O burro e o cigano

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Recentemente, neste mesmo jornal, escrevi que o PAN ainda não se tinha alcandorado ao Olimpo partidário português. Implicitamente fazia votos para que tal não acontecesse ou, a acontecer, fosse um caminho estreito e longo. Nada disso. Aprendeu rapidamente e ei-lo a dar cartas no “politicamente correto” como qualquer um dos alunos mais velhos da turma. 
Na Assembleia Municipal da Moita uma deputada deste partido teria apresentado uma moção a denunciar os maus tratos a que alguns animais da vila eram sujeitos. Pelos vistos a situação era lamentável e efetivamente muito penalizante para alguns equídeos “subnutridos, espancados a desfazerem-se em diarreias por não serem abeberados e alimentados sequer e que por vezes caem na via pública, não suportando mais...”
Na sequência desta “afronta” a deputada foi apupada, criticada e acusada por outros deputados e dessa acusação resultou a sua demissão, “forçada” pela Direção Nacional do PAN. Porque o que relatava era mentira? Não. Nada do que se sabe e apurou aflorou qualquer “desonestidade” de relato da eleita. Porque os demais deputados e a direção do partido por que foi eleita discordam da condenação aos conhecidos maus tratos? Também não. Muito pelo contrário. O crime da deputada foi ter identificado os presumíveis autores das ações denunciadas. Porque não é justo acusar os humanos que penalizam e molestam os animais? Ainda não. A única razão pela qual Fátima Dâmaso foi excluída e “crucificada” foi porque, ao que parece, os autores das atrocidades pertenciam a uma etnia minoritária e denunciar o que quer que seja que lhes esteja associado, pasme-se, é discriminação inaceitável, é xenofobia! 
Ou seja: maltratar animais, infligir-lhes sofrimento, molestá-los, atormentá-los é inaceitável, criminoso e recriminável... exceto se tais atrocidades forem cometidas por uma minoria!?
E isto, em nome do combate à xenofobia e à discriminação. Pois bem, tais comportamentos não defendem quem apregoam fazê-lo, muito pelo contrário são grandes e poderosos argumentos na boca dos atuais líderes de extrema-direita racista e chauvinista. São precisamente estas atitudes, este inimaginável argumentário que permite que os inimigos da democracia, da paz e da sã convivência entre povos e grupos culturais diferentes clamem: “vejam, como alguns apenas têm direitos e ficam isentos até dos deveres básicos que nos são exigidos e de cujo incumprimento somos severamente penalizados ao contrário deles a quem tudo é permitido. Só por serem quem são já tudo lhes é permitido, perdoado e quem combate tal injustiça é penalizado e ostracizado!”
Os maus tratos a animais são condenáveis, independentemente dos seus autores. Tolerar qualquer ação censurável, em abstrato, em nome da inclusão é o pior contributo para essa mesma inclusão! 
Incluir é tratar com equidade e igualdade. E isso compreende não só a aceitação de tudo o que é, genericamente, aceitável mas, também e, obviamente, a censura em tudo o que seja censurável! 
Sem qualquer exceção!

José Mário Leite