As potências mundiais possuem hoje uma capacidade de intervenção, nos mais diversos domínios, espantosa e de uma eficácia inimaginável há algumas décadas atrás. Os líderes políticos, religiosos e económicos têm a capacidade de, num ápice, determinarem, condicionarem e até destruírem a forma de vida, de subsistência e bem-estar de milhões de pessoas. Uma decisão, mais ou menos pensada, mais ou menos orientada, de Mark Zuckerberg pode contribuir decisivamente para o futuro político (ou outro) de dirigentes, partidos e fações em todo o mundo; um capricho, mais ou menos conveniente quando a braços com graves acusações internas, de Donald Trump, facilmente implica a execução, sem julgamento nem possibilidade de defesa, de uma alta patente militar no Médio Oriente; uma birra, sem qualquer outra justificação, para lá da alimentação do seu enorme ego, de Kim Jong-un faz tremer os poderosos exércitos vizinhos; uma fátua emitida por um dos aiatolas iranianos chega para condenar críticos religiosos, políticos, meros comentadores, humoristas e ilustradores, semeando o pânico nas sociedades livres que os albergam e obrigando as unidades de combate ao terrorismo a trabalho reforçado e empenhado. Vivemos um tempo em que se concentram em indivíduos ou grupos dominantes, poderes imensos sobre a natureza, sociedades e cidadãos. E, contudo, um organismo primário, com uma estrutura constitutiva muito simples, invisível a olho nu e mesmo aos microscópios óticos, um vírus do tipo corona, agora batizado por Covid 19, ridiculariza todos esses poderes e capacidades, espalhando o terror por todo o mundo. Pelo simples facto de existir e de se multiplicar, tal como acontece com todos os seres vivos, colocou as principais potências mundiais em estado de alerta, rindo-se dos seus sofisticados sistemas de segurança e de defesa: a China está em estado de sítio, a América está receosa como nunca e titubeia ao tentar repatriar alguns compatriotas “presos” num cruzeiro no oriente e a Rússia fechou a fronteira com o seu imperial vizinho do sul. Curiosamente, perante a incapacidade da tecnologia moderna e super-sofisticada da actualidade, os líderes tecnológicos, económicos e científicos recorrem a técnicas e metodologias medievais: isolam cidades, colocam doentes e suspeitos em quarentena, esperam a produção natural (ou artificial, sendo este o “único” toque de modernidade) de anticorpos capazes de lhe dar réplica efetiva e eficaz. Por isso a atenção redobrada nos que conseguem sobreviver à infeção.
É neste campo que surge um aspeto misterioso deste micro-organismo: a aparente imunidade das crianças a esta pandemia. Nos casos pretéritos tudo se passava ao contrário. Em muitas epidemias verificava-se haver um grupo etário, que não era afetado pelos agentes patogénicos. A característica comum desse grupo era ter mais do que uma determinada idade. Isso tem uma explicação
científica: em determinada altura terá havido um surto de doença causado por um vírus da mesma família e as pessoas que, tendo sido infetadas e lhe sobreviveram, por ação das defesas naturais ou por causa de vacinação a que tenham sido sujeitas, acabaram por adquirir a imunidade que depois lhes servia para uma luta eficaz ao novo agente.
Inexplicavelmente, agora, acontece o contrário. São os humanos situados abaixo de uma determinada faixa que estão a ser preservados da infeção. Não se conhece justificação lógica para isso. Há de ser encontrada, assim esperamos, pois não pode ser por simples “capricho” do molestador microscópico oriental. Para já é apenas mais uma característica misteriosa deste estranho e mortífero vírus!