiro, sob a forma de uma pandemia demolidora, destruindo as recentes “conquistas” no deficit e nas “contas certas”. De pouco valeu o combate exemplar à moléstia e a maioria absoluta ganha a um PSD, sem rei nem roque, pois o próprio SNS, que fora estrela na atuação governamental, entrou em colapso, a inflação entrou de rompante, em força, sem pedir licença e instalando-se com impacto e duração totalmente opostas às garantidas pelo primeiro-ministro. Os salários e, sobretudo, as pensões começaram a perder poder de compra levando a chefia do governo a utilizar truques e passes mágicos para tentar esconder as suas reais intenções que, na prática, desmentiam as garantias dadas sob palavra de honra (palavra dada é palavra honrada) durante as campanhas anteriores levando ao cúmulo de atirar para o governo de Passos Coelho o que fora obra do seu antecessor, quer enquanto governante quer enquanto primeiro negociador/subscritor do acordo que nos colocou sob o jugo da infame troika, de má memória.
O Diabo chegou e ainda aí está, assombrando o elenco governamental com as trapalhadas ministeriais aeroportuárias (se a TAP foi renacionalizada e reforçada com três mil milhões de euros para evitar que o famoso “HUB” fosse para Madrid, como se justifica a ausência desse risco ao ser privatizada?), as reduções de IRC, as (in)compatibilidades dos gabinetes ministeriais e com as impensáveis e injustificáveis pressões para apagar gravações e excluir de atas, de intervenções alheias. E a procissão, perdão, o mafarrico, ainda está no adro.
As intervenções recentes do arguto e implacável Marcelo assim o dão a entender.