A presente reflexão apoiou parte da apresentação do livro “Bragança no Século XX, através da imprensa regional”, não inclui a parte religiosa que esteve a cargo do Senhor Bispo da Diocese de Bragança-Miranda. A apresentação decorreu dia 2 de maio de 2021, é autor do livro o ilustre Bragançano Prof. e investigador Francisco Terroso Cepeda, a edição foi oferecida pelo autor à Câmara Municipal. Pediram-me que partilhasse de forma mais alargada esta reflexão, que não uma investigação, por não ter essa qualidade, o que me propus fazer. A obra envolve milhares de textos escritos, sobre temas muito diversos, em épocas políticas distintas, o que me levou a escolher o formato de uma viagem ao longo do século XX, sem ter que seguir uma ordem temática ou cronológica. Agrupei quarenta assuntos em cinco pontos: acontecimentos que marcaram a sociedade brigantina; grandes dificuldades e ameaças; mudança da paisagem rural do concelho; mudança da paisagem urbana e evolução das estruturas sociais e económicas; a imprensa em Bragança no século XX.
1 – Acontecimentos que marcaram a sociedade brigantina
No século XX a humanidade deu um grande salto, na tecnologia, no crescimento da economia, na criação de redes globais de logística comercial, e de cooperação económica, na criação de instituições globais como as Nações Unidas, progrediu a democracia, a capacidade de enfrentar situações de escassez de bens, reduzir a fome no mundo, socorrer os mais frágeis. É marcado por dois conflitos militares de escala global, que mobilizaram toda a capacidade económica, industrial e científica dos países envolvidos. Portugal viu-se forçado a envolver-se na I Guerra Mundial. De Bragança, partiram para a frente de guerra, no ano de 1916, o 6.º Grupo de Metralhadoras, no ano de 1917, em dois comboios embarcaram 1229 homens do batalhão de infantaria 10, para a frente da Flandres, no ano de 1918 participou na batalha de La Lys o Batalhão de Caçadores n.º 3. A I Guerra Mundial agravou a crise económica, trouxe a fome e a Gripe Espanhola que nos anos de 1918-1919, se propagou a partir da frente de batalha através das cadeias logísticas e rapidamente alastrou vitimando entre 50 a 100 milhões de pessoas. Em Portugal morreram mais de 50 mil pessoas. Em Mirando do Douro era noticiado que metade da população estava enferma. O comboio chegou a Bragança a 1 de dezembro de 1906. No ano de 1861 iniciou na Câmara dos Deputados a luta para dotar o distrito de linhas férreas, chegou a Bragança 45 anos depois e 27 anos depois de aprovada a construção da linha do Tua, a 19 de janeiro de 1883, em via estreita, como ramal nacional e não linha internacional como inicialmente foi aprovada. Foi heroica a luta de ilustres bragançanos, destacando o Conselheiro Abílio Beça e o Eng.º José Beça. Foi intensa a luta pela ligação ferroviária, envolveu muitas propostas, muita no parlamento e fora, como foi Clemente Meneres que reuniu vários apoios para lutarem pela ligação ferroviária, contando com o apoio de deputados como, Eduardo José Coelho, que veio a ser ministro em três governos progressistas, e do bispo de Bragança. A energia elétrica chegou no ano de 1921, a vila Real chegou 37 anos antes, em março de 1894. A eletricidade substituiu a antiga iluminação por lampiões alimentados a petróleo, antes a azeite. A energia era produzida na Central instalada nos Batocos, concessionada no ano de 1914, foi gerida pelo engenheiro francês Lucien Guerche, até 1945/46. No ano de 1974, a iluminação no concelho era muito deficiente, a maioria das aldeias não dispunha de eletricidade. Foi enorme o trabalho de construção de postos de transformação, de linhas de média e baixa tensão e de redes de iluminação pública. Hoje seria impensável viver sem eletricidade. No início do século, a sociedade portuguesa vivia uma situação de radicalização política, situação económica e financeira muito difícil, no ano de 1892 foi declarada a bancarrota do Estado português, só no ano de 1902 a 1903 foi obtido acordo internacional de credores. O Real, moeda portuguesa desde o ano de 1430, foi substituído no ano de 1911 pelo escudo, este substituído a 1 de janeiro de 2002 pelo euro. Também a I República, foi de elevada instabilidade social e política. Em 16 anos houve sete parlamentos, 45 governos e oito presidentes da República, destes só António José de Almeida conseguiu completar o mandato de 4 anos. A constituição de 1911, consagrou a República una e indivisível, inscreveu uma vaga orientação descentralizadora, campo privilegiado de luta pela autonomia municipal e regional, teve momento alto