Portugal é, presentemente, uma democracia coxa, pobre, essencialmente corrupta, de cuja longa História fazem parte, para o bem e para o mal, ricas ex-colónias que os governantes portugueses de agora bajulam de forma despudorada
e servil.
Foi o que se viu na recente viagem de António Costa a Moçambique durante a qual se deixou enredar numa dança pública grotesca a que as televisões e redes sociais continuam a dispensar justa divulgação.
Dança a que António Costa se não eximiu e antes se entregou com visível entusiasmo.
O mais estranho, porém, para lá dos esgares e trejeitos rocambolescos da excêntrica bailarina que oficiou a dança, é que esta brandia um martelo com o qual simulava martelar a cabeça do perplexo primeiro-ministro como se o punisse, simbolicamente, por crimes que só ela saberá.
Justiça seja feita a António Costa, ainda assim: entre sorrisos e passos de dança, esteve perfeitamente à altura da comparsa. Espectáculo funesto e ridículo, que mais pareceu um ritual de macumba, uma dança de exorcismo dos massacres ocorridos em
Moçambique, sobretudo após a independência, designadamente no Maputo, em Homoíne e Manjacaze e de que a História, por certo, falará.
Sem esquecer o perpetrado pela Frelimo em 25 de junho de 1977, em que terão sido queimados vivos Joana Simeão, Uria Simango, Lázaro Nkavandame e outros nacionalistas macondes que defendiam a justa independência da nação cristã de Cabo Delgado, cujos valiosos recursos energéticos são agora cobiçados.
O primeiro-ministro António Costa, todavia, optou por evocar apenas o massacre de Wiriamu, ocorrido a 16 de Dezembro de 1972, em plena Guerra Colonial, que justamente condenou, mas pelo qual, sabe-se lá porque insondável sortilégio, também entendeu pedir desculpas publicamente, embora não tivesse ficado claro a quem, por quem, porquê e para quê as pedia tão a despropósito.
É que a esmagadora maioria dos portugueses, na qual António Costa certamente se incluiu, não tiveram nada a ver com o dito massacre que foi executado por uma restrita força do Exército Português que integrava milhares de militares brancos, pretos e amarelos e que, durante mais de dez anos, em simultâneo com a missão militar, rasgou estradas,
ergueu escolas e hospitais, tratou, curou, ensinou a ler e a escrever e matou a fome a milhares de in-
felizes. Para lá de promover a paz e harmonia interétnicas e de corrigir os desmandos prevalecentes do colonialismo ancestral.
Neste ponto, não podemos deixar de concluir que as Forças Armadas de Portugal não merecem o primeiro-ministro que têm.
Massacres são acontecimentos hediondos que todas as pessoas de bem condenam e repudiam sejam quais forem as circunstâncias em que ocorram, mas de que só pede desculpas quem tiver a consciência pesada, seja por que razão for. E coragem para tanto, como é óbvio.
António Costa, enquanto alto responsável político deveria, acima de tudo, isso sim, homenagear os mortos e os vivos, de parte a parte, colonizadores ou colonizados, vítimas de todas as chacinas e maldades e sem negar o direito aos acusados de serem defendidos na sua memória, se mortos, ou de se defenderem, se vivos.
Sobretudo tratando-se de um primeiro-ministro oriundo de uma família indiana que não foi arrancada à força da Goa colonial para ser escravizada em Lisboa. Bem pelo contrário. Indianos que, para lá do mais, ganharam visível destaque, em Moçambique, precisamente.
Pedir desculpas, nestas circunstâncias indicia puro oportunismo, cinismo e idiotice política.
Mais justo e construtivo será afirmar que as ex-colónias, as portuguesas em especial, também muito devem a colonos e colonizadores, a começar pela sua identidade e coesão nacional.
É isto que deve ser destacado se se pretender promover a paz e a cooperação com verdade e garantir melhor futuro para os povos envolvidos.
Claro que se tal dança exorcista tivesse tido lugar em Lisboa, em tempo da Festa do Avante, António Costa trataria, por certo, de também ele brandir uma foice em contraponto ao martelo da bailarina, para exorcizar outros massacres da democracia, como foi o caso da Geringonça, por exemplo.
A dignidade dos nossos políticos anda mesmo pelas ruas da amargura, como se vê e o primeiro-ministro António Costa deu mostras, mais uma vez, de não estar ciente do verdadeiro sentir da Nação, mais empenhado que parece em preparar a sua fuga para a frente, lá para os lados de Bruxelas ou mais além, na peugada de Durão Barroso e de António Guterres.
Remetendo as indispensáveis reformas políticas, administrativas e o planeamento estratégico para o fim da História.
Ficando Portugal, como sempre, sentado no chão, num canto da Europa e a rezar ladainhas de mão estendida à caridade comunitária.
Henrique Pedro