Quando Emanuel Macron, na reunião do G7, em Biarritz, veio aler-
tar para a necessidade premente e urgente de cumprir integralmente o Acordo de Paris contrapondo o negro cenário da Amazónia, em chamas, e, à exceção do tosco Bolsonaro, o mundo ouviu e calou. Com alguns remoques, aqui e ali, coisa de pouca monta, mas sempre e apenas sobre o conteúdo do recado.
Em Nova Iorque, na cimeira do clima, Greta Thunberg, do alto da autoridade inquestionável dos seus dezasseis anos, repletos de sonhos e de sérias e graves preocupações, falou aos dirigentes mundiais, com emoção, raiva e determinação sobre a necessidade de passar das palavras aos atos. Caiu o Carmo e a Trindade. E, curiosamente, apesar de apresentado como extremista e irrealista, mais do que o discurso foi a sua autora, alvo de fortes críticas, ataques e invetivas. O clássico! Quando a mensagem é desagradável, mas difícil de combater, ataca-se o mensageiro. Tudo serviu para arremessar à jovem sueca. Até a própria pegada ecológica da sua viagem à sede das Nações Unidas foi questionada por quantos que nunca se ouviram a criticar as controversas viagens, em jato particular, para divulgar missiva semelhante.
Não sou adepto de extremismos e, em termos ambientais, tal como em muitas outras áreas, soluções drásticas trazem consigo, muitos riscos e efeitos colaterais a que é necessário dar a devida atenção. Mas respeito, admiro e reclamo a existência de teorias extremistas, que, se outro mérito não tivessem, serviriam para equilibrar o extremismo oposto em que estamos, infelizmente, mergulhados.
Independentemente do apuramento das reais causas e das soluções apropriadas há duas premissas inquestionáveis: o aquecimento global é uma realidade e é necessário minorar, travar e reverter a sua dramática evolução.
É bem provável que sejam necessárias ações drásticas e de grande impacto. O problema, mais do que a necessária ponderação por causa dos possíveis efeitos secundários, advém de poderem servir de desculpa para adiar ou evitar ações supostamente mais comezinhas e de menor efeito. Nesta altura todas as ações contam, todas são válidas, todas são necessárias. Mesmo que questionáveis ou criticáveis!
Bem andou, portanto, a
Fundação Calouste Gulbenkian. Mais do que a venda da Partex, entre outras ações, a mais importante ação pró-ambiental desta reconhecida instituição é a deslocalização do seu Instituto Gulbenkian de Ciência.
O edifício do IGC foi construído há mais de meio século em leito de cheia da Ribeira da Lage e, nos tempos correntes, transpira desperdício energético por todos os lados.
Em abono da verdade tem de se dizer que, quando foi instalado em Oeiras, a racionalização energética não era assunto e a cheia provável era centenária. Contudo, estudos científicos (e, falando do IGC, tudo o que diga respeito a ciência tem um valor acrescido) demonstram que se reduziu, drasticamente, o período dos fenómenos ambientais extremos. Algo que ocorria de cem em cem anos agora é de esperar que aconteça de dez em dez. Acresce que para haver inundações nas instalações da rua da Quinta Grande, basta que ocorram, em simultâneo cheias no leito da ribeira e marés vivas no mar, ali perto. Ora não só estas últimas são mais frequentes como, para que a ribeira transborde, basta ocorrer uma chuvada pouco maior que o normal, por causa da grande impermeabilização dos solos provocada pela excessiva edificação das encostas laterais, a partir de Sintra.
A mudança para Algés, para além da facilitação da cooperação com as instituições vizinhas (Champalimaud e Ipimar) vai dotar o IGC de instalações ecológicas com capacidade efetiva de garantir a segurança ambiental quer dos produtos com risco biológico, usados nos laboratórios, quer da contaminação de predadores, usados como modelos.