Serviços mínimos

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Ter, 18/01/2022 - 09:00


No dia 6 de Janeiro iniciou-se a consulta pública sobre as zonas onde a cobertura de rede ainda não chegou. É altura de participar e sinalizar todas as situações.
O Jornal Nordeste foi ouvir testemunhos de habitantes de algumas aldeias de Bragança e Vinhais que lidam diariamente com a falta de rede móvel e internet. A verdade é que as pessoas descredibilizam este concurso e sentem que nada vai mudar.  É bastante triste quando já não há esperança e estão “habituados a estar isolados”. A reportagem “Viver à procura de rede” mostra o sentimento de quem não se sente seguro em zonas onde nem se consegue ligar para o número de emergência.  
A par com as telecomunicações, os serviços de saúde são imprescindíveis para a qualidade de vida das populações. O que já era deficitário ficou a descoberto neste pico pandémico que atravessamos. Chegou-nos à redação diversas queixas de pessoas indignadas por não conseguirem aceder aos centros de saúde via telefone, uma vez que estavam isolados e não podiam ir presencialmente.
Todos com um sentimento de impotência e já no desespero falam com a comunicação social na expectativa de que algo mude. Na Unidade Local de Saúde do Nordeste cada vez mais se nota um problema de atendimento administrativo.
Há bem pouco tempo estava no Centro de Saúde de Mirandela e quis fazer uma pergunta à médica da minha avó, que tem já 92 anos. Dirijo-me ao balcão e digo precisamente isso, recebo de imediato uma resposta: “ah, tem de marcar consulta!”. Eu penso “consulta tem ela marcada para daqui a 3 meses”. Bem, vi logo que dali não levava nada e a saúde da minha avó é mais importante que a vontade de ajudar da dita funcionária. Resolvi aguardar até ver uma possibilidade de ver a referida médica. Ela passou e eu, educadamente, aproximei-me dela e disse que lhe gostaria de fazer uma pergunta. Prontificou-se de imediato a responder, mas do balcão ouvimos: “oh doutora, isto não pode ser assim, senão é uma rebaldaria”. Trocámos olhares em choque, devido ao raspanete que a médica estava a ouvir em alta voz por estar a tirar uma dúvida e ela diz envergonhada: “olhe agora é isto, somos repreendidos por falar com os pacientes, como pode ser uma coisa destas? Mas, diga-me que depois já vou conversar com a senhora”. E eu, claro, tirei a dúvida que pretendia e evitei trazer uma senhora de 92 anos ao centro de saúde que é um lugar perigoso, naquela idade, com tantos vírus e bactérias.
Às vezes penso como seriam os nossos serviços se tivéssemos muita gente no território? Seria uma catástrofe completa. Merecemos mais e melhor! É absolutamente necessário que as chefias locais passem mais tempo a analisar o serviço administrativo de atendimento. Nem imagino como será com idosos que não sabem ler, nem escrever como há tantos na região!

 

Cátia Barreira