É tempo de Carnaval, de caretos e mascarados. Eles andam por aí. Eventos em cada esquina, pois é preciso mostrar que é tempo de Entrudo e que temos ainda a vontade de dizer que a tradição ainda cá mora. Pois claro.
Talvez porque a tal tradição chama gente e mesmo talvez porque a comer é que a gente se entende, não há evento deste género que não estejam presentes os membros do governo e dos partidos. Será porque comem de borla? Não me parece. Estes eventos são um espelho em que a comunicação social amplia a imagem muitas vezes e isso sim, vale a pena.
Há semanas, foi em Vinhais a Feira do Fumeiro, o chamariz de ministros e líderes da praça pública e eles compareceram. É tradição. Não será para abrilhantar o evento, pois isso fazem os salpicões, as chouriças e as alheiras. Esses sim são os ases do evento e é sobre eles que caem as luzes da ribalta. O que os ministros vêm fazer, não se entende muito bem, mas o certo é que vêm, convidados ou não. A comunicação social faz o resto.
Neste fim-de-semana, foram os diabos à solta, também em Vinhais, mas já não chamam ninguém importante, pois tratar com diabos não é nada fácil. Mas os diabos lá andaram à solta pelas ruas da vila, movimentando a localidade e as gentes que a isso se entregaram. Passearam e assustaram quem por ali estava, que a festa também é isso.
Em Bragança, neste fim-de-semana, também tivemos o desfile do Carnaval Careto e dos Mascarados que mostrou que a tradição cá, como em Espanha, ainda se mantem viva. Os caretos de Espanha marcaram presença uma vez mais, com toda a galhardia e contentamento. Foi interessante o longo desfile tão diverso como as culturas que o enformou. Aliás, em questões de caretos e mascarados, Portugal e Espanha são bastante parecidos, especialmente nas regiões fronteiriças. A História ensina-nos isso mesmo e nem mesmo as fronteiras que D. Dinis definiu, esmaeceram as realidades e o peso que os usos e costumes têm nestas gentes sempre longe do poder central.
Mas também esteve concorrida a Feira do Butelo e das Cascas, que chamou muita gente de fora, não só para ver como também para degustar e comprar. Estes eventos trouxeram a Bragança uma quantidade anormal de pessoas que talvez porque o tempo estava de feição, aproveitaram para um belíssimo passeio pela cidade. No Castelo queimou-se o Diabo ou o que quer que seja, para gaudio de quem subiu até ao cimo e passou as muralhas do belo castelo que temos, para assistir ao final do desfile Careto.
Com medo de se queimarem, os elementos do governo que resolveram fazer um Conselho de Ministros em Bragança, nada quiseram com os Caretos e com a queima, adiando por mais uns dias essa tão importante reunião. Admira não se quererem entrosar com os butelos e as cascas. Mas Marcelo, embora não se querendo disfarçar no meio dos caretos, não quis deixar passar o evento e foi aparecer em Podence onde os caretos são notícia nacional nos últimos tempos. No fundo, o que é preciso é aparecer.
Pois, nem o governo, nem o Presidente da República se alhearam dos butelos e das casulas, onde não se misturaram, nem dos caretos com quem não quiseram confraternizar directamente. Os diabos de Vinhais deixaram-nos à solta!
Quer queiramos, quer não, a verdade é que os ministros cheiram longe o aroma dos enchidos de Trás-os-Montes e logo correm a mostrar-se e a dizerem “presente” aos que os vêm passar. Penso que não ligam muito bem os ministros com os butelos e as cascas, mas podemos sempre dizer que alguns bem precisam de mudar de cascas, que é como quem diz, mudar de atitude e de aparência.
No fundo, uma coisa é certa: se for preciso fazer eventos onde os enchidos marcam pontos e os ministros aparecem, então façam-se os eventos. Pelo menos temos por cá nessa altura, os que nunca cá vêm. O interesse é que marca a hora!