A humanidade pensava, até há pouco tempo, que os males do planeta se iriam ultrapassar com simples cimeiras sobre o clima, sobre a poluição e sobre os males que atingiam o próprio homem. Enganámo-nos. Todos. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.
É arrepiante pensar no que está a acontecer hoje no mundo inteiro. É horroroso imaginar a quantidade de mortes que avassalam os países e a enormidade dos atingidos por este vírus assassino e cobarde. Podemos usar todas as estatísticas possíveis para explicar a quantidade de mortes, de atingidos e a progressão geométrica ou aritmética que quisermos, para mostrar o que se está a passar no mundo inteiro, mas nenhuma delas afasta o perigo que nos assola diariamente. Invisível, mortal, assassino, ele espalha-se entre nós sem nos pedir licença para entrar.
É tempo de parar para pensar. Pensar a sério no que está a acontecer. Não tanto sobre de onde vem o vírus, do que o provocou, se foi inventado ou não, se surgiu por acaso ou simplesmente se apareceu como um aviso sério, intrínseco, do próprio planeta ou de um ente superior que nos quer alertar para uma imensidão de perigos que a todos nos atingem, direta ou indiretamente. Se assim for, talvez possamos agradecer ao vírus por nos ensinar que afinal, somos dependentes de algo muito maior do que poderíamos imaginar.
Todos tínhamos como certo o luxo em que vivíamos, a abundância dos produtos que possuíamos, a liberdade, a saúde, mas agora temos que reequacionar tudo. Estávamos sempre demasiado ocupados, sem tempo para as coisas mais simples, para os nossos problemas que nos pareciam tão importantes e agora temos que agradecer ao vírus o poder mostrar-nos o que realmente é importante. A enorme quantidade de automóveis que circulavam a toda a hora em todo o mundo, poluindo a atmosfera silenciosa sem que valorizássemos esse facto, o vírus veio lembrar-nos que afinal teremos de pensar seriamente em tudo isso. Pensar no planeta.
As guerras que, no mundo inteiro, destroem cidades, matam milhares de pessoas, desfalcam a economia dos países e as famílias, parecem agora problemas menores. Tudo parou. Ou quase. Esse medo da guerra, das bombas, das balas, das metralhadoras, é agora menor perante a ameaça de um assassino que se esconde dentro de nós próprios. É um medo diferente, mas o outro passou. Este medo novo tem o condão de nos unir mais, de unir a nossa comunidade, de nos ensinar a ajudar responsavelmente.
Há muito que se alertava para uma mudança do mundo. Sabíamos que que o mundo iria mudar. Não sabíamos como nem quando nem porquê. Era uma necessidade imperiosa.
Se fizermos um reward de memória, identificamos uma série de calamidades como os fogos que destruíram milhões de hectares de floresta na Austrália, no Brasil, em Portugal e das enxurradas que destruíram e mataram milhares de pessoas na Ásia. Sim, conseguimos lembrar-nos. Culpas? O homem destruiu tudo. Arruinou tudo e agora, depois do caos, o homem tem de aprender a construir tudo de novo.
Este vírus veio dar-nos a oportunidade de construir um mundo novo a partir do zero. Talvez custe agradecer ao assassino esse facto. A verdade é que ele está dentro de nós, entre nós e liga-nos tanto fisicamente como geneticamente. Destrói-nos, mas alerta-nos para o essencial. Mata-nos, mas obriga-nos a retorquir cientificamente. Temos de procurar a imunidade, mas não podemos esquecer as várias vertentes e perspectivas de lidar com o problema e isso depende de nós. Nós é que temos de escolher a melhor perspectiva e estar atentos a todas as outras.
O mundo está a mudar. Na realidade, o homem esteve sempre de sobreaviso para epidemias já que ao longo da História a sociedade mundial enfrentou pestes terríveis que dizimaram comunidades inteiras. É disso exemplo a Peste Negra que dizimou quase metade da população europeia no século XIV ou a Peste espanhola que há 100 anos matou milhões de pessoas em Espanha e na Europa. O mundo mudou? Não podemos ignorar o facto de alguma mudança ter acontecido. O mundo mudou, mas os tempos eram outros. Claro que sim. Hoje os problemas são diferentes e talvez mais graves e agressivos, quer para a sociedade, quer para o planeta. Afinal, estamos num mundo global.
Devemos pois, ter consciência do que há que fazer, que atitudes tomar e aprender com o que este vírus nos veio ensinar. Devemos agradecer-lhe por isso? Talvez, apesar das muitas mortes. Mas as outras guerras de que nos esquecemos, não matam muito mais?
A verdade é que o mundo jamais será o mesmo. Nada será como antes.