nos congressos regionalistas. Em 1911, o izedense Alves da Veiga defendia a República como uma “confederação de oito províncias, designadas de Estados provinciais”, Henrique Trindade Coelho, apresentou no ano de 1922 um projeto constitucional para uma República Federal. A discussão regionalista foi dura no I Congresso Transmontano, realizado no ano de 1920, terminou com a aprovação de moção, que conciliava as posições entre o associativismo municipal e o Estado unitário, desde que, à província não tirasse alguma coisa do que ainda tinha, que já tinha tirado muito do que ela teve. A constituição de 1976 inscreveu a criação das Regiões Administrativas, ainda não criadas, como há um século atrás permanecemos divididos e Lisboa mais centralista. Regressou a Guerra Mundial, de 1939 a 1945, devastadora de vidas humanas, de infraestruturas e da economia. Foi a mais mortífera da humanidade, com 50 a 75 milhões de mortos. Deixou marcas terríveis como o holocausto e o lançamento das primeiras e únicas bombas atómicas. A indústria do armamento desencadeou elevada procura do tungsténio. Instalou-se a febre do volfrâmio, em Bragança, as minas de Parada, Paredes, Montesinho e Guadramil entraram em grande atividade, houve mais dinheiro a circular, beneficiou o comércio, a reabilitação de habitações, foram construídos novos edifícios. Seguiu-se a Guerra Fria, de natureza geopolítica, entre o Bloco Oriental e o Bloco Ocidental, durou até à dissolução da União Soviética no ano de 1991. No ano de 1961 foi declarada a Guerra Colonial, a rádio e a televisão anunciaram o início da guerra. Neste ano, Portugal em confronto militar com a União Indiana, perdeu o Estado Português da Índia, que governou durante 450 anos. A guerra colonial durou até ao ano de 1974, entrou num beco sem saída e o império desmoronou- -se. Cerca de um milhão de jovens foram mobilizados para a frente de guerra. O desenvolvimento do país foi adiado, sofreram as famílias que viam os filhos partir, alguns regressar em caixões ou mutilados. No ano de 1941 realizou-se o II Congresso Transmontano, a sessão de abertura decorreu em Bragança, presidiu Ferreira Deusdado que referiu: «A Província de Trás-os-Montes, por ser a mais afastada do coração de Portugal, é precisamente aquela que menos vista tem sido pelos que estão no Terreiro do Paço.» Presidiu à sessão de abertura o Chefe de Estado e o Ministro das Obras Públicas. Bragança recebeu triunfalmente o Chefe de Estado. O cortejo de receção, foi organizado frente à Quinta António Dias, com representação das Câmaras do Distrito, e diversas instituições civis do distrito. Tocaram as bandas de música, repicavam os sinos, ouviram-se os foguetes, desde a Ponte do Loreto até ao edifício da Câmara Municipal, onde estavam alinhadas as forças da Legião Portuguesa e do Exército e de outras instituições. Referiu o Mensageiro de Bragança, ser o primeiro a visitá-la, 554 anos depois de D. João I. Os congressistas hospedaram-se no Grande Hotel Virgínia, na Grande Pensão Moderna e na Pensão Internacional. Esteve prevista a visita do Rei D. Manuel II a Bragança, no ano de 1910. A Câmara Municipal preparava uma festa de receção como Bragança nunca tinha tido. Um telegrama do Primeiro-ministro de 5 de outubro de 1910 liquidou toda a azafama. No dia seguinte, a cidade tomava conhecimento da proclamação da República e da saída da Família Real para o exílio. Dia 8, frente à Câmara Municipal, formava uma força de infantaria 10, a banda de música e uma força de Cavalaria 9. Da varanda do edifico foi lida a proclamação da República, içada a bandeira verde e encarnada, à qual as tropas fizeram a continência e a banda executou “A Portuguesa”. Estavam cumpridas as formalidades e proclamada a República. Caía a Dinastia de Bragança. Bragança viveu e sofreu com a elevada agitação sociopolítica. No ano de 1911 foi criado, o Centro Republicano Emidio Garcia e o Partido Republicano Conservador Local, o primeiro de âmbito local criado em Portugal. Ocorreram incursões monárquicas, a 4 de outubro de 1911, por Cova de Lua e Soutelo, por onde entrou uma força de 950 homens comandados por Paiva Couceiro, foi travada pelo Regimento de Infantaria 10. Ocorreram novas investidas monárquicas nos anos de 1913 e 1914 e a 19 de janeiro de 1919, Paiva Couceiro organizou uma Junta Governativa do Reino com sede no Porto, à qual aderiram as guarnições militares da cidade. A I República caiu a 28 de maio de 1926. Bragança estava cansada da política, do confronto social, economia fragilizada, não entrou no conflito. Veio a fazê-lo no ano de 1933 em reação