A guerra, a fome e a doença foram, desde os primórdios da história humana, as maiores ameaças à sobrevivência dos indivíduos e dos grupos onde se integravam. Foi a promessa de proteção contra elas, sobretudo a primeira que conferiu aos líderes históricos, o poder, reconhecido pelos seus pares.
A troco da segurança, a comunidade prestava vassalagem e pagava o respetivo trubuto ao chefe militar. Este mandou construir fortalezas para se proteger dos atacantes e ali dar igualmente, abrigo aos seus protegidos. A estratégia, tendo evoluído, ao longo dos séculos manteve, no essencial a estrutura consagrada e estruturada por Sun Tzu, no século IV AC no tratado “A Arte da Guerra” que, com mais ou menos variantes passava sempre pelo confronto direto com o agressor/invasor. Por muito importante que fosse a conquista a defesa foi sempre a principal preocupação pois era dela e da sua garantia que dependia, em última análise, a sustentabilidade dos exércitos. A proteção passou inicialmente pela construção de paliçadas, muralhas, cidades fortificadas, navios couraçados, fronteiras eletrificadas, escudos de defesa, antí-mísseis e... estamos no dealbar da guerra cibernética. Recentemente um general iraniano foi morto por um drone teleguiado. Contudo, a principal guerra, a vital batalha defensiva trava-se no ciberespaço, nos bunkers tecnológicos das Agências Nacionais de Informação. As guerras mundiais deixaram de acontecer, até agora, não pela diminuição dos equipamentos bélicos, não pela menorização dos exércitos e muito menos pela índole pacifista dos generais. Não há mais guerras à escala planetária porque, diariamente, constantemente, estão a ser monitorizados, vigiados, anulados e eliminados, preventivamente milhares de agentes bélicos e das suas continuadas ações.
O mesmo se passou com a saúde. Os combates às doenças têm, tal como outras atividades humanas, seguido caminhos paralelos aos da atividade marcial. O ataque aos agentes patogénicos, dificultado pela sua característica microscópica, dando-lhe por isso uma vantagem natural superior à dos exércitos tradicionais. As pandemias (guerras mundiais desta espécie) eram combatidas com quarentenas, isolamento de cidades, bandeiras negras demarcadoras e refúgio em zonas “limpas”. A evolução veio com o reconhecimento individual e científico do inimigo e com o uso da arma letal: os antibióticos; e muitas medidas preventivas: as vacinas. Contudo, ao contrário da outra, que nos últimos tempos se foca em eliminações cirúrgicas dos inimigos mais poderosos e mais perigosos, o uso maciço de antibióticos dedicou-se a eliminações indiscriminadas de todos os agentes patogénicos, logo, abatendo de imediato, os mais frágeis. Os que resistiram (cumprindo uma quota estatística, mesmo que pequena) foram sem dúvida, os mais fortes resultando portanto num reforço exponencial do inimigo! Por outro lado a globalização veio eliminar barreiras proporcionando viagens universais e gratuitas: os vírus não têm passaportes nem pagam bilhetes. E, ao contrário dos exércitos modernos, são democráticos: não escolhem as suas vítimas. Para complicar não reconhecem nem se detêm perante fronteiras, bunkers ou outros “esconderijos”. As poderosas lideranças dos tempos modernos não atemorizam os microscópicos vírus e bactérias que evoluem, continuamente, se reproduzem eficazmente e se disseminam rapidamente. Os custos em vidas e em recursos económicos e financeiros crescem exponencialmente e só tenderão a agudizar-se.
Tal como na guerra clássica, é necessário mudar radicalmente, o paradigma. Mais do que a proteção das pessoas que os mantêm, o que os ricos e poderosos têm em mãos, é a sua própria proteção. E, perante os riscos da ação curativa e da despesa associada ao combate às crescentes e frequentes pandemias, só se antevê uma atuação consequente e racional – apostar tudo na prevenção e no combate precoce. Para isso só se antevê uma solução: a implementação do Serviço Mundial de Saúde, eficaz, global, acessível e gratuito.