O crescimento exponencial do fabrico e uso de telemóveis e o crescente recurso à mobilidade elétrica veio aumentar a procura de elementos constitutivos das baterias, sobretudo os que lhes conferem durabilidade, aumento de capacidade e recuperação, bem como a possibilidade de cargas rápidas, como é o caso do lítio. Por isso é compreensível que a sua mineração aumente e que haja uma acrescida procura dos locais onde pode ser explorado. É essa a razão pela qual as serranias de Montalegre são agora cobiçadas por empresas e empresários que ali pretendem estabelecer unidades de extração mineral. Tudo bem, não fora a agressão ambiental que a abertura de enormes crateras a céu aberto vai causar, bem como a ofensiva ao justo e merecido bem-estar das populações ali residentes desde sempre. Argumentam, entre outras coisas, e com razão que tendo sido abandonados pelas forças vivas e poderosas, só são lembrados para lhes trazerem, não as verdadeiras melhorias de condições de vida, mas incómodos, poluição e transtornos válidos. Não só, é verdade, mas, segundo eles (e é a eles que compete avaliar o que lhes convém ou não), as melhorias que chegam não pagam nem compensam, minimamente as malfeitorias. Pois bem, se a vida moderna e o progresso das grandes urbes impõem o aumento brusco de novos materiais, que os procurem noutros locais ou, precisando dos que ali estão, o façam de outra maneira, respeitando a natureza e os naturais.
As frequentes crises financeiras têm vindo acrescentar valor ao ouro. É natural que apareçam candidatos à sua exploração em todos os cantos onde se suspeite possam existir reservas naturais. Os pressupostos são os mesmos.
Igualmente se poderia replicar o mesmo argumentário para o caso do ferro. Mas há, neste caso concreto, dois aspetos adicionais que não é possível ignorar, nem tão pouco minimizar. O primeiro e mais evidente é que a sua extração é mais agressiva, mais poluente e mais intrusiva para a vida dos cidadãos das suas redondezas; a segunda é a falta de racional que justifique o aumento da mineração, sobretudo a retoma onde fora fechada por causa da baixa rentabilidade.
Para melhor entender pesquisei várias publicações e relatórios da especialidade, em lado nenhum encontrei qualquer indício de crescimento da procura, atual ou futura. Mas há, como não podia deixar de haver, um aumento crescente do preço. Os especialistas apontam, como causa, não o aumento da procura, mas a diminuição da oferta... de um dos maiores produtores, a China... por causa de problemas ambientais!
Tempos houve em que muitos nordestinos procuravam os escuros e poluentes ambientes mineiros, para fugirem ao pão que o diabo amassou.
Tempos idos, felizmente.
Haverá quem entenda que o futuro se resolve com trocadilhos com as palavras que ache estranho possuir uma das maiores jazidas de ferro da Europa, sem a explorar.
Estranho, acho eu, é haver quem pense que o desenvolvimento das regiões de baixa densidade (seja ou não de alta intensidade, o que quer que se pretenda significar com isso!) passa por ter de comer o pão que o próprio diabo chinês se recusa já a amassar...
EXPLORAÇÃO MINEIRA: Porque sim ou porque não?
José Mário Leite