à aprovação da Constituição do Estado Novo, tendo ocorrido a morte de um militar membro da Administração Municipal, a prisão, a condenação e exilio de alguns dos revoltosos. A comemoração do V Centenário da elevação de Bragança a cidade foi preparada com antecedência. No ano de 1963, o Ministro das Obras Públicas visitou Bragança, para dar luz verde a um grande plano de melhoramentos da cidade, executado ao longo de uma década. Nem todos os investimentos foram realizados por dificuldades da Câmara Municipal. A sessão de encerramento das comemorações, decorreu a 29 de agosto de 1964, foi presidida pelo Presidente da República Almirante Américo Tomás. As comemorações levantaram o ânimo das forças vivas da Terra. Nas décadas de 1950 a início da década de 1970, o Governo deu grande apoio a Bragança, na construção de novas infraestruturas e equipamentos. No ano de 1950, quatro ministros oriundos do distrito integravam o mesmo Governo, ocupando pastas importantes como: a Justiça; as Finanças; o ministério do Interior e o ministério da Marinha. No período referido, outros Ministros e Secretários de Estado, oriundos do distrito ocuparam lugares no Governo. Bragança beneficiou muito da sua presença e empenho. A primeira aeronave que sobrevoou Bragança, foi um biplano da Esquadrilha da Amadora a 30 de julho de 1922. O primeiro campo de aviação de Bragança, foi construído no local de S. Tiago, um amplo pinhal, a cerca de três quilómetros do limite da cidade, a construção decorreu de 1927 a 1932. O Campo mudou para Baçal, os trabalhos iniciaram no ano de 1965, foram concluídas no ano de 1976, pela Direção Geral da Aviação Civil, que tomou conta do processo por a Câmara Municipal ter dificuldades, na aquisição de terrenos, o que resultou na construção de uma pista de 1200 metros, em vez dos 2000 metros previstos, uma perda de consequências óbvias. No ano de 1976 a TAP iniciou em regime experimental, voos regulares de transporte de passageiros. No ano de 2004 a pista foi ampliada para 1700 metros e no ano de 2008 foi aprovado o projeto de expansão para 2300 metros, e o estudo de impacto ambiental, visando a operação de aviões para 200 passageiros. A revolução do 25 de Abril de 1974, abriu caminho à liberdade, a um novo ciclo político de construção do Estado democrático. No dia 27 de abril, na Praça da Sé, organizou-se a primeira grande manifestação popular de apoio ao movimento das forças armadas. O Primeiro de Maio, como em todas as cidades portuguesas, foi de grande afluência às ruas para festejar o fim da ditadura e a conquista da liberdade. A comemoração do 8.º Centenário do 1.º Foral de Bragança, teve a sessão de encerramento a 21 de fevereiro de 1988, foi presidida pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, que um ano antes tinha instalado a Presidência Aberta de uma semana em Bragança. Governava o Prof. Cavaco Silva, que se deslocou a Bragança com alguns dos seus ministros, assumindo concretizar três das principais reivindicações: a construção do IP4, o desenvolvimento do IPB e o aproveitamento hidroelétrico do Alto Sabor. O presidente da República congratulou-se com o bom andamento dessas três reivindicações. As acessibilidades ao Nordeste Transmontano exigiram uma luta reivindicativa permanente. A construção do 1.º troço do IP4 foi o de Lamas a Quintela de Lampaças, na década de oitenta e o último foi o de Rio Frio a Quintanilha, no ano de 2000. No ano de 2003 o governo decidiu continuar a autoestrada de Amarante a Vila Real. Tudo se preparava para excluir Bragança do mapa de autoestradas do País. Não desistimos, o III Congresso Transmontano foi a prova disso mesmo, e finalmente em novembro de 2004, na 1.ª reunião do Conselho de Ministros realizada em Bragança, tudo ficou resolvido. A construção da A4, do IP2 e do IC5 foi garantida e em menos de uma década, até dezembro de 2012 tudo foi executado, abrindo melhores perspetivas de futuro. A criação do Instituto Politécnico foi uma grande conquista. No ano de 1972 foi criada a Escola Superior de Enfermagem, no ano de 1973 a Escola Normal Superior e no ano de 1979 o Instituto Politécnico de Bragança. No ano de 1986 iniciaram atividade letiva as Escolas Superior Agrária e de Educação, com 135 alunos. Com as cinco escolas, centros de investigação, serviços sociais e residências de estudantes, instalações circunscritas à antiga Quinta de Santa Apolónia, e a Mirandela, representa uma realidade social, académica, económica e urbana muito forte. Foi enriquecida pela criação do ISLA, da Escola Prática Universal e do Centro de Formação Profissional.
