Em política, troica e triunvirato são a mesma coisa, muito embora na língua russa o termo “troica” também designe uma carroça puxada por três cavalos aparelhados lado a lado.
Esta a metáfora que, em meu entender, melhor se ajusta à situação que Estado português vive, presentemente.
O correspondente termo latino “triunvirato”, por sua vez, é descrito nos melhores dicionários como a “associação de três cidadãos poderosos para açambarcar toda a autoridade”.
Não pretendo ser tão radical. Prefiro designar “triunvirato” como uma associação de três personalidades, com similar autoridade política, conluiadas na governança de uma sociedade em circunstâncias excepcionais.
A História Universal dá-nos exemplos de várias troicas ou triunviratos.
Na Roma da antiguidade, desde logo, ficaram célebres dois:
O Primeiro Triunvirato (59 a.C. – 53 a.C.), constituído por Júlio César, Pompeu e Marco Licínio Crasso;
E o Segundo Triunvirato (43 a.C. – 33 a.C.) que integrou Otaviano, Marco Antônio e Lépido.
Na União Soviética de má memória, três troicas fizeram valer toda a sua maldade sendo que a mais mal-afamada de todas terá sido a formada por Malenkov, Beria e Molotov, que governou após a morte de Stalin em 1953.
No Portugal dos nossos dias a troica constituída em Abril de 2011 por Jürgen Kröger (Comissão Europeia), Poul Thomsen (Fundo Monetário International) e Rasmus Rüffer (Banco Central Europeu) assinou com o governo português da altura o Memorando de Políticas Económicas e Financeiras, que teve o mérito de salvar Portugal da banca rota, malgrado os erros e exageros cometidos.
Com a queda da Geringonça uma nova “troica”, ou “triunvirato”, como se queira, ganhou corpo, agora mais em evidência com a crise provocada pela pandemia Covid-19.
Trata-se da associação contranatura dos três políticos mais badalados, a saber: o Presidente da República, que é mau de tão bonzinho que é; o Presidente da Assembleia da República que é péssimo de tão mau que é, e o Primeiro-Ministro, que não é bom nem mau. É o que é: dá uma no cravo outra na ferradura, uma de democrata e outra de ditador, uma de socialista e outra de liberal. E por aí fora.
Troica esta que tem como principais bases de apoio a emblemática família socialista, que ocupa todos os níveis do Estado e os agentes que controlam os mais influentes programas dos principais órgãos da comunicação social, com a missão de dourar a imagem do governo, dentro e fora do país.
Troica que tem contado, até ver, com o silêncio conivente da oposição, que continua ligada a ventiladores, enquanto gravíssimos casos de corrupção, favorecimento e negócios escuros são despejados nas redes sociais, para serem partilhados à saciedade.
É esta troica espúria que tem nos braços a monumental crise sanitária, económica, financeira e social que já obrigou ao racionamento de bens, salários e serviços, com destaque para consultas e cirurgias. Mais do que austeridade é de racionamento que se trata, portanto.
Felizmente, os portugueses têm-se mostrado cordatos e colaborantes, embora pouco confiantes porque não acreditam que o Marcelo milagreiro, o Ferro domador de feras e o Costa ilusionista seja capazes de, por si sós, resolver a crise.
Terão que ser eles próprios a porfiar se querem que tudo acabe em beleza e a democracia não colapse.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.