Paira no ar a desilusão de quem acreditava e defendia com todas as suas forças, a dignidade e a seriedade dos seus dirigentes clubísticos. Nada que não fosse esperado ou recorrente, mas quão maior é o barco, maior é a tormenta. Não nos cabe julgar seja quem for, nem aqui nem agora, como se compreende, até porque quem tem o direito de o fazer são os tribunais através dos juízes destacados para cada caso. Contudo, o que nos choca mais é a realidade do que está a acontecer. Num país tão pequeno e onde tudo se descobre mais cedo ou mais tarde, como é que ainda há atrevidos corajosos que se metem por estes atalhos, sabendo que os trabalhos vêm a caminho. Temos assistido a um corrupio de corrupção em quase todos os setores onde o governo não está isento, o que é ainda mais gravoso. No entanto, apesar de não ser capaz de servir de exemplo para nada e ninguém, outros teimam em seguir os mesmos passos acabando por cair nas malhas da justiça. Será que não acreditavam que tudo se vem a saber? Tudo se descobre mais tarde ou mais cedo. É verdade que constatamos que os meios de o fazer são cada vez mais ardilosos e dignos de um prémio pelo estudo aturado que fazem para despistar os investigadores, sejam eles quais forem. Vimos recentemente o que está a acontecer a Joe Berardo, o homem que dizia que não devia nada a ninguém e que nada possuía de seu a não ser uma garagem. Santa ingenuidade! Será que queria fazer dos outros tontos ou acreditava mesmo que não fosse possível descobrir toda a tramóia engendrada pelos seus correligionários? Mas que o esquema estava bem montado, lá isso estava, mas não o suficiente para não ser desmantelado. Não seria possível ser dono de uma tão grande fortuna e não ter nada de seu. Só nos contos de fadas em que as crianças acreditam piamente em tudo o que se lhes conta e ainda bem, pois a realidade é bem diferente. Na idade adulta descobrirão que afinal havia uma outra história, mas fica para sempre a lição aprendida. Mas falar de Berardo ou de qualquer membro do governo é quase igual, pelo menos num aspeto e que se refere aos adeptos que têm. Não têm nenhuns. Não movimentam massas nem fanatismos e só o facto de serem acusados de corrupção arrasta uma indignação enorme a nível nacional e uma crítica tremenda que os leva a afastarem-se e caírem numa penumbra onde deixam de ser vistos, mas não criticados. Caso diferente é o mais recente que se refere a Filipe Vieira e ao Benfica. Digno de parangonas de noticiários e de primeiras páginas de jornais de todo o mundo, revela indícios de corrupção que envolve uma rede de empresas e de familiares, arrastando para a lama o sonho de muitos que ainda defendiam o presidente do maior clube de futebol do país. Tudo já se vinha arrastando há alguns meses e até parece que estavam a dar tempo a Vieira para esconder o que não se devia ver ou o que o poderia incriminar diretamente. Foi chamado ao Parlamento para prestar declarações e disse quase o mesmo que Berardo tinha dito quando lá esteve. Claro que a culpa morreu solteira e há de continuar a morrer já que ninguém a quer por companheira. Mas a verdade é que a procuram para com ela fazer panelinhas, abandonando-a logo de seguida dizendo que não a conhecem de lado algum. Típico e normal. Mas voltemos a Vieira e ao futebol. Custa certamente aos adeptos benfiquistas enfrentar uma situação destas e ver o seu clube empurrado para os becos da desgraça e o presidente ser preso por suspeita de corrupção. Mais grave é ter-se servido de dinheiros do Benfica para negócios seus, segundo o que veio a público. Mais grave ainda é desviar para outras empresas esse dinheiro, pensando que o rasto se diluiria nas vielas da rede tão bem engendrada. O facto é que quem compra, por exemplo, uma empresa falida por cinquenta milhões e a vende a seguir por um euro a outra empresa de modo a pagar a sua própria dívida, é um esquema bem feito, mas facilmente desmontável, como parece. Isto leva-nos a acreditar que em Portugal há cabeças demasiado inteligentes, pena é que só lhes dê para pensar mal. Não está aqui em causa o futebol ou o clube, seja ele qual for, o que está em análise é o facto de haver tanta corrupção num país tão pobre como o nosso. Afinal de onde vem tanto dinheiro? Todos estes milhões serviriam perfeitamente para ajudar os que vivem com imensas dificuldades, especialmente agora em tempos de pandemia. É pena que assim seja. Tanto falou Vieira sobre tantas coisas feitas e sobre intenções de fazer que se esqueceu de referir que tinha feito asneira e que deixou furar a rede por onde a bola vai continuar a passar. Não se lembrou!