2 - Dificuldades e ameaças de Bragança
No início do século, os interesses de Bragança foram atacados. O governo progressista retirou a Bragança a direção de serviços agronómicos e postos experimentais, para os colocar em Mirandela. Bragança, no ano de 1762 tinha dois regimentos de Infantaria no Castelo e um de Cavalaria no Forte de S. João de Deus, com 460 militares e 390 cavalos, extinto no ano de 1911. Logo de seguida à instalação da ditadura militar, foi extinto o Regimento de Infantaria n.º 30 e o 6.º Grupo de Metralhadoras, restando o Regimento de Infantaria 10. Mais um problema a perturbar o concelho, pela perda de recursos no comércio local e do contributo dos militares no ensino público e na administração pública. A questão militar voltou ano de 1958, tendo sido extinta a única unidade militar aquartelada em Bragança, o Batalhão de Caçadores 3 e encerrado o Museu Militar, um rude golpe para a economia e a história dos brigantinos, desprezo pelo esforço de séculos na proteção da fronteira mais vulnerável do país. No ano de 1960/1964 os quarteis da Cidadela foram demolidos. No ano de 1965 foi aprovada a construção de novo quartel no antigo Forte S. João de Deus, no ano de 1966 regressou o Batalhão de Caçadores, n.º 3. No ano de 1977, já em democracia, o BC3 foi extinto, no âmbito da reestruturação do exército, permaneceu a presença militar em Chaves, em Vila Real e Lamego. Este duro ataque aos interesses de Bragança não deveria ter ocorrido, a reestruturação poderia ter sido feita extinguindo unidades em Lisboa ou no Porto. O centralismo voltou a atacar. A ligação ferroviária de Trás- -os-Montes a Espanha dividiu a região e o país. No ano de 1867 as comissões parlamentares de obras públicas e fazenda, sob iniciativa do governo regenerador, aprovaram a ligação da linha do Douro, pelo Tua a Bragança e ligação a Zamora em via larga, a execução foi travada pela situação financeira do país. No ano de 1878, o ministro das obras públicas do governo regenerador, apresentou ao parlamento proposta, de ligação da linha do Douro a Salamanca. Neste ano, Sousa Brandão propôs a ligação do Tua a Bragança em via estreita e a ligação a Espanha pela linha do Douro, em via larga. Alguns militares temiam que a ligação a Salamanca, par além da prevista à linha da Beira Alta, abrisse mais um ponto de penetração do inimigo, preferiam qua a ligação se concretizasse por Bragança. A opção de ligação por Bragança era defendida por progressistas e republicanos, João Pires Vilares, no Parlamento defendeu heroicamente que a internacionalização da linha do Douro se fizesse por Bragança a Zamora. Muitos o fizeram. O esforço do governo centrou- -se na construção da linha do Douro até à fronteira e nas negociações com Espanha, que pouco entusiasmo teve no projeto, o que levou o governo, a banca e empresários portuenses a cometer erros financeiros graves. Surpreendentemente, a Câmara de Bragança pretendendo manter a sua lealdade ao governo do partido regenerador, manifestou o apoio à ligação do Douro a Salamanca, invocando razões do foro militar e de defesa nacional, posição contrária aos interesses de Bragança, conforme consta da reunião de Câmara Municipal de 28.06.1882. Devia ter defendido a decisão tomada 15 anos antes pelo ministro das obras públicas, também regenerador, a construção da linha do Tua a Bragança e ligação a Zamora em via larga. Hoje, nos planos da Ferrovia 2030, estaria a modernização e eletrificação da ligação ferroviária do Tua a Bragança e Zamora, em vez de um mapa em branco, o que é uma nova ameaça contra a qual é preciso lutar. Com o retomar das províncias como divisão administrativa, no ano de 1936, foram criadas onze províncias. A Vila Real, que só adquiriu o título de cidade no ano de 1925, foi atribuída a sede da Província, um verdadeiro choque para Bragança, com história económica e política e administrativa incomparáveis, viu-se marginalizada, diz-se que por atraso de reação política dos seus dirigentes. Quando da elaboração do IV Plano de Fomento, no ano de 1973, para vigorar no período de 1974/79, no relatório elaborado pela Comissão de Planeamento do Norte, sendo seu presidente o eng.