A definição mais justa de negacionismo encontrei- -a no Diccionario de la Lengua Española, da Real Academia Española, que reza assim: Actitud que consiste en la negación de determinadas realidades y hechos históricos o naturales relevantes, especialmente el Holocausto. Especialmente o Holocausto, vejam só! Não sei, nem me importa saber, como é ou deixa de ser o cidadão Eduardo Ferro Rodrigues na sua vida particular e muito menos privada. Enquanto figura pública e principalmente Presidente da Assembleia, a segunda figura do Estado logo a seguir ao Presidente da mesmíssima República, note-se bem, é comumente tido como arrogante, faccioso e mal-educado. Um manancial de animosidade, portanto, que em nada prestigia o cargo que exerce. A verdade é que foi eleito por um número suficiente de portugueses. Ou malteses, sabe-se lá, integrando uma emblemática lista do género “todos à molhada e fé no partido”, tão característica da democracia lusitana. A sua nomeação como presidente de tão douta assembleia política foi posteriormente acordada interpares. Ferro Rodrigues é uma figura de proa partidária, um machucho do emergente totalitarismo socialista que paulatinamente tem vindo a abocanhar a democracia portuguesa, sobretudo desde que António Costa, com a bênção de Marcelo de Sousa, seu amigo de circunstância, ousou controlar avassaladoramente a comunicação social mais determinante, instalar agentes na administração pública e política mais relevante, tutelar a denegação da justiça nos processos políticos mais escandalosos, explorar a confrangedora acefalia da oposição de direita e manipular a esquerda a seu bel-prazer. Não quero com isto dizer que Ferro Rodrigues, enquanto Presidente da Assembleia da República, não deva ser democraticamente respeitado, mesmo quando o próprio, no exercício do cargo, se não dá ao respeito. Bem pelo contrário! Entendo até que as ameaças e os insultos de que foi alvo quando almoçava tranquilamente, acompanhado pela esposa, num restaurante próximo do Palácio de São Bento, devem ser drasticamente verberados, publicamente e nos tribunais. Ofensas que os principais órgãos de comunicação social atribuíram a negacionistas, “tout court”, sem considerações relevantes sobre esta importante temática, o que evidencia algum tipo de engajamento. Importa esclarecer, por isso, que negacionismos e negacionistas há muitos e para todos os gostos. Desde logo há os que negam a existência de Deus, que a Terra seja redonda, a evolução darwiniana, o aquecimento global ou o próprio Holocausto, o que é, quanto a mim, o espanto maior. Não seria de admirar, portanto, se alguém viesse agora argumentar que o “homo politicus” Ferro Rodrigues não existe, de tão surpreendente que é. Só mesmo o seu correligionário Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, se lhe compara mas também ninguém apareceu, até hoje, a duvidar da sua existência. No caso que envolveu Ferro Rodrigues não restam dúvidas, porém, de que se está apenas e tão-somente, perante negacionistas da COVID-19 e da justeza da vacinação contra este flagelo que irreflectidamente associam ao desastrado Presidente da Assembleia da República, como se tivesse sido ele, mais os seus acólitos, a inventá-la, embora não necessariamente a produzi-la na chafarica de São Bento. É que, se assim fosse, tal não passaria de um “remake” da teoria da conspiração de que que os chinocas se conseguiram safar, até melhor ver. É claro que os negacionistas lusitanos da Covida-19 estão no exercício pleno de um consagrado direito democrático. Devem é apresentar argumentos relevantes, cientificamente validados para as suas reivindicações e fazê-lo de forma pacífica e dentro da Lei. O que não foi o caso. É o que acontece, por regra, com os diferentes tipos de negacionismo que irrompem nas democracias liberais, que poderão nada ter de espontâneo e antes serem provocados, promovidos e financiados por forças escondidas. Com realce para as que preconizam a tão badalada Nova Ordem Mundial que é, na verdade, uma hidra de sete cabeças, expressão moderna, em última análise, da velha tentação totalitária, não sendo necessária grande imaginação para encontrar tentáculos americanos, chineses ou mesmo islamitas, entre outros, a esbracejar subrepticiamente. Preocupante é, contudo, concluir que todos eles contemplam a extinção de grande parte da Humanidade por diversas vias, mesmo quando declaram o contrário, no quadro de uma governação mundial optimizada em função dos seus próprios desígnios totalitários. São forças que, sob capas progressistas, esquerdistas e revolucionárias, mesmo quando marcadamente de direita, privilegiam a mobilização de ingénuos e papalvos, porque assim se torna mais fácil e eficaz a desmoralização e destabilização de sociedades e da própria Humanidade.