º florestal António Eduardo Carneiro, o Plano colocou Bragança ao nível de centro rural principal, a par de Moncorvo e Mogadouro, enquanto Macedo de Cavaleiros e Mirandela eram elevados à categoria de centros urbanos. Uma afronta à história, às funções urbanas de capital de distrito e aos projetos futuros de Bragança. A cidade ergueu-se em protesto. Valeu o facto de, com o 25 de Abril, o Plano ter ficado sem qualquer efeito. Na luta pela criação da Universidade de Bragança, encabeçada pela Comissão Pró-Universidade, que entregou uma petição na Assembleia da república, os compromissos políticos a nível nacional, não se conjugaram de forma eficaz com o interesse local que não se uniu. No ano de 1998 defendíamos a criação de uma Faculdade de Medicina em Bragança, logo de seguida outras foram criadas e há poucas semanas o Ministro Manuel Heitor desafiou a UTAD a criar o curso de medicina. Passadas duas décadas, nunca como hoje as condições institucionais e políticas foram tão favoráveis á criação do ensino universitário em Bragança – Instituto Universitário ou Universidade de Ciências Aplicadas, caminho que é necessário retomar, voltar a acreditar e lutar, para não haver surpresas futuras. O 1.º Plano Regional de Ordenamento do Território, elaborado pela CCDR-N no ano de 2009, pretendia considerar Bragança como cidade regional, ao nível de Mirandela, Lamego, Chaves. A Câmara Municipal, exigia que fosse considerada cidade de equilíbrio regional, a par do Porto, Vila Real e Braga. Bragança estava novamente a ser atacada, foi necessário usar todos os argumentos, até junto do primeiro ministro, para que na versão final Bragança tivesse sido incluída como cidade de equilíbrio regional, como era devido. A emigração marca o século XX, está na base da maior fragilidade atual. A década de 1901 a 1911 foi o período de maior emigração antes de 1960. Entre 1910 e 1919, do distrito de Bragança emigraram 18% dos seus habitantes. A emigração fazia-se para a América e sobretudo para o Brasil. Eram famílias inteiras, sobretudo jovens que partiam. Após a II guerra mundial deu- -se o segundo grande período de emigração, de 1946 a 1973, acentuou-se o êxodo do mundo rural pobre. França e Alemanha foram o principal destino. A emigração legal do distrito de Bragança no período de 1950 a 1979 foi de 53 220 cidadãos, não contando com a que se fazia “a salto.” Em meio século, o distrito de Bragança perdeu quase 50% da população. Cerca de 3000 retornados, chegaram a Bragança a seguir ao 25 de Abril. No ano de 1975, foi lançada uma ponte aérea de meses que, das antigas colónias trouxe centenas de milhares de retornados ao país. A Câmara Municipal, a igreja e toda a comunidade, com apoio do IARN – Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, fizeram o que podiam em termos de ajuda social e humanitária, que contou com o apoio da Convenção das Igrejas da Noruega sob a designação “Projeto cooperativo de construção de emergência em Bragança”, que entregou 100 casas prefabricadas. Os retornados, deram um grande contributo à revitalização social e económica do concelho.